No dia 1 de dezembro de 2021, pelas 18 horas, no CAE (Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz), realizou-se o musical intitulado AMÁLIA DONA DE SI – O MUSICAL. Cheio como um ovo (como se dizia no meu tempo de juventude!), a lembrar um espetáculo arrebatador com Amália ao vivo, tive oportunidade de assistir a uma representação inovadora e multifacetada, cheia e intensa como foi a vida da cantadeira exímia, com metamorfoses de cinema, teatro de revista, folclore, dança e canto, muita luz e silêncios necessários, a amalgamarem-se num tributo à “Rainha do fado”. O espetáculo, no seu “ser”, contou com o ator Diogo Carvalho, o homem da ideia e interpretação; uma “marionete” (será assim que se chama?) de Amália em tamanho real, com uma cara magnificamente figurada, acompanhada a um ritmo cadenciado ou agitado pelo Diogo e três músicos – Pedro Ferreira no piano, Filipe Ferreira no contrabaixo e Ricardo Silva na guitarra portuguesa (professores da Academia de Música de Coimbra). Uma das particularidades deste musical, é o facto de ter música luzente, cadenciada de forma excelente ao vivo e momentos em que o ator Diogo canta “em dueto” com a voz de Amália.
Lá vou eu, um “coimbrinha”, falar mal de ti ó Coimbra. Pergunto: Porque não foi o espetáculo estreado aqui na terra dita dos “doutores”? O autarca anterior, responsável pelo departamento de cultura, desculpou-se ao realizador da obra de forma acultural, porventura por estas palavras: “os espetáculos sobre a diva Amália já se repetem muito!” Quando alguém, apelidada «génio», já não merece ter a sua obra repita, é o mesmo que dizer, «Ó» Camões não te digam mais… há, há, há!!! Por aqui me fico. Ponto.
O título do espetáculo, só por si, levar-nos-à a lugares que guardamos de Amália na memória para sempre. São relíquias de uma existência, da minha existência, que o tempo não apaga nem abate, ainda que a realidade possa mudar. Às vezes, regressamos aos sítios onde as recordações já são difusas, onde aconteceu qualquer coisa em que não tivemos a perceção da sua importância, com certeza foi o caso de Amália para muitos, para mim porventura. Isso é possível quando não temos idade para compreendermos o passado. Gosto de voltar ao antigo, eu, já sou antigo (leio muito o futuro), deixo-me levar, pelo meu dever ético e cívico, impondo-me estar ali com aqueles que fazem parte de uma história comum. Se Amália era Dona de si, era ela e ela mesmo. Então, iria assistir a um notável exemplo de museologia musical e outro. Na verdade fui. Mas os tempos já foram e são outros, o que explica a sensação especial, especial de recuperar, de recuperar ou rever o essencial desaparecido do real.
Hoje tomamos por garantido que a nossa vida estará bem documentada. Nada menos verdadeiro, os tempos já foram outros, o que explica a sensação especial, muito especial, de recuperar objetos substanciais desaparecidos. Daqui interesse, pois, por estes espetáculos. É que tudo acaba e começa no corpo.
Tudo acaba e começa no corpo. É isto que leva os artistas, jovens artistas inovadores, como o Diogo, a ter ideias e interpretar o começo e o final dos ídolos, os tais inteligentemente imperiais na música, na arte, no canto.
O espetáculo impressionou de tal maneira o presidente da Fundação Amália, Vicente Rodrigues, que transmitiu ao Diogo como foram superadas as suas expectativas.
“…Somos de opinião que o mesmo terá todas as condições para “viajar” em 2022 e envidaremos todos os esforços para que tal aconteça. Poderemos agendar uma reunião com a Casa do Artista para aferir da possibilidade de fazer um espetáculo no Teatro Armando Cortez, além doutros locais que nos pareçam viáveis.”
“… Amália Dona de Si – Um Musical, é uma maneira de os portugueses recordarem não só a Amália artista como a Amália mulher, matando saudades da sua voz, presente no espetáculo, e da sua eterna figura que nos alegra e fascina com a sua vivência, energia e sentido de humor. É com muito orgulho que a Fundação Amália Rodrigues apoia este espetáculo, que é uma digna homenagem à Voz de Portugal e que irá, certamente, maravilhar o povo português de norte a sul do país.”
Para terminar é nossa obrigação sublinhar alguns dos intervenientes da peça, personagens imprescindíveis. Como é natural, nunca será possível falar de todos. Pedimos desculpa aos não aludidos, nunca desprezando a sua enorme participação e virtualidade.
Realização da ideia e interpretação – Diogo Carvalho. Encenação e Dramatologia – Jaime Monsanto. Letra final – Ana Camacho. Musical final – músicos excecionais, já acima referidos. A voz de António Sala a dar comunicação insubstituível ao espetáculo. Bailarinas, algumas de 13 anos (espanto!!!, com quem falei e ouvi do entusiasmo de bailar), do Conservatório de Dança de Vila Nova de Famalicão. A sonoplastia, desenho de luz, vídeo e imagem, executados por personagens sabedoras. Deixo para o final, com a minha devida vénia, todas e todos os que com as mãos mágicas executaram figurinos, o rosto de Amália, fotografia, vídeo, design, maquilhagem, profissionais inigualáveis.
Venham ver este conjunto de jovens, que muitas vezes são tratados como trapos velhos. Pelo contrário, possuem virtudes de encantar.
Obrigado por me terem ofertado tanta magia.