Dois livros acabo de ler, muito interessantes, que se compaginam e complementam. Tratam as doenças ditas, dos nossos dias: ansiedade, stress, depressão e, por acréscimo, a solidão.
Um deles, deu ao prelo com o título «300 Mil Anos de Ansiedade», cujo autor é Gustavo Jesus. Neste livro, o autor explica-nos porque ainda hoje temos stress, ansiedade, depressão. No outro, Eduardo Paz Ferreira, sob o titulo «Devo Fechar a Porta?», apresenta uma biografia rara e interessante que enquadra o tema do idadismo e das pressões sobre os mais velhos e, afirma mesmo, “…que uma sociedade que despreza a sabedoria, inteligência e capacidade de reflexão dos seus membros mais idosos é uma sociedade diminuída.” Ambos contextualizam problemas e doenças dos nossos dias, transportando elas próprias, directa ou indirectamente, a tão propalada solidão.
A abordagem da solidão é difícil já que o seu processo interpretativo é complexo, cruzando-se com a organização da sociedade e todos os factores desestruturantes que ela comporta.
A solidão tornou-se, particularmente, dominante nos tempos modernos e por todo o lado. Por exemplo, um estudo de 2006 da revista American Sociological Review, descobriu que os habitantes dos EUA têm, em média, dois amigos próximos com quem trocam confidências, abaixo da média de três encontrada numa pesquisa similar em 1985. A percentagem de pessoas que declararam não ter amigos, «ditos do peito», cresceu de 10 para quase 25%, sendo que 19% confidenciaram ter somente um único amigo (geralmente o cônjuge). Números assustadores.
Mas será que a solidão é tão penosa assim? Incontrolável?
Calma, há quem nos alivie um pouco mais a consciência.
Alguns especialistas alertam-nos de que solidão não significa sempre uma situação dolorosa de estar desacompanhado. Muitas pessoas passam por momentos em que se encontram sozinhas, seja por força das circunstâncias ou por escolha própria. Estar sozinho pode ser uma experiência positiva, e pode trazer alívio emocional, desde que esteja sob controlo do indivíduo. A solidão não requer sempre a falta de outras pessoas e, muitas vezes, é sentida mesmo em lugares densamente ocupados.
Em reforço do que acabámos de escrever, temos a escola existencialista que vê a solidão como natureza do ser humano. Os seus defensores, têm a convicção de que cada pessoa vem ao mundo só, atravessa a vida como um ser individualizado, e, no final, morre novamente só, cada vez mais só. Aceitar o facto e aprender a lidar com ele, é, segundo eles, da condição humana. Alguns filósofos, como Jean-Paul Sartre, acreditaram numa solidão «epistêmica», como parte fundamental da condição humana, «por causa do paradoxo entre o desejo consciente do homem de encontrar um significado dentro do isolamento e do vazio do universo».
Entretanto, para adensar a discussão, outros existencialistas pensam o oposto: os indivíduos precisam de interagir, ativamente, uns com os outros e formar o universo.
Estas teorias deixam-nos mais aliviados? Não. Numa próxima oportunidade veremos o seu porquê e que outras solidões existem, bem dolorosas, por vezes mortais.