Nos finais de Julho visitei uma Vila com história: Cabanas de Viriato. Nesta bonita terra encontra-se o museu Aristides Sousa Pereira, uma obra que nasceu da reconstrução da Casa do Passal, já em ruínas fundas, pertença de Aristides e de sua família.
Durante décadas o edifício que havia sido majestoso, esteve ao abandono e num estado de ruína calamitosa, na sequencia da difícil situação económica que Aristides enfrentou nos últimos anos de vida, em consequência da perseguição que Salazar e o seu Estado Novo lhe moveu. No século XXI foi readquirida e restaurada, estando classificada como monumento nacional.
Este museu que me deu prazer visitar, vem acrescentar saber, a meu ver, a um outro repositório histórico, – O Memorial Aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes (em Vilar Formoso), – pois patenteia, através dos seus espaços bem arquitectados e articulados, as múltiplas dimensões da história de um homem, que enquanto cônsul de Portugal em Bordéus foi responsável, segundo Yehuda Bauer (veja-se folheto distribuído), por uma das maiores acções de salvamento individuais durante a II Guerra Mundial.
Na realidade, a partir de 1933 com a discriminação e perseguição racial conduzida pelo Terceiro Reich na Alemanha, a situação de milhares de refugiados torna-se um problema para a Europa. Perante o aumento do seu número, muitos países responderam com medidas restritivas, e por vezes políticas anti-semitas, em relação a entrada e permanência de estrangeiros. Portugal não foi excepção.
Com o avanço dos alemães sobre a França a coacção sobre os consulados portugueses aumentou significativamente. Era difícil abandonar o território francês.
Nunca se saberá ao certo quantos vistos de salvação Aristides terá assinado nas ruas, no carro, na fronteira, nos gabinetes, desacatando as ordens do governo português, – isso lhe acarretou a sua aposentação compulsiva e a sua vida final de quase miséria.
Quantos homens e mulheres conseguiram sobreviver à perseguição nazi graças aos vistos passados por este homem bom? Quantos seres humanos se livraram do tormento do holocausto e dos campos de concentração de morte e martírio? Tantos.
Muitos destes pesadelos de fuga e de reencontro com novas vidas difíceis, perpassa pelas salas deste museu em cada objecto e testemunhos.
O visitante é também colocado perante a indomável luta pela justiça travada em vida por Aristides. Homem Grande que temos a obrigação de preitear, reabilitar e a sua memória comemorar. Sempre.
Que este museu no seu todo, o auditório, anfiteatro de ar livre, centro de documentação, salas de leitura, jardim circundante, sirvam como lugares de estudo, reflexão, investigação.
Observação Importante
Tive acesso através da minha filha Ana, a um livrinho com cerca de 20 páginas escrito por Ana Cristina Luz e ilustrado por António de Moncada Sousa Mendes. Um livro para crianças. Um livro bonito, expressivo, cativante. Tem pinceladas de criatividade que baste. Linguagem escorreita e própria para meninas e meninos. Sinaliza os valores que Aristides legou às gerações vindouras, mostra como se quebra o individualismo e se constrói a solidariedade nunca olvidada, sempre praticada.
Por tudo isto, resolvi começar este artigo com a capa do livro.
Parabéns aos autores. Estou certo de que qualquer criança o vai ler com interesse e não vai esquecer os exemplos nele plasmados.
Vamos divulgar. Os autores merecem.