18 de Maio de 2025 | Coimbra
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António Inácio Nogueira

TESTEMUNHOS Açores Arquipélago, Açores Aldeia, Quão Longe Estais

4 de Julho 2024

TESTEMUNHOS

 

Açores Arquipélago, Açores Aldeia, Quão Longe Estais, Quão Perto Sois!

 

Como se pode reconhecer no meu último artigo, sou apaixonado por tudo o que diga respeito à toponímia das terras e lugares e à etimologia das palavras que lhe correspondem. Neste contexto, veio-me à ideia a possibilidade da aldeia beirã de Açores, que bem conheço, de onde era natural a minha avó Jacinta, e a exuberante, viçosa e bonita Região Autónoma dos Açores (que muitas vezes designo, simplificadamente, por Arquipélago dos Açores) desfrutarem de interacção histórica e toponímica. A ser assim, qual delas influenciou o nome da outra e porquê? À partida, seríamos levados a pensar que o Arquipélago dos Açores teria, de algum modo, fornecido o nome à pequena aldeia do Conselho de Celorico da Beira. Será mesmo assim? Vejamos.

Situada num vale a cerca de dez quilómetros de Celorico da Beira fica a aldeia de Açores. Esta povoação, que teria sido romanizada, possui um antigo castro, sendo provável a actual localidade ter sido edificada a partir deste monumento, expandindo-se, posteriormente, em seu redor. Em tempos idos foi sede de um Episcopado Visigótico, e empunhou o importante estatuto de Vila. Durante séculos foi local de peregrinação e culto a Nossa Senhora do Açor e ao Divino Espírito Santo (das maiores festas do distrito da Guarda).

De reis a mendigos, todos se rendiam à Senhora a quem foram atribuídos diversos milagres, No seu Santuário encontra-se o túmulo de uma princesa de seu nome Suintiliuba, falecida no ano de 666d.C. Era filha de um rei visigótico que ali se deslocou em peregrinação para suplicar um milagre a favor da sua progenitora gravemente enferma. Acha-se, na igreja desta aldeia, uma pedra que mostrava ser de sepultura, e aí se descortina o seguinte: Requievit formula Xpi in pace Suinthiliuba sub mense Novembris Era DCCIIII

Outros reis lhe fizeram visitas, mais tarde: D. Fernando e D. João I de Castela, por exemplo.

Açores foi terra importante, por isso teve direito a Carta de Privilégios para os seus moradores. Foi doada a Fernando Coutinho por D.Afonso V. Teve diversos administradores e senhorios, sendo de realçar António do Rego Sanches de Albuquerque e Bernardo da Costa Faguntes. Possuía mosteiro, no século VII, o dos eremitas de Santo Agostinho; tinha pelourinho e forca; continha património edificado valioso, onde pontificavam pedras de armas de famílias prestigiadas: Cabrais, Cerveiras, Pintos, Albuquerques, Maldonados, Freires, Andrades, Cunhas, Silvas, Sanches, Castelos Branco e Correias.

Nossa Senhora dos Açores (ou Açor?) é a centralidade desta distinta terra A minha avó, contou-me um dos inúmeros milagres da Santa: – o milagre do Pajem.

“Certo dia, um rei cristão que veio de longe em peregrinação à Senhora do Açor, fazia-se acompanhar por um pajem que segurava, numa das mãos, um açor destinado à caça de altanaria. O pobre pajem distraiu-se, e a ave fugiu. O rei irritou-se com o sucedido, e sentenciou que lhe fosse cortado o braço. O pajem vendo-se aflito rezou à Senhora. No fim da oração o açor veio de novo pousar milagrosamente no seu braço, e já não foi mutilado.”

À Senhora dos Açores [ou do Açor] muito milagrosa, não admira as várias romagens de muitos lugares e vilas distantes com seus termos, em satisfação dos votos que fizeram, pelas mercês que de Deus haviam alcançado. Havia festejos, procissões, missas e ofertas de grande significado regional e nacional.

Tudo muito vago e impreciso. No entanto, a aldeia de Açores, onde nasceu a minha avó mais querida, tem mantido um papel importante nas investigações já feitas e a encetar para encontrar a origem histórica do nome para o Arquipélago. (veja-se Wikipédia, livro do autor No Colo da Memória Se Escreveu Amoreiras do Mondego, passagem de Martim Behaim, Gaspar Frutuoso, autor da obra Saudades da Terra).


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