Sombras
Pairam sombras negras à nossa volta, em muitas áreas, que desgastam profundamente os cidadãos.
Situações que nos conduzem ao caos.
Algumas imparáveis, pelo contexto geral. Outras, talvez evitáveis.
Só sei que a dor. A revolta. A surpresa. A decadência e até, infelizmente, algumas vezes, a arrogância, desleixo e outras posturas que se observam, fazem sofrer os que sem voz, impotentes, tudo têm que suportar!
Em 1964, fui trabalhar na secretaria dos Hospitais da Universidade de Coimbra e continuar os meus estudos na Universidade.
Nos HUC, éramos uma guarde Família, amigos e solidários.
Num espírito fraterno. Esforçados. Unidos, para servir o melhor possível.
Posso testemunhar e todos que aí prestaram serviço, que assim era!
O tempo foi avançando.
Segui por outros caminhos, mas a Saúde é necessária a todos.
A minha Mãe aí foi seguida, por clínicos dedicados.
Recordo me que o Sr. Dr. Rui Martins, nessa altura um jovem, era o seu cardiologista, que sempre a acolheu, com saber, atenção e carinho.
Meu Pai era seguido nos Covões, por um clínico cardiologista, indiano, que lhe prestava todas as atenções e cuidados, transmitindo segurança, num acolhimento dedicado. Respeitoso.
Por essa razão, aí também, um excelente médico em saber e valor humano, o Sr. Dr. Ubach Ferrão me ajudou, em cardiologia.
Aí também conheci um jovem clínico, atento, de trato delicado e suave, carinhoso, o Sr. Dr António Queimadela Baptista. Marcava todos os que dele recebiam serviços e por isso lhe estarei sempre grata.
E como estes médicos, a Sr.ª Dr.ª Gabriela Figo, o Sr. Dr. Moutinho, o Sr. Dr. Eduardo Castro, a extremosa, atenta e sabedora cardiologista, a Dr.ª Maria do Carmo Cachulo que me tem valido nas aflições – urgências e consultas, e me devolve segurança, bem-estar, compreensão, numa atmosfera calma de grande atenção e carinho, coisa que não tem acontecido, quando tenho necessitado de ajuda noutros lados.
E por que razão então, eu e muitas outras pessoas, escolhem ser atendidas no Hospital dos Covões?
É que não é o edifício ou outras aparências, que fazem um bom hospital de qualidade, a favor dos doentes. É muito mais subtil e profundo.
O espírito de serviço. O saber. O ambiente amistoso. A qualidade humana contagiante entre todos os servidores, o acolhimento na aflição, é que fazem toda a diferença!
Um dia, foi construído um grande Hospital.
Os antigos trabalhadores dos HUC foram-se perdendo…
O antigo edifício era exíguo, para o atendimento a uma população que se alargava.
Construiu-se um grande Hospital. Mas perdeu-se o essencial: a alma deste antigo HOSPITAL!
Agora, paredes baixas, corredores anónimos e cheios de dor, onde só daí se entrar, perdidos, no desconforto íntimo, nos falta o ar.
Ambiente? Já não há!
Solidariedade entre os servidores, pelo que sabemos, também não há.
Anda no ar alguma arrogância dos saberes. Do poder da vida na mão do outro, que por vezes tudo sabe e nem ouve a opinião do paciente, por isto, ou por aquilo, porque só tem 15 minutos para atender um doente numa consulta (começa a contar, desde que chama o doente, mesmo que o paciente não possa andar…) o mesmo para o doente seguinte, nesta corrida enervante.
Compaixão, também não a vi por lá…
Aliás, para ir àquele hospital é preciso muita coragem e muita saúde, senão não se resiste.
Filas intermináveis. Salas abafadas, onde não se pode respirar. Por vezes, sem lugar para sentar. Sem lugar para se estacionar, para quem tem dificuldade em se deslocar, sozinho, doente, idoso, sem meios para pagar sempre um táxi…
Já aí me senti mal, mais do que uma vez.
A afluência é grande. As pessoas apressadas. Sentindo-se desprotegidas, perdidos na multidão. No fim de uma manhã inteira de espera (alguns levantam-se de madrugada, vindas de longe ou por dificuldades várias), a impaciência e arrogância do pessoal. Pressas e indiferença, por vezes, doem demais.
Não queremos lá voltar, com medos de tanta agressão e até ralhos.
Isso aconteceu-me… Caí. Tive que fazer um exame. Fiquei deitada na maca. Estava aflita. Pedi ajuda que tardava e berros não faltaram…
Não queremos lá ir. Um dia na urgência, esperei toda a noite!
Outra vez, na triagem, a senhora que me atendeu, mais parecia um guarda da Gestapo.
Eu ia com taquicardia, etc. Tive tanto medo dela que desisti da consulta. Vim-me embora. Morrer por morrer, mais valia morrer em paz, sem uma tal agressividade e indiferença ao meu sofrimento.
Assim sendo, fui ao Hospital dos Covões!
Aí, desde o porteiro, pessoal de secretaria, auxiliares e médicos, todo o pessoal dos serviços de exames complementares, me atenderam com delicadeza, saber, atenção e carinho, o que na aflição, qualquer ser humano necessita. Grata, não posso calar!
Por mais que uma vez, acabei por ir aquele Hospital dos Covões, onde me senti acolhida e cuidada, com toda a atenção, coisa que não posso dizer, que tenha acontecido antes, nos HUC, onde o medo nos adoece mais do que os achaques, que aí nos conduzem!
Perante o meu testemunho e de muitos outros utentes, por que razão teimam, em nos atirar a este sofrimento, ainda em juízo perfeito e mesmo depois ?
Por que fechar um HOSPITAL de qualidade, que todos que dele beneficiam, testemunham e preferem e têm direito, ao pagarem os seus impostos, sendo-lhes assim devidos serviços de saúde??????
Se nos HUC, se desculpam, por tudo o que são dores e queixas de quem o procura, dizendo que “aí vai ter tudo” e que fecharam outros hospitais e que não têm capacidade para tanto?!
Por que é que o Hospital do Covões, que preferimos, pelo espírito que aí se vive… Pela atitude e acolhimento e a qualidade de serviços, faz tanta sombra?!
As despesas serão sempre as mesmas…
Como compreender então, as sombras e ameaças de extinção do Hospital, onde o Povo se sente acolhido e bem tratado?
Será que tem poder de decisão sobre esta matéria, quem foi eleito, em quem confiamos, foi para SERVIR e ouvir a voz dos utentes e eleitores, ou foi para quê?
Será que todos nos esforçamos para o maior bem de todos
Ficamos atónitos! Não se percebe que forças querem silenciar. Fechar. Dominar, gente amada. Boa. Dedicada, em missão, num espírito de serviço.
Será por serem diferentes perante o que se sente e vive, quando somos obrigados a ir aonde não queremos, a um grande de hospital, onde o sofrimento se mistura a todos os cansaços e se avoluma, cada dia que passa?
Só pensar que um dia aí nos poderão conduzir, contra a nossa vontade, nos tiram o sono e causa mal-estar!
Não percebemos, quando nos dizem que as estruturas dos HUC estão a abarrotar e teimam em querer acabar com o amado Hospital dos Covões, em Coimbra, ao qual o Sr. Dr. Bissaya Barreto deu carinho e visão alargada, num local e um tempo, em que a pessoa era tratada, com respeito e atenção.
Não se percebe, por que não se há-de descongestionar o HUC!
Aproveitar o que de alta qualidade comprovada, serve a população que prefere e escolhe um lugar onde é bem acolhida e bem tratada?!
Os clínicos que deram toda a sua vida naquele hospital estão em agonia, pois sempre serviram com dedicação no seu melhor, e agora veem-se despejados, sem saber a razão!
Os pacientes estão morrendo de desgosto, por terem de ser atirados para a confusão sem saber por quê…
Esmagados, ao ver a sua saúde. Paz e bem-estar ficarem na mão de quem nos obriga ao que não queremos.
Não haver liberdade de escolha, também espanta!
O que será que está por detrás de tudo isto!
Sacrificar o propósito, o fim ideal, para que existe um Hospital – criar saúde e bem-estar para quem precisa – em nome de quê?
SOMBRAS?… Nada mais!
Por uma questão de justiça, ressalvo aqui todos os Clínicos e restante pessoal que, no meio de dificuldades, ainda conservam o amor, a bondade, o respeito pelo sofrimento do próximo, esse ideal de bem servir, sem ganância, nem arrogância, pois nos HUC, isso também se descobre, de vez em quando!
A todos esses seres humanos de grande qualidade, a nossa gratidão. Consideração e alto apreço!
Pena é que ainda seja uma minoria…