19 de Março de 2025 | Coimbra
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António Inácio Nogueira

Silêncio Cúmplice

7 de Fevereiro 2025

Se há dia comemorativo e «memorativo» que é imagem do que de pior os homens e mulheres podem fazer, e que deveria ser relembrado e pedagogicamente tratado em todos os lugares, esse dia é o «Dia Internacional da Lembrança do Holocausto» (dia 27 de Janeiro, pela resolução 60/7, de 1 de Dezembro de 2005, da Assembleia Geral das Nações Unidas).

Foram assinalados 80 anos da libertação de Auschwitz, diga-se, sem a visibilidade que o acontecimento requeria, numa época enxameada de guerras, com fracos lideres políticos europeus e mundiais, um «trampismo» e um «putinismo» que talham um quadro em que os Direitos Humanos, em tantos aspectos e locais geográficos, parecem perder consideração e consequência. Teria sido relevante, repito, ter olhado para estas más memórias, de forma aprofundada, didacticamente pronunciada, granjeando olhares críticos e indignados, para esses momentos de terror.

De facto, nada melhor do que buscar o Holocausto para ver como somos bons a matar, como somos eficazes na carnificina, como somos capazes das maiores crueldades em nome de ideias e de modelos.

E o passado está à nossa beira. Está ali, muito próximo, ao virar da esquina, possivelmente ainda nos corre nas veias, tomando conta do nosso corpo e mente. Em qualquer momento, despoletado por um qualquer discurso xenófobo ou intolerante, por populismos acérrimos, eis-nos de volta.

Vertamos para a nossa consciência, o que se passa na Palestina, na Ucrânia, no Sudão, no Congo, em tantas outras partes do globo, às mãos de criminosos ou grupos terroristas ou a mando de estados ditos democráticos ou autocracias violentas. Mortos aos milhares e destruições impensáveis. E nós? Nós, como dizia o Papa Francisco, estamos em «silêncio cúmplice».

O que mais me aflige em todo este quadro, seja o actual, seja o do Holocausto Nazi, é esse dito “silêncio cúmplice”. Deixamos acontecer, não saindo do nosso lugar de conforto, negando a mais elementar fraternidade para com os da nossa espécie. Se há o “Silêncio dos Inocentes”, temos em nós o “Silêncio dos Cúmplices”. (A nossa vénia ao grupo Religiões, Sociedade e Cultura).

A memória é um estranho instrumento de inteligência que todos temos. Tanto nos leva a recordar momentos felizes e pessoas que idolatramos, como nos absolve das mais culpabilizantes lembranças. Será, por isso, que somos demasiado repetitivos na malvadez? Será que só mudam as armas, sendo os carrascos da mesma espécie?

Esta frase que vos deixo é bem conhecida de todos nós: “Vemos, ouvimos e lemos / Não podemos ignorar”… ignoramos, sim, a todo o momento e foi ignorada, através dos séculos. Aliás, como a História nos comprova abundantemente, para além de matar, ignorar é ainda o que fazemos melhor. (A nossa vénia ao grupo Religiões, Sociedade e Cultura).

Também, Mea – Culpa.


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