19 de Junho de 2025 | Coimbra
PUBLICIDADE

Orlando Fernandes

Semana a Semana: Explicar a discórdia…

17 de Fevereiro 2023

Na mesma semana e que António Costa ´rebocou´ o Governo até ao interior – para o exibir em foto de família em Castelo Branco – estalou uma nova e oportuna polémica em redor dos custos do altar-palco e de outras obras necessárias à vinda do Papa à Jornada Mundial da Juventude e Lisboa. E de propósito.

Foi uma vaga de indignação providencial – mais parecendo um ´golpe de asa´ de especialistas de casa em gestão de crises – à qual não faltaram sequer as contradições presidenciais, muito úteis para desviar o foco das trapalhadas sucessivas que balaram a credibilidade do governo.

Há muito que se sabe que a realização da Jornada Mundial da Juventude é dispendiosa, embora de ´retorno garantido´, parafraseando a publicidade de um banco privado que terminou mal.

Sabe a Igreja, sabe o Governo, sabem os municípios envolvidos e sabe o Presidente da República, que esteve na cidade do Panamá, em janeiro de 2019, para celebrar com inusitado júbilo, o anúncio da escolha de Lisboa.

Não admira por isso, que se tenha envolvido de ´corpo inteiro´ no projeto, embora com reservas tardias sobre os custos implícitos, lamentando que o altar-palco não corresponda à “visão simples, pobre, não triunfalista” do Papa.

Perante o silêncio de António Costa, esta nova controvérsia veio mesmo a calhar, com o picante adicional, de o coordenador da Jornada, José Sá Fernandes – nomeado pelo governo, em julho de 2021, com todas as mordomias –, alegar também, ser estranho ao valor do dito palco.

O ex-vereador bloquista – e socialista tardio, com quem rompeu agora Carlos Moedas – é há muito conhecido pelo jeito de ´sacudir a água do capote´ quando as coisas correm mal, e de agravar as despesas de obras em andamento, como aconteceu com o túnel do Marquês, em 2004, quando interpôs uma providência cautelar, que paralisou os trabalhos durante um ano e agravou substancialmente a despesa.

Estes ´pergaminhos´ não foram, contudo, suficientes para dissuadir Costa da escolha, e ainda estendeu o mandato de Sá Fernandes até finais de 2024, sem se perceber porquê.

Sobraram para Moedas, eleito ´bombo da festa´, as ´mágoas´ do bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação Jornada Mundial da juventude, Américo Aguiar, que apesar da proximidade do evento e do tempo decorrido desde o anúncio no Panamá, também revelou que sabia pouco, prometendo agora acompanhar tudo “de fio a pavio”. Não lhe faltará…

Claro que a retórica dos milhões necessários às jornadas foi explorado como um maná para distrair dos embaraços do Governo com os outros muitos milhões que os contribuintes estão a ver voar na TAP, renacionalizada à força por António Costa, para agora – hélas! – a querer novamente privatizar: Uma custosa incoerência…

Estranhamente, porém, ainda não reapareceu o cineasta António Pedro de Vasconcelos, que liderou o movimento ´Não me TAP os olhos´, contra privatização da TAP. Deve estar em recolhimento.

Mas, para os media e comentadores avençados, a história do altar-palco foi ´caída do céu´ para ´abafar´ as perplexidades sobre os bónus e as indemnizações milionárias pagas pela TAP, além das demissões de governantes em cascata, metidos em diversos sarilhos.

Amplificado o mal-estar à volta do palco principal das festividades – que Moedas prometeu rever, enquanto avocou responsabilidade de “coordenar diretamente tudo aquilo que será feito”, cortando com Sá Fernandes, uma bênção -, de pouco serviu comparação com o investimento de outros países por onde passaram as Jornadas.

É óbvio que, em agosto próximo, Marcelo e Costa estarão sentados na primeira fila, à beira do Trancão, qualquer que seja o custo final do altar-palco – e de outros palcos previstos, além das torres multimédia e demais equipamentos.

E hão de celebrar o evento com a mesma euforia que manifestaram aquando da Final Eight dos Champions em Portugal, em 2020, ou com o Web Summit, a invenção milionária de um irlandês, com contrato assinado por Medina até 2028 pagando a bagatela de 11 milhões por ano para manter em Lisboa aquela feira tecnológica. Uma mina…

Moedas ganhou a Câmara há pouco maus de um ano, uma espinha atravessada na garganta de Medina e do PS, que tudo farão para lhe dificultar a vida. Foi herdeiro das Jornadas – com quase nada feito pelo seu antecessor – e de vários grandes ´buracos´, designadamente, a famosa Feia Popular em Carnide uma megalomania ao abandono, com mais de cinco milhões gastos em infraestruturas.

Seja-se ou não católico praticante, é inquestionável a importância da realização das Jornadas em Lisboa, quer pelos seus efeitos direitos, quer pela sua visibilidade global.

Conviria, por isso não prosseguir com as ´guerras de campanário´, que podem livrar, temporariamente, Costa e Medina de aflição, mas que não aproveitam a mais ninguém. Muito menos ao país.

 


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

Todos os direitos reservados Grupo Media Centro

Rua Adriano Lucas, 216 - Fracção D - Eiras 3020-430 Coimbra

Powered by DIGITAL RM