E VIVA O VERÃO que entrou ontem à noite. O calor está à porta tal como o São João. Calores e amores. E tudo crepita. Neste tempo de festa e de fogueiras, as tricanas são as rainhas. Volto hoje à temática da época porque há quem recupere a tradição e há locais da cidade onde, felizmente, se salta e dança com prazer e alegria, de Santa Clara à Pedrulha, de Celas ao Romal; e noutras paragens urbanas ou periurbanas. As marchas já vieram para a rua e emprestaram um belo tom popular à nossa cidade que muitas vezes parece andar alheada do popular, do povão, e segue a vida vestida de smoking embora com calças rotas por baixo. Basta ver um conjunto de tiques que a despersonalizam como se observa com a maioria dos estudantes a vestir capa e batina apenas em épocas determinada; e também muitos senhores e senhoras a desejarem mostrar um ar poupado de vanguardismo em fatiota: elas, cheias de jeans, e eles, sem gravata, porque agora a moda aponta para um lencinho no bolso do peito do casaco. O ridículo pode espreitar, é uma hipótese, e falta uma afirmação de classe ou de imposição de moda por parte de Coimbra ou de uma MODA COIMBRA como se, pela nossa terra, apenas interessassem assuntos de supremo alcance intelectual. O Portugal Fashion deste ano, do Porto, não será realizado por falta de apoios, o que se lamenta. Já agora, recordo-me de um ministro francês que há alguns anos, meteu a moda no Ministério da Cultura e fez muito bem. Coimbra até teve, e ainda tem, algumas lojas de referência em vestuário, mas mcdonaldizou-se nesta área. Houve épocas em que as mulheres de Coimbra tinham gosto em serem uma referência no vestuário e, muitas vezes, faziam-no com uma discrição e elegância estética notáveis. Maravilhosas. Eram algumas, pois nem todas dispunham de capacidade económica para seguirem ou promoverem padrões no vestuário. Recordemos que as TRICANAS, em tempos recuados, foram uma referência que merecia elogios e cópias. A propósito, escreveu Trindade Coelho em IN ILLO TEMPORE, livro ao qual voltamos hoje desfolhando páginas dedicadas ao São João…e às tricanas. TRICANAS? “como andam sempre muito afinadinhas, desde os pés até à cabeça” para depois no-las relatar delas: “espirrando sempre vivacidade; e naqueles braços, naquelas pernas, naquele busto, quando gesticulam, quando marcham, quando estão paradas (…) deve ser a própria graça – como só artistas a apreciam! São as tricanas!”. Uáu! Nas páginas deste jornal defensor de Coimbra, O DESPERTAR, defenderemos também a criação de uma MODA COIMBRÃ. Lugar privilegiado à beleza, à elegância e ao charme da mulher de Coimbra, caraterísticas, provavelmente, entroncadas nas das tricanas aqui evocadas, atempadamente, porque cheira a São João, há o crepitar das fogueiras, música popular e prapular no ar, abracinhos e namoricos desenhados na folia deste tempo. E o mandador tem razão:
“E vai de roda! E vai ao centro! E abracinhos! E uns beijinhos”.
Até logo, nas fogueiras. É SÃO JOÃO