16 de Julho de 2025 | Coimbra
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Martinho

SALAZAR E AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS (lll)

25 de Outubro 2024

Sei quão difícil é calar as nossas convicções, ainda que nos esforcemos por torná-las tendencialmente neutras, em face dos resquícios de ideias e pensamentos que ainda perduram na mente de muitos portugueses que, como eu, viveram no regime do Estado Novo e vivem agora no regime democrático, de cuja comparação vão extraíndo as respetivas conclusões.

Continuando, o tema do autor versa, essencialmente, sobre factos documentados, assentes em milhares de cartas rececionadas e de cartões de reciprocidade, emitidos por Salazar, alguns indiciando lobbys, incidindo  sobre toda a gama de favores e pedidos, como refere: “o seu espólio particular tem dezenas de casos de mulheres a pedirem um cargo para os maridos, a correção de uma injustiça, uma cunha ou um favor, e seria fastidioso entrar nos pormenores de todas. Deixemos apenas a referência a algumas delas e ao ano em que escreveram com o pedido”, num reconhecido esforço de deles ter feito uma súmula, recheada de comentários que sustentam a sua opinião.

Com o devido respeito pela interpretação contrária, face às próprias transcrições que incorporou, a substância da súmula não reflete o conteúdo e a aceção de grande parte desse material de pesquisa, apesar de nele especificar: “largos setores do país a mendigarem a Salazar um cargo, uma casa, uma promoção, uma esmola, uma pensão, uma transferência, um jeito, uma palavra ou uma intervenção para resolver todo o tipo de problemas, inclusive a intervenção direta em processos judiciais a decorrer. A prática era generalizada”.

Aproveito para aqui recordar a espécie de agradecimentos que recebia, e de presentes que oferecia, tais como: criava galinhas e hortaliças num espaço das traseiras das sua residência oficial, e distribuia, inclusíve, parte dessa produção por famílias necessitadas e pelo seu guarda-costas, Rosa Casaco; pediam-lhe para aceitar algumas amostras de figos secos e amêndoas; duas caixas de cerejas, perus para ele e para os colegas do oferente, em gesto de cortesia; dois cabazes de magníficos pêssegos; caixas de peras; garrafas de vinho do Porto; uma amostra de laranjas, azeitonas e alheiras; e um cavalo, de Joaquim Gouveia Coutinho, e um anel de diamantes que, num ápice, recusou.

Nogueira Pinto, politólogo e autor de vários livros sobre Salazar, afirmou que não acreditava que houvesse grande recetividade para aceder a cunhas (como forma popular de corrigir a estupidez da Lei) e favores, a não ser em casos de manifesta injustiça ou atropelos à lei.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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