O mercado D.Pedro V, localizado na Baixa de Coimbra inaugurou no sábado o novo espaço de restauração que aposta na modernização e requalificação de um dos espaços emblemáticos da cidade.
A remodelação do mercado conta com um espaço para a organização de pequenas feiras temáticas, eventos de animação e também com um local de restauração, que se localiza no piso 2.
Estas alterações no mercado podem trazer uma nova vida para o estabelecimento e por sua vez atrair a visita dos conimbricenses, que são para as comerciantes os que menos valorizam o espaço e a sua história.
O Despertar foi ao encontro das habituais vendedeiras no Mercado D.Pedro V para perceber se as modificações vão de facto atrair mais compradores ao comércio local.
Pontos a favor e contra
As comerciantes Leonor e Deolinda, do Cantinho da Tia Leonor e da Frutaria Lindita, em conversa connosco confessaram que “têm esperança que tudo melhore com esta renovação do espaço”.
“Já há mais gente embora os nossos clientes sejam, mais ou menos, os habituais e agora estamos numa época de turismo, e é isso que se está a fazer notar”, explica Leonor. Em complemento Deolinda diz que “mesmo que as pessoas não comprem já, ao passar já começam a ter uma ideia do que querem comprar, e mais tarde ou mais cedo acabam por passar por aqui, até porque os preços são mais atrativos, no meu ponto de vista”.
Os hipermercados são apontados como os principais culpados no decréscimo de compras no mercado e posteriormente a situação pandémica e a guerra.
“Os hipermercados deram conta da cidade de Coimbra, praticamente quando as pessoas aqui vêm e dizem “Eu nunca vim a este mercado” e o mercado já está feito há mais de 20 anos e agora foi remodelado, mas há pessoas que nunca vieram aqui ao mercado”, refere Leonor com uma expressão de revolta, pois explica-nos que os fregueses, que já costumam lá ir, se queixam do facto da Baixa “se ter transformado num sítio vazio e triste”.
Face a estas afirmações realça que “os comerciantes estão lá, mas se as pessoas não comprarem o que eles vão para lá fazer? Ter um espaço tem custos e como não há clientela não se vai manter uma casa aberta para ter mais despesa que lucro.”
Os jovens, para as comerciantes, “podiam ir mais ao mercado e prezar aquilo que faz parte da sua região. Há jovens que aqui vêm, mas os que vêm não são de Coimbra, vêm lá de fora, e vão comprando”. A necessidade de um público mais jovem é para ambas essencial porque “são os jovens que dão continuidade às gerações e se eles deixarem de vir, vai haver um dia que já não há mercado, ou há apenas um mercado turístico, e não é isso que se quer”!
No que toca às pessoas com alguma idade, que tinham por hábito visitar o espaço regularmente, já não se fazem sentir nos corredores há algum tempo. “As pessoas têm medo, ou é pela pandemia, ou porque não têm poder de compra”, confirma-nos Deolinda, reforçando que “após a pandemia os cidadãos mais idosos adotaram novos hábitos e os filhos é que, em maior parte dos casos, lhes vão buscar a fruta ao supermercado, já nem vêm aqui”.
Mercado antigamente
Quando questionadas pelo movimento de antigamente o sorriso abriu-se. “O movimento era outro, os estudantes vinham cá ao mercado comprar o nabo, outros roubavam como era a tradição”, confessa Leonor.
“Coimbra era uma cidade diferente só tinha basicamente o mercado, não havia hipermercados, só tinham basicamente os supermercados das Colmeias e o Reis e Simões na Sofia, claro que agora com os hipermercados tudo mudou”, conta Deolinda, com uma tristeza na voz.
A mudança das datas da festa dos estudantes, a Queima das Fitas, é vista também como um dos pontos que alterou a tradição do mercado, porque antes “os pais vinham à terça-feira passavam e ainda compravam umas cerejas agora não, está-se a perder a tradição”, explica Leonor.
A falta estacionamento também é apontado, pelas comerciantes, como um dos principais defeitos da zona central, que pode também fazer com que haja também um decréscimo na procura pelo mercado.
“Esperança” é a palavra de ordem das comerciantes. “Vamos ter esperança num futuro melhor!”