Cerca de 85 famílias, seguramente perto de 260 pessoas, vivem atualmente no Bairro da Relvinha, um “bairro com alma”, distinto dos restantes que existem na cidade e que se orgulha da sua “história de luta e perseverança”.
É este percurso de luta e determinação que vai ser comemorado amanhã, durante as celebrações dos 45 anos da Associação de Moradores da Relvinha. Criada a 28 de fevereiro de 1975, tendo começado a germinar logo após a Revolução dos Cravos, esta coletividade nasceu precisamente para dar “mais dignidade e qualidade ao bairro, tanto em termos habitacionais como culturais”. Jorge Vilas, presidente da Cooperativa de Construção e Habitação Económica Semearrelvinhas, recorda que é esse o objetivo que tem norteado todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nestes últimos 45 anos.
Realça que, atualmente, no que toca ao parque habitacional “está tudo bem”, estando já longe os tempos em que lutaram pela modernização das antigas barracas de madeira, sem sistema de saneamento, luz ou qualquer tipo de infraestrutura de apoio social ou cultural. Continua, contudo, por dar aquele tão desejado “salto” no que diz respeito à área cultural e social. Isso passará, como explica, pela conclusão das ansiadas obras do Centro Cultural e Social, um projeto começado há muito mas que continua à espera do financiamento que permita a sua conclusão.
Recorde-se que, depois de décadas de imensas dificuldades para obter habitações dignas, o Bairro da Relvinha continuou a reivindicar o direito à cidade, à cultura e à cidadania. Em 2003, do projeto Relvinha.CBR_X, promovido pela Associação Cívica Pro Urbe (durante a Capital Nacional da Cultura em Coimbra), resultou um projeto de construção de um espaço sócio-cultural para as pessoas se poderem juntar e manter o espírito de convívio e união que caracterizam o bairro, bem como para a dinamização de atividades culturais.
“O projeto foi executado com o apoio da Câmara e da Universidade, foi-nos cedido o terreno pela autarquia junto à antiga Associação Comercial e Industrial de Coimbra, mas falta-nos os meios para concluir a obra há tanto ansiada”, explica.
As obras do pavilhão continuam, por isso, inacabadas. Jorge Vilas lembra que este não é um projeto exclusivamente para o Bairro da Relvinha mas que deverá servir toda a zona. Para o novo centro estão pensadas várias valências, dirigidas a todas as faixas etárias, como biblioteca, sala de computadores e espaços que permitam dinamizar vários eventos culturais, como os tradicionais festejos populares. Será, no fundo, um espaço de reunião da comunidade, que pode receber eventos culturais e sociais e promover o convívio e partilha entre as várias gerações.
A Direção pretende que estas instalações possam estar abertas permanentemente, assim como o bar, um espaço de convívio mas também uma “fonte de receita que permita viabilizar outros projetos”. Jorge Vilas assume que o centro já funciona mas está ainda longe de “ter as condições mínimas para se poder lá estar”, sendo determinante a “licença de habitabilidade e resolver as questões da eletricidade”, entre outros arranjos e acabamentos que são muito necessários mas para os quais “a Cooperativa não tem meios suficientes”, apelando por isso ao apoio da sociedade.
Espera que as comemorações de amanhã sensibilizem para as necessidades da associação, ao mesmo tempo que “divulguem a sua permanente luta por melhores condições e contribuam para manter viva estas memórias e a sua capacidade de resistência”.
Para Jorge Vilas, este é “um bairro diferente, que marca por quem cá passa, que fica umbilicamente a ele ligado”. Diz que o que o distingue é a “enorme vontade da população de fazer sempre mais pelo seu bairro e pelas 85 famílias que aí habitam”. É essa imagem de luta e determinação que a associação quer continuar a manter, mostrando que chega aos 45 anos “muito organizada e com a mesma vontade de lutar” que tem vindo a marcar toda a sua história.
Jorge Vilas espera que as celebrações de amanhã sejam também um “motivo de festa, celebração e convívio, que mantenha vivo esse espírito de partilha e união”.
Um dia de festa e celebração
Promovidas com o apoio da UF de Eiras e S. Paulo de Frades e Câmara de Coimbra, as celebrações vão decorrer ao longo do dia, tendo como palco principal a Cooperativa Semearrelvinhas.
O programa começa, às 10h00, com o encontro entre solteiras e casadas, seguindo-se, a partir das 13h00, o almoço convívio. Durante a tarde, às 15h00, vai realizar-se uma visita guiada ao bairro, onde os participantes vão conhecer a sua história de luta. A animação começa, às 16h00, com a atuação do grupo Danças e Cantares do Rancho de S. Martinho do Bispo e continua, às 17h00, com a apresentação de um grupo proposto pelo pelouro da Cultura da Câmara Municipal.
A receção aos convidados está marcada para as 18h00 e uma hora depois, antes do cantar dos parabéns e do corte do bolo de aniversário, é servida a sopa da pedra. A animação continua à noite, a partir das 21h00, com um momento de fados de Coimbra (Fernando Pires) e de Lisboa (Maria da Graça), a cargo do grupo Sentimento.