Guardei algumas considerações feitas pelo presidente da Câmara Municipal de Tábua, RICARDO CRUZ, ao jornal Diário de Coimbra, a 10 de abril último, a propósito dos acessos rodoviários aquele concelho e à região. O autarca tabuense mostra-se CHATEADO – é esta a palavra que usa – porque observa investimentos de milhões nas áreas metropolitanas e nas grandes cidades e demoram as verbas para prolongar o IC6, um acesso melhorado ao IP3 e ainda “uma ligação rapidamente ao IC12 e a Espanha”. RICARDO CRUZ tem toda a razão e mostra como é difícil dar razoáveis condições ao país profundo, ao Portugal mais interior. Empresas que equacionem estabelecerem-se nesta zona pensarão duas vezes se vale a pena, pois terão custos mais elevados e com menores condições no transporte. Nestas colunas de O DESPERTAR temos abordado, com alguma frequência, a necessidade de o IP3 ser substituído por uma autoestrada entre Coimbra e Viseu e da ligação rodoviária pela margem esquerda do Mondego, entre Coimbra e Figueira da Foz, ser feita, também, em autoestrada. Neste caso falamos de uma cidade perto do litoral (Coimbra) e da cidade do litoral (Figueira da Foz). Não se compreende que ainda não tenha sido construído o NÓ RODOVIÁRIO DE MONTEMOR-O-VELHO, nem prolongada, como autoestrada, até esse nó, a VIA RÁPIDA DE TAVEIRO. Houve diversos estudos e não consigo acreditar que ao fim de décadas, não são anos, falamos de décadas, ainda não tenha sido encontrada a solução para ultrapassar o problema que será, ao que julgamos, a preservação da fauna no Paul de Arzila. Portugal está hoje melhor do que estava em 1974, mas entristece-nos as assimetrias que observamos e o que tem ficado por fazer nestes últimos cinquenta anos. E, se de vez em vez, há algo positivo, na maioria das vezes ficamos estupefactos perante a inoperância de quem tem obrigação de resolver estes problemas e HARMONIZAR O PAÍS que continua a duas velocidades na relação INTERIOR/LITORAL e entre ÁREAS METROPOLITANAS DE LISBOA E PORTO/RESTO DO PAÍS. Serei sempre um defensor da regionalização no que vou podendo articular, mas a paciência esgota-se e os temas, por serem abordados diversas vezes, podem banalizar-se e caírem numa confrangedora indiferença. Porém, pergunto, quantos autarcas como Ricardo Cruz têm levantado a voz e reclamado por apoio para o progresso nas suas terras junto do poder central? A atual campanha para as próximas legislativas está na estrada, nos cartazes, nas rádios e nas televisões, mas, ou muito me engano e ouço mal, ou estou com a ideia de que não se abordam temas que toquem, pela sua proximidade, o interesse dos portugueses do Portugal Profundo. E ainda não ouvi falar de REGIONALIZAÇÃO. Aqui ou ali sai um ponto de vista que é de interesse geral, mas parece existir um afastamento dos magnos problemas que tocam a vida dos portugueses na província. Tenho encontrado aldeais e vilas quase desertas e uma confrangedora ausência de crianças. Os mais espevitados do Interior, e que conseguem condições mínimas para saírem, é o que fazem: rumam para as grandes cidades e a maioria procurava Lisboa e Porto, um fluxo agora travado pelo tenebroso problema da falta de habitação, da especulação neste setor, e na falta de controle das rendas para as quais urge colocar tetos. Precisamos de REGIONALIZAÇÃO, precisamos de uma GOVERNANÇA de proximidade. Para a Comissão Europeia, cito, GOVERNANÇA refere-se às regras, processos e comportamentos através dos quais os interesses são articulados, os recursos são geridos e o poder é exercido na sociedade.