9 de Novembro de 2025 | Coimbra
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Sansão Coelho

PENEDO DA SAUDADE

17 de Outubro 2025

Estacionei, o que não é fácil na zona. Olhei João de Deus na sua estátua imponente e justa. Prestigiado poeta lírico. Ensinou a ler com a sua Cartilha Maternal. Um sucesso. A sua vida boémia também faz parte do seu currículo. Estamos no PENEDO DA SAUDADE. Visitar e revisitar este espaço de Coimbra é ganhar COIMBRISMO. E muita poesia, além de saudade. O Penedo, nos seus trilhos acolhedores, é um hino à vida académica de Coimbra. À vida do passado; e ali se registam em pedra textos que comemoram cursos, efemérides de reuniões académicas: é uma Coimbra estudantil gravada na pedra. Há cascatas, pequenos lagos, bela vegetação. Nalgumas lápides não é só a antiguidade que inibe uma leitura total; há uma relativa falta de limpeza de que quase só se libertam as mais recentes. Os degraus, os trilhos, as lajes, merecem uma atenção urgente do município. Vamos pisando o chão atapetado por azeitonas que o vento faz caírem das oliveiras, árvores sacralizadas, símbolos de SABEDORIA, PAZ, ESPERANÇA, FERTILIDADE, RENOVAÇÃO. A cidade de Atenas ganhou este nome num gesto de gratidão à Atena que ofereceu aos seus cidadãos uma oliveira. Cruzo-me com dois turistas de máquina em punho. Este é um dos miradouros mais bonitos da Cidade. Um estudante, provavelmente, já a folhear as sebentas. Uma idosa recolhida numa sombra a escutar música africana com o som a ser debitado pelo telemóvel. Olho a cidade no Calhabé ou um Calhabé quase cidade. A vista alarga-se pelo horizonte. Como tem crescido Coimbra para este lado que a vista alcança até à autoestrada A13, até mais do que Santa Clara. Prossigo. Tenho que ter cuidado para não cair pois há degraus que não apresentam a melhor confiança. Respiro o ar lírico e leve. Solta-se o pensamento embalado na poética de algumas lajes e eu penso na Balada de Coimbra de José Régio.

“Do Penedo da Saudade
Lancei os olhos além.
Meu sonho de eternidade
Com saudade rima bem…”

Eternidade e saudade dão as mãos neste espaço no qual D. Pedro terá chorado a perda da sua amada Inês. Real ou imaginário, lenda ou história, abraçam-se bem no Penedo. Percorro o RETIRO DOS POETAS e a SALA DOS CURSOS que acolhem as mais variadas mensagens da vida académica, quase sempre a caminho da perenidade. Uma homenagem a Luís Góis e pressinto a sua voz a entoar Homem Só, Meu Irmão; e eis que numa estrutura materializada em metal vejo a réplica da Torre da Universidade, uma pasta universitária, a serrania da Lousã ao fundo e inscrito na pasta, com fita vermelha a adorná-la, leio uma passagem da Balada de Despedida do 5º ano jurídico de 1989

Imagino a voz de Rui Lucas com a sua equipa da Toada Coimbrã cantando:

“E levas em ti guardada

O choro de uma balada

Recordações do passado

O bater da velha Cabra”

 

Aparentemente dissonante a escultura indicia novos caminhos, mas há um caminho permanente que terá de levar conimbricenses e turistas a visitas obrigatórias ao PENEDO DA SAUDADE para lerem um pouco da bela história da Academia de Coimbra e da nossa cidade. E, já agora, levem esta edição do jornal O DESPERTAR debaixo do braço e leiam-na num destes recantos de aprazível sombra no Penedo da Saudade.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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