17 de Abril de 2025 | Coimbra
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JOSÉ RIBEIRO FERREIRA

Passar ou viver uma odisseia

25 de Fevereiro 2022

Ulisses (Odysseus em grego) é o protagonista do poema homérico Odisseia, ou Poema de Ulisses. Trata-se de uma das personagens míticas mais famosas na Antiguidade greco-romana e ao longo dos tempos e dos mais vezes retomados por escritores e artistas.

Terminada a Guerra de Troia e destruída a cidade, não foi fácil nem isento de sofrimento e peripécias o regresso dos Aqueus às suas terras. O regresso mais demorado e aventuroso foi o de Ulisses que, após a queda de Troia, andou errante nos mares, teve de vencer obstáculos e dificuldades, foi perdendo os seus homens pelo caminho, ficou retido em ilhas edénicas cerca de outros dez anos. A Odisseia narra as peripécias desse aventuroso regresso.

E assim, de alguém que vive uma existência de aventuras, arrastado de terra em terra pelas circunstâncias, que se vê envolvido em peripécias várias ou sofre no dia a dia dificuldades e agruras constantes, diz-se hoje naturalmente que a sua vida é uma odisseia. Ainda não há muitos anos era programa de grande audiência a série televisiva Odisseia no Espaço.

Responsável pela sorte e sucesso do termo é o poema de Ulisses ou Odisseia, no qual o herói, para regressar ao seu palácio e reencontrar Penélope, teve de sofrer muito, passar por um sem-número de aventuras, enfrentar oposições e dificuldades várias. E tudo ultrapassou graças à sua inteligência e astúcia: conseguiu sair ileso do ataque dos Cícones e dos Lotófagos ou ‘Comedores de lótus’, livrou-se, recorrendo a umas série de estratagemas, do Ciclope Polifemo que devorava quem aportava à sua ilha (sua e dos Ciclopes, seres que tinham um único olho no centro da testa e apresentavam tamanho gigantesco, portanto os únicos capazes também de realizarem obras que extravasavam as forças e capacidades humanas – as tarefas ou trabalhos ciclópicos).

Vê-se afastado para longe por ventos contrários que os seus companheiros inadvertidamente tinham libertado do bornal onde Éolo, rei dos ventos, os tinha encerrado e vai ter à terra dos Lestrígones, uma raça de antropófagos que devoram grande parte dos seus homens, salvando-se apenas o seu navio por o ter colocado prudentemente à entrada do porto. Evitou, ensinado por Hermes que lhe indica uma planta que o torna imune, a magia de Circe que lhe transformara os companheiros em porcos, embora depois consiga que ela lhes devolva a forma humana… Ou seja, beleza e seu feitiço que tantas vezes nos envolvem, nos tomam e acabam por implicar a degradação da natureza humana em ser bruto. Daí a expressão os encantos de Circe, de sentido que não se afasta muito do de encantos de Medeia que significa mais especificamente feitiços ruinosos que podem levar à morte (relembro também o nome dado a uma peça de O Judeu, António José da Silva).

Experimenta e resiste, aconselhado por Circe, à voz das Sereias – sedutora, mas também destruidora: o local onde se encontravam pejava-se de cadáveres e corpos em putrefação… Enfim, o canto de sereia que, a cada passo, nos tenta e nos conduz por caminhos nem sempre desejados ou considerados os melhores, e que com frequência nos conduz à ruína. E ao longo da vida são sem conta os cantos de sereia.

Venceu os perigos das duas rochas errantes ou moventes, Cila e Caríbdis, que a tradição coloca no Estreito de Messina e que destruíam os barcos, ao passarem por elas. Significa o episódio que se encontrou e passou em zona de grave risco e entre perigos de igual gravidade – entre Cila e Caríbdis, como tantas vezes na vida acontece também a cada um de nós.

É perseguido pelos deuses – por Hélios, o Sol, e por Poséidon, o deus do mar. E, um pouco por causa dessa perseguição, vê morrer todos os seus companheiros, por terem cometido a insensatez de comerem os bois sagrados do Sol, apesar de os ter avisado de que o não fizessem.

Fica retido na ilha paradisíaca da ninfa Calipso, que lhe oferece a imortalidade, se quiser continuar junto dela, como seu amante… Ulisses, porém, dia a dia, sentado na falésia junto ao mar, chora pelo regresso a Ítaca, — a rochosa Ítaca que mal dava para alimentar cabras. Face a isso, por intervenção dos deuses, em especial de Zeus-Júpiter e com permissão contra vontade de Calipso, constrói uma jangada e faz-se ao mar, arrostando os perigos que a Ninfa lhe anuncia. E, de facto, em breve vê Poséidon enviar-lhe uma tempestade que destrói a frágil embarcação, em que procurava regressar à sua ilha. A muito custo consegue salvar-se e é acolhido por Nausícaa, filha de Alcínoo, rei dos Feaces.

Por fim, com a ajuda da jovem princesa, do seu pai e dos Feaces, Ulisses aporta a Ítaca, a sua tão amada pátria.


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