21 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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António Inácio Nogueira

OLIVEIRA, OLIVEIRINHA

6 de Dezembro 2024

Implantou-se o Dia Mundial da Oliveira, assim como outros têm sido estabelecidos.

Até já existe o Dia Mundial da Casa de Banho! Eu até reconheceria bem que se instituíssem esses dias, mas que eles servissem para além de recordar e sensibilizar, cuidassem de fazer uma reflexão – acção sobre as realidades para as aperfeiçoar.

Esta árvore é para mim um ícone determinante. Pela sua beleza, robustez e pelo desafio que faz aos humanos em termos de durabilidade fértil. Esta árvore acompanha muitas das minhas memórias longínquas e imorredouras.

A oliveira é uma árvore cujos frutos são as azeitonas, todos sabem isto, usadas para fazer azeite. São nativas da parte oriental do mar Mediterrâneo, bem como do norte do actual Irão, no extremo sul do mar Cáspio. Dos seus frutos, os humanos, no final do período neolítico, aprenderam a extrair o azeite. Este óleo era empregado como unguento, combustível ou na alimentação, e por todas estas utilidades, tornou-se uma árvore venerada por diversos povos.

A oliveira é um indicador biológico da região do Mediterrâneo. Os gregos, associavam a árvore à força e à vida. A oliveira é também citada na Bíblia em várias passagens, tanto a árvore, como seus frutos.

A longevidade das oliveiras é grande. Estima-se que algumas das oliveiras presentes na Palestina (se ainda as houver…) tenham mais de 2 500 anos de idade.

Em Portugal, a referência à oliveira é bastante antiga, datando do tempo dos Visigodos (século VII). No entanto, foram os árabes aquando da conquista da Península Ibérica no século VIII d.C., os grandes impulsionadores do cultivo e exploração da olivicultura. Aperfeiçoaram técnicas de produção e classificaram a oliveira acima das outras árvores em termos de valor.

No século XVI, o cultivo da oliveira aumentou na sequência da utilização do azeite na iluminação. Neste século, vendia-se o azeite produzido dentro do Reino e exportava-se com destino aos mercados do Norte da Europa e para o Ultramar, em especial para a Índia.

A Oliveira é uma árvore de alto valor simbólico nas três principais religiões monoteístas do mundo, o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Contudo, a árvore é mais lembrada por conta de sua citação em Génesis, quando a pomba retorna a Noé, após o dilúvio, com um ramo de oliveira no seu bico. Noé conferiu-lhe o símbolo da paz. Muitas outras passagens bíblicas referem-se à oliveira e a olivais

As oliveiras e o seu fruto sagrado, é-me bastante familiar, porque em pequeno, participei na poda, na rega, na apanha, no transporte para o lagar. Na altura da colheita da azeitona, que coincidia com as férias escolares, aí estava eu, um pequenote de 10 anos, a varejar a azeitona para os toldos. Também acompanhava o meu avô Brás ao lagar do Senhor Viana, onde via, deslumbrado, a transformação do fruto em azeite.

No final do processo, vinha a «tiburnada» regada com o azeite novo.

Os frutos de cor negra esverdeada, depois de curtidos, faziam parte da alimentação de então: – umas azeitonas com pão preto ou com batatas, era um bom conduto para a época.

E o azeite alumiava, temperava, vendia-se para obter algum proveito.

Lembro de ter feito um poema que ofereci ao meu avô e que ele guardava com toda a devoção:

Oliveira,

Oliveirinha,

Oliveira velhinha,

A tua azeitona é só minha,

Este ano pequenina.

E vai para o lagar,

Para o azeite largar,

Pra depois me alumiar,

O bacalhau regar,

E a Senhora da Graça abençoar.

 

(Em 1953, tinha então, 10 anos).


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