Se chegamos hoje aos 100 anos devemo-lo a várias gerações de pessoas determinadas que nos precederam e que nos deixaram o seu legado, demonstrando que “O Despertar” é, acima de tudo, uma causa que soube unir pessoas de todos os estratos sociais, do mais humilde cidadão ao maior dos letrados, sempre numa busca incessante pelo desenvolvimento de Coimbra e da região. Se hoje escrevemos a história deste jornal, devemo-lo a todos eles que tiveram sempre um amor maior e uma força que, apesar de todas as dificuldades que foram surgindo no caminho, conduziram este projeto ano após ano, década após década… São estes homens, unidos pelo mesmo “espírito de cruzada”, que recordamos e honramos aqui, hoje, nesta edição comemorativa do primeiro centenário.
João Henriques: o fundador
A fundação d’ “O Despertar” deve-se a João Henriques e a um grupo de amigos que se juntou para abraçar o projeto. Pessoa com grandes conhecimentos na área, já que era uma “honrado tipógrafo” que fez a sua “iniciação na arte” nas oficinas de “O Conimbricense”, o primeiro administrador lançou as bases daquele que viria a ser um jornal com um percurso longo e que se congratula por chegar agora à bela idade de cem anos.
João Henriques acabou por estar apenas cerca de seis anos no “comando” deste projeto, já que a morte acabou por surpreendê-lo a 13 de abril de 1923. O luto e o pesar atingiu a sua esposa e filhos mas foram também muito sentidos pela equipa que com ele trabalhava, que perdeu, como se lia na edição que noticiou o seu desaparecimento, “um desvelado amigo e companheiro leal de tantos anos”.
A morte de João Henriques foi noticiada 14 de abril de 1923, onde se dava conta que tinha falecido na véspera. A merecida homenagem foi feita na edição seguinte, a 19 de abril, onde todos prestaram, com os seus textos, uma última e sentida homenagem ao fundador e adminsitrador de “O Despertar”.
Nessa mesma publicação, os leitores eram informados que na edição seguinte o jornal não se publicaria, já que era necessário resolver “assuntos complicados devido à morte do administrador”.
O jornal é retomado no dia 26, data em que, na primeira página, surge Mário Henriques como novo administrador.
Mário Henriques: o sucessor
Após a morte de seu pai, Mário Henriques assumiu a administração de “O Despertar”, a 26 de abril de 1923. Na edição das Bodas de Ouro, é recordado como um homem de “maneiras rudes” mas “um homem de carácter, muito apreciado por quantos o conheciam”. É recordado também como “um gráfico distinto”.
Manteve-se na administração do jornal até à sua morte, a 14 de oububro de 1934. Antes do seu desaparecimento, o jornal sofreu com mais uma perda na família Henriques, já que a 31 de outubro de 1931 havia falecido também o irmão João Henriques (filho), tipógrafo de “O Despertar” que aliava ao seu trabalho profissional o gosto de escrever “pequenas peças dramáticas” e de asrepresentar e que tinha encetado também a publicação de um livro de contos inéditos. Era tambem um desportista conhecido.
Mário Henriques viu partir assim, depois do pai, também o irmão. Manteve-se 11 anos na adminsitração do jornal e, com o seu desaparecimento, um novo desafia se colocava a este projeto, que contava na altura com apenas 17 anos.
A sua morte,“profundamente lamentada por todos os que o conheciam e que com êle privavam”, foi amplamente noticiada a 3 de novembro e nas ediçõe seguintes, depois de o jornal ter estado suspenso, entre 13 de outubro e aquela data, devido ao seu falecimento.
“Após alguns dias de suspensão, por tão doloroso acontecimento qe encheu de luto os nossos corações, retoma hoje o O Despertar, sob minha direção, o seu pôsto de combate, em que, momentaneamente, foi frçado a depôr as armas para se curvar, reverente, junto do cadáver do companheiro e amigo de que hoje nos resta, apenas, a memória saudosa que jurámos honrar”, escreve Ernesto Donato a 3 de novembro, prometendo, como até então, continuarem a bater-se “pelos princípios de Ordem e de Trabalho, que são incontestavelmente, os que a Imprensa deve defender, com todas as suas forças – que podem ser ingentes – no actual momento histórico, das maiores crises que a História da humanidade regista com profundos laivos de sangue”.
António de Sousa: o salvador
Quando morreu Mário Henriques, a empresa atravessou grave crise e arriscava-se a um colapso fatal. A dinastia tipográfica dos Henriques cessava com Mário Henriques e, por falta de chefe de oficina, corria-se o rico de ver desaparecer este popular jornal.
É então que António de Sousa, que aí trabalhava, toma sobre os seus ombros o encargo de continuar com a publicação. Assumiu a administração da empresa, que se encontrava numa situação difícil. Com a sua coragem moral, a sua energia, tenacidade e força de vontade, trabalhou à frente dos serviços gráficos, manteve a publicação e foi realizando a gestão administrativa necessária para que “esta empresa sem capital não se visse assoberbada por graves e insuperáveis dificuldades”.
Viveram-se então anos difíceis, de sacrifício e devoção mas o homem do leme não deixou afundar o “barco”.
Mais tarde, com o esforço do seu trabalho honrado, embora com prejuízo da sua comodidade e da sua saúde, António de Sousa adquiriu aos legítimos herdeiros da família Henriques os direitos de propriedade de “O Despertar”.
O “espírito de cruzada e de Apostolado dos homens de 1917” estava de volta. António de Sousa herdou-o e continuou-o.
Com António de Sousa começou nova fase na vida de “O Despertar”, resultante da sua tenacidade. Foram 22 anos de luta por uma ambição… desinteressada.
Festejar as Bodas de Ouro de “O Despertar” foi o reconhecimento pela sua entrega e dedicação. Naquela “hora de euforia”, António de Sousa não escondeu a sua emoção. O “rosto” de “O Despertar” não esqueceu, mais uma vez, as dificuldades mas mostrou-se sempre pronto para abraçar qualquer luta. No seu texto recordou que o jornal lhe foi entregue, em 1934, em “condições bastante precárias” e, neste momento de celebração, saudou, “com muita gratidão, todos os bons Amigos” que o têm “amparado nesta difícil missão” que empreendeu.
“De início cheguei ao desalento, mas influenciado por uns tantos amigos dedicados – alguns deles já não pertencem ao número dos vivos – permaneci no meu lugar, deixando a Coimbra e aos meus filhos uma Obra que, embora não fosse por mim iniciada senti bem as chicotadas da penúria em que a encontrei… Contos Largos”, escreveu. Congratulou-se, todavia, como rumo que deu a este projeto editorial.
Lamentavelmente, António de Sousa pouco tempo mais estaria à frente do “leme”. O seu estado de saúde agravou-se no início do ano de 1968 e acaba por falecer a 20 de março daquele ano. É com grande pesar que se noticia a sua morte. “A República perdeu um idealista puro; Coimbra um filho amantíssimo; O Despertar um grande timoneiro e a Família um chefe respeitado e respeitador. Tombou para sempre um homem!”- lê-se na primeira página, inteiramente dedicada a esta figura que marcou, indubitavelmente, o percurso e a história do jornal.
António de Almeida e Sousa: o amor pelo Despertar e pela escrita
António de Almeida e Sousa foi um fiel sucessor do seu pai, António de Sousa, cabendo-lhe continuar o seu trabalho ao leme de “O Despertar”.
O amor e dedicação que António de Sousa pôs neste projeto apaixonou toda a família que procurou honrar a memória do patriarca. António de Almeida e Sousa assumiu o comando do jornal após a morte do pai. Apesar de ter feito a sua vida profissional fora do jornalismo, nomeadamente nas empresas Triunfo e Santix, a escrita esteve sempre presente na sua vida.
Chegou a “O Despertar” em 1963, onde passou a assinar a coluna “O Preto no Branco”, que iria manter durante vários anos, analisando, naquele espaço, as questões pertinentes da sociedade. Um ano depois, a 1 de julho de 1964, numa altura em que a família estava cada vez mais representada no jornal, assume o cargo de diretor adjunto e quatro anos depois, após a morte do pai, passa a diretor, cargo onde se manteve durante vários anos.
Casado com Maria Primorosa Santos Costa Sousa (que ainda hoje mantém viva esta paixão pelo “O Despertar), António de Almeida e Sousa teve duas filhas, Maria Cristina Santos Costa Sousa Hoffman Castela e Maria de Fátima Santos Costa Sousa Queiroz (já falecida).
Faleceu aos 75 anos e foi a sepultar no cemitério dos Olivais, a sua freguesia de sempre. Pode dizer-se que teve uma vida intensa. Os amigos recordam-no como amigo, cidadão exemplar, autarca, atleta, dirigente olivanense, chefe de família, articulista crítico e certeiro, profissional sem macua, conimbricense de alma e coração.
Com o seu desaparecimento, “O Despertar”, Coimbra e a freguesia de Santo António dos Olivais ficaram mais pobres, ao perderem um dos seus filhos “autênticos, verdadeiros, interessados, genuínos e atentos”.
Armando Almeida e Sousa: um homem bom que tantas amizades cultivou
Armando Almeida e Sousa também chegou cedo a “O Despertar”. Na edição de 23 de novembro de 1963 surge como editor e não há dúvidas que o seu percurso no jornal deixou marcas, sendo ainda hoje recordado com afeto e saudade por tantos e tantos assinantes e amigos que com ele privaram.
É recordado pelo trabalho que desenvolveu, pela forma como cultivava e preservava as amizades, pelo relacionamento fraterno que sempre manteve com os funcionários, pela forma como amou o seu jornal, a sua cidade e a sua freguesia de Santo António dos Olivais.
Armando Almeida e Sousa herdou também de seu pai a paixão pelo jornal, mantendo-se fiel aos princípios do seu progenitor e continuou, juntamente com os irmãos, de forma orgulhosa, o trabalho por ele iniciado.
Era um homem de emoções. De recordar o “grito” que lançou, firme e determinado, em março de 1968, quando os restos mortais do seu pai desciam à terra no cemitério de Santo António dos Olivais — “O JORNAL NÃO MORRERÁ”. E não morreu.
Armando Almeida e Sousa nasceu a 27 de setembro de 1926 em Santo António dos Olivais, freguesia onde sempre viveu. Começou a trabalhar aos 14 anos na delegação de Coimbra do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, única entidade patronal que serviu até à sua aposentação. Entrou como “grume”, seguiu a escala hierárquica e saiu como quadro de chefia.
Casou com Gracinda Fernandes de Sousa, de quem teve dois filhos, António Manuel Marques de Sousa e Paula Maria Marques de Sousa. Tinha três netos.
Praticou basquetebol no Olivais tendo integrado sucessivos corpos gerentes, e foi, por mais de uma vez, presidente da direção, desempenhando também um papel preponderante na construção do Pavilhão.
Na vida política, foi desde jovem um convicto republicano, na esteira dos ideais do seu pai. Após o 25 de Abril de 1974, aderiu ao PS e foi presidente da Junta de Freguesia dos Olivais, o primeiro eleito em liberdade, e depois presidente da Assembleia na mesma freguesia. Apoiante do general Ramalho Eanes, vinculou-se ao PRD, aquando da sua constituição. Acabou, no entanto, por “abandonar” a política, encontrando-se, ainda anos antes da sua morte, partidariamente descomprometido e politicamente independente.
Benemérito e atento às carências da sociedade, esteve sempre profundamente ligado à Casa dos Pobres, tendo aí desempenhado durante muitos anos funções diretivas.
Desde muito novo colaborador do pai, fez em “O Despertar” tudo e de tudo — editor, diretor-adjunto e diretor.
Os amigos recordam-no como um homem bom, determinado, coerente, sensível, trabalhador, sério, competente e lutador. Era um homem que Coimbra conhecia, apreciava, estimava e respeitava. Faleceu a 11 de maio de 1991.
Artur Almeida e Sousa: Um homem de lutas sempre presente
Artur Almeida e Sousa foi outro dos grandes timoneiros de “O Despertar”. Tal como os irmãos, cresceu no jornal, ajudando o pai, António de Sousa, naquilo que era necessário. Acabou por desempenhar as mais diversas funções no jornal, assumindo durante vários anos o papel de diretor, tendo sucedido no cargo ao seu irmão Armando Almeida e Sousa.
Faleceu a 27 abril, aos 80 anos, precisamente quando “O Despertar” publicava a sua edição comemorativa dos seus 88 anos, e foi a sepultar na freguesia de Santo António dos Olivais, a sua freguesia de sempre, onde nasceu, viveu e morreu. Foi aí que viveu com a esposa, Maria Ascensão Sousa, com quem teve tinha dois filhos, Teresa Maria e António Carlos de Sousa, que também trabalharam ambos neste jornal. António Carlos de Sousa integrou a equipa durante largos anos e assumiu o cargo de Diretor Interino após a morte do pai e também após a morte do primo, Fausto Correia.
Apesar de sua ligação ao jornal, Artur Almeida e Sousa integrou durante décadas os quadros da Câmara Municipal de Coimbra, tendo desempenhado diversos cargos, desde os Serviços de Tesouraria aos de Fiscalização e de Turismo. Reformou-se como responsável pelo velho complexo das piscinas municipais, junto ao igualmente desaparecido Estádio Municipal de Coimbra.
Artur Almeida e Sousa, conjuntamente com os seus irmãos Armando e António, dedicou-se desde jovem e de alma e coração a “O Despertar”. Assumiu durante muito tempo a tarefa, nem sempre fácil, de angariar a publicidade que viabilizava a sua continuidade.
É recordado pelos amigos como um homem afável, simpático, respeitador e respeitado, amigo do seu amigo.
Lúcia Sousa Correia: A timoneira que sempre acompanhou os irmãos
No meio dos homens da família Sousa há também uma Mulher que se destaca: Lúcia Maria de Jesus e Sousa Correia. A filha de António de Sousa acompanhou sempre os irmãos no “leme” d’ “O Despertar” e, tal como a restante família, sentiu os seus problemas e viveu as suas paixões, que passou também para o filho, Fausto Correia, de quem falaremos a seguir.
Lúcia Correia foi também um dos grandes alicerces de “O Despertar”, um dos seus timoneiros. Digna sucessora de seu pai, trabalhou intensamente neste seu jornal e tinha sempre uma palavra amiga de incentivo, nas horas menos boas, para confortar toda a equipa.
Simpática e afável, partilhou durante muitos anos a gerência da António de Sousa (Herdeiros), Lda., empresa proprietária de “O Despertar”. Com o seu Curso Comercial, assumiu também, durante muitos anos, a responsabilidade de toda a contabilidade da empresa.
Lúcia Maria de Jesus e Sousa Correia faleceu com 82 anos, a 14 de dezembro de 2005, mantendo até ao fim da vida um grande entusiasmo com o jornal, sonhando até ao fim com o centenário.
Fausto Correia: O sonho interrompido
Fausto Correia foi um marco n’ “O Despertar”. A sua ligação ao jornal foi intensa e incansável. Esta era uma das suas paixões e sonhava comemorar o centenário. Deixou-nos há nove anos e ainda é difícil recordá-lo sem nos deixarmos embargar pela emoção e pela saudade.
Fausto Correia faleceu a 9 de outubro de 2007, aos 55 anos, em Bruxelas, sendo atraiçoado pelo grande coração que tinha. A sua morte chocou Coimbra e o país e deixou “O Despertar” de luto, com as suas páginas a vestirem-se de negro para prestar não a última mas uma grande homenagem a um homem que amava, de corpo e alma, este jornal.
Fausto Correia partiu cedo demais, partiu antes do tempo, quando tinha ainda tanto para dar ao seu Despertar. Fausto Correia era muito mais do que um Diretor, era o símbolo da esperança. “O Despertar” era assumidamente a sua “paixão” e o seu “compromisso”. Continua a ser recordado pelas suas qualidades de homem bom, com um grande coração, amigo de todas as horas que conquistou simpatias e fez amizades em todos os quadrantes políticos e em todas as classes sociais.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, Fausto Correia repartiu a sua vida entre o jornalismo e a política. Como jornalista integrou os quadros do “República”, foi um dos fundadores do diário “A Luta” e delegado da ANOP em Coimbra. Fez parte dos conselhos de administração da Rádio Difusão Portuguesa e foi vice-presidente da direção-geral da Agência Lusa.
A política era outra das suas paixões. O eurodeputado passou cerca de 40 anos ligado à política. Foi deputado socialista, secretário de Estado da Administração Pública, dos Assuntos Parlamentares, adjunto do ministro de Estado e adjunto do Primeiro-Ministro. Quando faleceu, além de eurodeputado no Parlamento Europeu, Fausto Correia era deputado à Assembleia Municipal de Miranda do Corvo e presidente da Mesa da Comissão Política da Federação de Coimbra do PS, estrutura de que foi o líder entre 1978 e 1980 e entre março de 2002 e abril de 2003.
Foi presidente da Associação Académica de Coimbra/Organismo Autónomo de Futebol e a vida política forçou-o a deixar o lugar antes do fim do mandato. Mantinha-se também muito ligado ao Olivais Futebol Clube, onde ocupava cargos diretivos.
No Parlamento, era membro da Comissão Parlamentar das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos e membro suplente da Comissão Parlamentar dos Transportes e Turismo do Parlamento Europeu.
Integrava ainda a delegação para as Relações com os Países da Comunidade Andina e era membro suplente das delegações para as Relações com o Mercosul e à Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana.
Com uma vida muito preenchida, passando muito do seu tempo em viagem entre Portugal e Bruxelas, tinha uma grande paixão por Coimbra, onde regressava todas as semanas. Muito dedicado à família, era casado com Maria de Lurdes Correia, tinha três filhos, Miguel, José e António Correia, sócios de “O Despertar”. Era filho de Maria de Lúcia de Sousa, um filho dedicado que diariamente lhe telefonava para saber como estava.
“O Despertar” vestiu-se de negro aquando da sua morte. Catorze das suas 24 páginas foram-lhe inteiramente dedicadas, com depoimentos de figuras de todo o país. “Nunca poderei pagar a Coimbra tudo o que me deu. Limitar-me-ei a pagar os juros dessas dádivas. Coimbra deu-me a família, o curso, os amigos, as tertúlias e a Académica, que para mim não é um clube mas uma paixão”, dizia Fausto.
A mesma paixão tinha pelo seu Despertar. “Comecei a escrever no jornal – o mais antigo do distrito de Coimbra – com 14 anos e hoje sou o director. É uma paixão e um compromisso”, dizia ele, manifestando o desejo de a partir de 2009, quando deixasse o Parlamento, regressar à sua cidade, “passar a ter uma semana de quatro dias de trabalho” e passar “a dedicar mais tempo ao Despertar”.
Mas, quis o destino que o futuro não se escrevesse assim. Fausto Correia desapareceu subitamente mas o seu sonho permanece. “O Despertar” não morreu e Fausto mantém-se, através dos filhos, ligado ao jornal que foi construído com tanta dedicação pelo seu avô e continuado, por vezes com tantas dificuldades, pela sua mãe e tios. Não deixar morrer “O Despertar” era uma das suas lutas. E conseguiu-o. “O Despertar” não morreu. Prosseguiu o seu percurso e chegou ao centenário. Cá estamos nós. Celebremos todos!
Os primeiros diretores
Nesta viagem pela história, há ainda outras quatro figuras que merecem especial destaque, entre muitos outros jornalistas e colaboradores que, ao longo destes 100 anos, participaram e ajudaram a construir o percurso de “O Despertar”.
São José Pires de Matos Miguens, Paulo Evaristo, Ernesto Donato e Sílvio Pélico, os quatro primeiros diretores do jornal.
Cavalheiresco, de nobre conduta e altos predicados, poeta de fina sensibilidade, Matos Miguens fundou “O Despertar” com João Henriques e outros amigos. Matos Miguens teve, por vezes, funções político-administrativas, foi poeta de mérito e musicólogo. Faleceu a 29 de março de 1930 e jaz no cemitério da Conchada.
Paulo Evaristo Alves assumiu também o cargo de Diretor, durante alguns impedimentos de Matos Miguens. Era de um espírito rasgado e lúcido, tendo sido um famoso regente da Tuna Académica de Coimbra.
Ernesto Donato sucedeu a Matos Miguens, após a sua morte, e manteve-se como Diretor durante quase três décadas, até falecer, tendo a sua morte sido noticiada na edição de 3 de dezembro de 1958.
Para além de Diretor foi também colaborador do jornal. Os seus artigos foram marcados pelo seu muito amor a Coimbra e profundo desejo de ver o progresso e a dignidade da cidade em alto relevo. Também dedicou numerosos artigos ao passado histórico desta sua cidade natal ou aos seus usos e costumes. Algumas das páginas mais belas sobre o folclore coimbrão e numerosas observações etnográficas devem-se à sua “pena” e encontram-se dispersas nas páginas de “O Despertar”.
No mesmo ano de 1958, em novembro, Sílvio Pélico surgiu como Diretor-Adjunto, sucedendo a Alcide d’ Oliveira. Esteve pouco tempo nesta função já que, com a morte de Ernesto Donato, passou a Diretor no mês seguinte. Permaneceu no cargo até falecer, em junho de 1968. Jurisconsulto, professor e jornalista, deixou bem vincada a sua personalidade em todos os cargos que exerceu no meio coimbrão. A sua colaboração, sempre gratuita, foi feita com dedicação e amor e sempre no mesmo sentido de cruzada da equipa deste jornal.
A morte de Sílvio Pélico surgiu numa altura em que a família Sousa estava cada vez mais presente. A partir de então, são os filhos de António de Sousa que assumem a direção d’ “O Despertar”, primeiro António Ameida e Sousa, depois Armando de Almeida e mais tarde Artur Almeida e Sousa. Já na primeira década do século XX, surge na direção o neto, Fausto Correia.