No passado dia 31 de março, 167 anos depois da sua morte, José Liberato Freire de Carvalho, uma das figuras incontornáveis do nosso primeiro liberalismo, natural de Montessão, passou a figurar na estatuária pública de Coimbra, muito justamente na rotunda que já ostentava o seu nome desde julho de 2015.
Tratou-se de uma iniciativa da Comissão Liberato, fundada em 2014 para divulgar a vida e obra de um homem multifacetado, que nos tempos incertos que atravessamos constitui um exemplo ainda mais pertinente, sobre a necessidade de defender os valores da liberdade e de prosseguir a luta contra a tirania.
Liberato pertenceu aos regrantes de santa cruz, foi jornalista, deputado, tradutor e memorialista, diretor da imprensa nacional e sócio da Academia Real da Ciências de Lisboa. Intelectual de relevo, viu-se envolvido na Guerra Peninsular e, logo a seguir, no Vintismo que nos conduziu à primeira constituição liberal, mais tarde também à carta constitucional, desempenhado um papel decisivo na mobilização dos emigrados liberais aquando da Guerra Civil de 1828-1834.
O seu envolvimento ativo na vida pública e política levaram-no a perseguições e à necessidade de se exilar. Demonstrou sempre desapego aos bens materiais, falecendo pobre em Lisboa, legando-nos uma vasta obra histórica, política e autobiográfica.
A referida comissão, de que faço parte desde a sua fundação, consciente da importância deste vulto da nossa história, com o inexcedível apoio da União de Freguesias de São Martinho do Bispo e Ribeira de Frades, presidida por Jorge Veloso, porfiou até que se fizesse a homenagem devida, saudando assim todos aqueles que a tornaram possível e se dignaram marcar presença na inauguração pública.
A cerimónia que marcou o arranque das comemorações do 250.º aniversário do nascimento de José Liberato realizou-se, como assinalei, na rotunda José Liberato, e contou com a presença de José Manuel Silva, presidente da edilidade conimbricense, bem como dos vereadores Carlos Lopes e Carlos Cidade. No uso da palavra o senhor presidente realçou a importância de um “lutador pelos ideais”, dando nota, também, da importância de iniciativas cívicas como a que vinha sendo desenvolvida.
O busto é uma bela e rara peça em bronze, modelada em barro e trabalhada em gesso pelo artista Hamilton Lima, de cuja oficina partiu para ser finalizada na Fundição do Regato, em Gaia.
Coimbra e Região ficaram mais ricos com este gesto, que se assinala para memória futura como penhor de que a história e identidade se não apagarão, enquanto os homens procurarem honrar e dignificar os feitos, as glórias e as personalidades do seu valiosíssimo passado.