Hoje é o DIA MUNDIAL dos AVÓS. Existe há poucos anos e foi sugerido pelo Papa Francisco. 26 de julho. Acreditem que para mim todos os dias são dia dos avós porque sempre pensei em vós desde o dia em que nasceram. Não é fácil ser avô. Acima de nós estão os pais a estipularem regras de comportamento e a recearem que um avô seja desregrado e quebre o esforço de educação dos progenitores. O avô tanto descomplica como muitas vezes é um chato e está em permanente estado de alerta, vigília e quase de alarme. Um avô é receio. É um medricas. Receia que vos aconteça algo de mal, receia os mergulhos na piscina, a estrada, as más companhias e tem pavor que o vosso comportamento seja desviante. Não te metas nisso! Em pequerruchos pegam no triciclo ou na bicicleta, caem, partem dentes e cabeça, fazem arranhões. E como é que um avô se justifica perante os pais? Não justifica. Vive cada momento de explicação gaguejando, receosamente, e a lembrar-se que no seu tempo com as fisgas só os pardais tinham de ter medo. O avô, às vezes, emproado, procura dar conselhos, abordar temas com alguma substância e, de repente, começa a jogar ao berlinde com os netos, qual berlinde? Agora entra na playstaion nos vários jogos e ei-lo a querer também comandar o jogo que resplandece no ecrã e quase parece real. Que grande jogada fez o Messi. Não. Agora quero ficar com a seleção nacional, joga tu com os argentinos – e o neto alinha na troca admitindo que ainda não há senilidade avoenga. A intergeracionalidade é gira. Um avô fornece valores e experiência e ajuda no cimento da construção familiar e ganha com o convívio com os netos. Já lá vai o tempo de vos mimar com chocolates, mcdonalds e outras ousadas transgressões à revelia dos ditames dos pais. Agora julgamos que podemos estudar convosco e, afinal, estamos desatualizadíssimos em relação às matérias do básico e do secundário. No momento em que se preparam para fazer candidaturas à universidade um avô puxa da sua enfezada experiência e proclama que deves seguir a tua vocação, mas embala a sugestão num vê lá se o curso tem saída e dá um emprego em que ganhes alguma coisa que a vida é difícil. Muitos avós de hoje trabalham com horários rígidos como os dos pais e não conseguem ser as amas-secas para que estavam destinados. Manipulam os netos quando percebem que eles dominam melhor a informática e vê lá se me vês isto aqui no telemóvel, será vírus? Perante colóquios familiares sobre longevidade e envelhecimento ativo, os netos justificam as mesadas: puxam efetivamente pelo físico dos avós. Caminha, anda, aguenta, mas devias ter feito um aquecimento. Deitam bofes pela boca e entra o som do hip-hop do auricular dos netos e tu devias fazer o mesmo, mas o avô mete nos ouvidos um dos podcasts do ciclo de meditações com que procura adormecer nas noites de quase regular solidão. Avós que convivem com netos vivem mais – autoconsola-se o avô. Falamos da importância da honestidade, do rigor, do caráter, da gentileza, da amabilidade que o avô transmite; e os netos envolvem-nos numa onda de recíproca generosidade e admitem que o avô pode ser eterno. Não sou eterno e por isso gosto até de ínfimos momentos convosco que sabem tão bem, tão doces!. Repito: avô não é eterno.
O AVÔ COSTUMA SER É TERNO.
Um dia feliz para os AVÓS que leem O DESPERTAR, jornal-avô de Coimbra.