A “única recompensa verdadeiramente valiosa” de um médico vem da “satisfação de tratar os vossos doentes, de contribuir para o seu bem estar, de salvar uma vida”. Esta foi uma das grandes mensagens transmitidas aos 360 novos médicos inscritos na Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) pelo presidente Carlos Cortes, durante a cerimónia do juramento de Hipócrates, um momento especial que simboliza a profissionalização dos jovens médicos formados em 2020.
“Saibam oferecer o reconhecimento mas não necessitam de o procurar para vós”, apelou o presidente da SRCOM durante este evento, que decorreu na terça feira, num formato diferente, online, devido aos condicionalismos impostos pela pandemia da Covid-19. Para Carlos Cortes, “os médicos não precisam apenas de prémios, de bónus, de aumentos salariais ou de mais dias de férias por aquilo que fizeram durante este ano pandémico”. Entende que “não fizeram mais do que aquela que era a sua missão e o seu dever ético e deontológico” mas alerta, contudo, que precisam de “condições adequadas para tratar os seus doentes”, assim como de meios humanos e outros recursos.
“Há uma falta grave de recursos humanos, de médicos, de enfermeiros, de auxiliares e mesmo de administrativos – tão simplesmente, porque – a planificação levada a cabo, nestas últimas décadas, foi desastrosa. As restrições financeiras impostas pelo ministério da Saúde impediram sempre de fazer as contratações mais prementes: é mais fácil colocar um médico a fazer tarefas administrativas, impedindo-o de estar com os seus doentes, do que contratar os administrativos necessários para essas tarefas”, alertou, denunciando também que existe uma “desvalorização gritante da formação médica”. Lembrou que todos os anos, “ficam mais de 300 médicos internos fora dos programas da formação especializada para a obtenção da especialidade porque – apesar dos avisos da Ordem dos Médicos – a tutela nunca, nunca, se preocupou em criar condições para incluir esses médicos e permitir que o país tivesse mais médicos especialistas e o Serviço Nacional de Saúde (SNS) pudesse dar a resposta que deveria”.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, teceu também duras críticas à ministra da Saúde, Marta Temido. “A ministra demitiu-se de liderar a saúde em Portugal”, acusou. Miguel Guimarães frisou que “ser médico é para sempre” e lamentou a realidade com que os profissionais hoje se deparam, queixando-se das consultas de cinco a 10 minutos e dos “rostos escondidos por trás dos ecrãs dos computadores”.
Marcelo Rebelo de Sousa também se juntou a esta cerimónia que, como disse, “marca o início de uma vocação ao serviço dos outros, de forma contínua”. O Presidente da República lembrou que a profissão de médico não é como as outras, uma vez que “não tem horas, dias, semanas”, tendo que “estar permanentemente disponíveis para os outros”.
“A vossa felicidade vai depender da felicidade dos outros”, realçou o Presidente da República.
Participou ainda nesta sessão o pró-reitor da Universidade de Coimbra, José Pedro Figueiredo, que desejou as “maiores venturas aos jovens médicos” e também às suas famílias, esperando que todos vivam este momento com “honra, consciência, esperança e entusiasmo”.