A escola foi ao longo dos tempos endeusada por uns, maltratada ou ignorada por outros. O que é mais grave, é que quase sempre foi o poder político (e não o povo) que a bloqueou, descaracterizou ou fechou. Tempos houveram em que o poder afirmava categórico: quem lê, treslê.
Em Vieira de Leiria, parte do povo foi sempre inconformado politicamente; muitos republicanos e antifascistas. No entanto, era pobre e dificilmente tinha acesso à escola. Vida dura, foi sempre, a dos vieirenses.
Trabalhavam nas fábricas de vidraria e de limas. Depois de um dia inteiro de trabalho, corriam para a praia, para entrar no mar nos grandes barcos da arte xávega. Outros pescavam no Verão e apanhavam lenha no Inverno; vendiam o peixe por todo o lado, a pé, com canastras à cabeça. Muitos iam para o Tejo, quando o mar se fechava, (avieiros) trabalhar no duro e em condições miseráveis.
Neste jardim público e parque infantil, onde me encontro agora, centralidade da vila, edificou-se a escola em 1927, concretizando um dos desígnios dos homens vieirenses da Primeira Republica.
Cumpriu a sua nobre missão durante perto de 50 anos, aqui neste local.
Um grupo de vieirenses quis imortalizar a memória da velha Escola Primária, guia da aprendizagem de muitas gerações de alunos que em igualdade, adquiriram saberes para a vida.
O escultor Fernando Crespo, oriundo de Coimbra, ofereceu pró- bono esta obra de arte, que enlevado enxergo, a Vieira de Leiria e ao país. [veja-se fotografia do texto].
A escultura celebra o Homem que, libertado pelo conhecimento, ascende a um chão superior. Convoca – nos, a todos, para essa tamanha caminhada.
Estamos em presença de uma obra de arte, admirável, agradecida e memória aos homens e mulheres que acreditaram no ideal republicano e a todos os professores que devotaram a sua vida ao ensino. Serviram um povo de lutadores, de nobre sabedoria popular.
Este monumento, que lobrigo, é para mim, um dos mais eloquentes defensores da escola pública.
Vemos o homem baixo, cabeça virada ao chão e o homem em cima, erguido pelo conhecimento e saberes.
Estou em frente de uma inovadora escultura. Ela fala. Diz muito e quase tudo.
Enxergo um inovador monumento em Vieira de Leiria (foto Inácio Nogueira)