A Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros (SRCOE) vai comemorar o Dia Internacional do Enfermeiro com um programa online, transversal, que vai decorrer na quarta feira, ao longo de todo o dia. De acordo com o presidente da Secção, Ricardo Correia de Matos, será um “talk show” onde “várias personalidades vão dar a conhecer as suas experiências e sentimentos não só para com os enfermeiros mas para com a saúde”.
Ricardo Correia de Matos realça que importa celebrar este dia mas também “valorizá-lo e levá-lo para uma outra dimensão, mais relacionada com a própria vida e não somente com a efeméride propriamente dita”.
“Foi um ano muito difícil para os enfermeiros, um ano de sacrifício pessoal ímpar. Ao longo dos últimos 10 anos temos vindo a reclamar ambientes mais seguros, com mais colegas, mas a verdade é que nunca nos tínhamos visto confrontados com uma necessidade tão abrupta e tão séria como esta que a pandemia veio trazer”, realça, congratulando-se com a resposta que os enfermeiros e toda a equipa multidisciplinar que a saúde envolve souberam dar, mostrando “uma dedicação hercúlea” em prol de todos.
Ricardo Correia de Matos frisa que, apesar de do ponto de vista político a gestão da saúde poder ser discutida, “a verdade é que a nível profissional nunca falhámos, estivemos ali sempre, milhares e milhares de horas a mais, mas nunca fechámos serviços por falta de pessoal”.
Considera que esta pandemia veio tornar mais evidente a “importância central” que os enfermeiros têm, sendo “os únicos profissionais que estão presentes em todas as faixas da cadeia de valor”. Lamenta que a valorização da profissão ainda seja “deficitária em Portugal”, o que resulta de “um fraco planeamento político da saúde e não por existir um mau reconhecimento do cidadão ou porque o enfermeiro não se auto-valoriza”.
Ricardo Correia de Matos diz, aliás, que o que está hoje em questão não é a “valorização individual de cada profissão” mas sim “a valorização política do setor da saúde, um setor que está muito subfinanciado, não tem na sua matriz uma meritocracia bem consolidada”. Considera que a pandemia evidenciou que se trata de “um setor gerido, muitas vezes, de forma amadora, com uma fraca relação entre os vários setores da saúde, nomeadamente com o setor privado e social, autarquias e com o poder local”. Entende que “há, ainda, aqui um trabalho muito grande a fazer neste setor, que começa já amanhã”, e do qual depende a construção de “um futuro melhor”.
Para o presidente da SRCOE, é preciso “fazer uma reforma construtiva do setor”, que aposte mais na promoção da saúde do que no tratamento da doença. Defende que os enfermeiros tenham aqui “papel ativo”, que “abracem esse papel e que queiram essa responsabilidade de construir modelos mais eficientes, sustentáveis e mais centrados nas necessidades da pessoas”.
“Penso que este é um momento chave de mudança porque esta pandemia veio mostrar a fragilidade da vida humana. Se não tivermos sistemas de saúde vocacionados, preparados, bem consolidados e estruturados, seremos abalroados por qualquer tipo de vírus ou bactéria”, sublinha, acrescentando que não tem dúvidas de que “o enfermeiro é o profissional melhor preparado para transformar essa realidade”, de forma a criar “um futuro melhor, para nós e para os nossos filhos”.