Uma sociedade que respeite e valorize os seus idosos está a construir um futuro melhor. Hoje, com o aumento da esperança média de vida, os cuidados e exigências são cada vez maiores e é certo que todos se devem unir para permitir que os nossos seniores possam envelhecer felizes, mantendo sempre uma vida ativa e com qualidade.
Cuidar dos nossos idosos é um dever de todos. Familiares, amigos e sociedade – com o envolvimento de todas as suas entidades – devem reconhecer a importância que os nossos “velhos” têm na construção de um futuro melhor, cabendo a todos acarinhá-los e não permitir que sejam esquecidos nestes dias incertos e de tanta instabilidade que vivemos.
O Dia Internacional do Idoso, que se comemora a 1 de outubro, tem, neste atual contexto de pandemia da Covid-19, uma missão ainda mais relevante, devendo ser aproveitado não só para sensibilizar a sociedade para as questões do envelhecimento mas também para analisar mecanismos que, neste contexto de isolamento social, ajudem a proteger a população idosa que se encontra, em tantos casos, fechada em casa, longe de familiares e amigos, tendo que lidar com a solidão e com as preocupações que são comuns a todos nestes dias que vivemos.
Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1991, o Dia Internacional do Idoso é, no fundo, um dia de alerta e reconhecimento. Alerta para as necessidades dos idosos; reconhecimento por tudo o que deram e continuam a dar, sendo um reportório de conhecimento, saber e experiência que não pode ser desvalorizado.
A evolução social e o progressivo aumento da esperança média de vida – fruto de maiores e melhores cuidados e da evolução registada a nível da saúde – traduz-se numa população mais envelhecida de quem importa cuidar.
José Ribeiro Ferreira, presidente da Associação Nacional de Apoio ao Idoso (ANAI), recorda que “o idoso já era muito respeitado na antiguidade”, mas já havia, porém, também “quem não os tratasse bem”. Hoje este é um tema que está muito mais na ordem do dia, havendo cada vez mais respostas para esta faixa etária, como centros de dia, lares, serviço de apoio domiciliário e atividades ocupacionais de toda a índole (culturais, formativas, recreativas, desportivas, entre outras).
Várias instituições dinamizam programas direcionados para a população sénior, bem como muitas câmaras municipais, juntas de freguesia e outras coletividades. A sociedade está alerta e consciente de que o envelhecimento traz novas exigências e tem respondido com mais e melhores serviços.
Desenraizamento é difícil
As estruturas residenciais para idosos, conhecidas vulgarmente como lares, são uma resposta para muitas famílias que, não tendo com quem deixar os seus “velhinhos”, optam por esta solução. Para José Ribeiro Ferreira, o lar deve ser sempre “a última opção” porque, “por muito bom que seja, significa sempre um desenraizamento das pessoas, um processo sempre difícil”.
“Quando as pessoas vão para um lar a queda é fatal. Na ANAI também sentimos a necessidade de ter um lar porque há utentes a pedir mas a verdade é que, no meu entender, sempre que possível, o ideal é que as pessoas se mantenham em casa, no seu lar e no ambiente onde viveram praticamente toda a vida”, realça. Compreende que a solidão e o facto de os filhos não terem possibilidade de estarem por perto obriga a tomar decisões, não tendo todos condições para se manterem em casa.
Os centros de dia são uma resposta fundamental em muitos casos, assegurando a ocupação durante o dia, enquanto as famílias estão a trabalhar, e permitindo o regresso feliz a casa. Assim, podem desfrutar das atividades diárias, conviver e trocar experiências, sabendo sempre que voltam ao seu ambiente ao final do dia. Quando o centro de dia não é solução, importa escolher um bom lar que garanta ao idoso um envelhecimento feliz e com qualidade de vida.
Para os idosos que se mantêm em casa há outra resposta muito importante, o apoio domiciliário, serviço assegurado por várias instituições que levam não só as refeições como prestam serviços de higiene pessoal e da habitação.
A nível de ocupação, não faltam propostas que desafiam os seniores a saírem de casa e a manterem-se ativos, física e mentalmente, como a Universidade de Tempo Livre (com formações muito diversas), oficinas, ateliês e também atividades desportivas. São muitas as entidades, públicas e privadas, que têm apostado nesta área do envelhecimento e que asseguram atividades dinâmicas e regulares destinadas a esta franja da população, mantendo-se assim também perto dos seus idosos, ajudando-os a viver mais felizes e garantindo que tenham outras redes de suporte, fruto do convívio e da amizade que acaba por resultar da partilha destas atividades.
Sociedade deve saber valorizar os seus idosos
Há, portanto, muitas atividades direcionadas para os mais velhos. Importa que eles delas tenham conhecimento e que, nesta fase das suas vidas, tenham vontade de experimentar.
A transição da idade ativa para a reforma nem sempre é fácil e aquele tempo livre que tanto se ansiava quando se trabalhava acaba, em alguns casos, por ser difícil de preencher quando a “agenda” fica completamente disponível. “A sociedade tem que arranjar formas de manter esta franja da população ativa e de valorizar este potencial. É certo também que depois das pessoas deixarem as suas atividades profissionais têm algumas dificuldades em adaptar-se à nova vida”, sublinha José Ribeiro Ferreira, incentivando-as a informarem-se sobre o que podem ou gostariam de fazer.
“É fundamental que mantenham mente e corpo ativos porque se ficam parados a quebra é colossal, muito profunda. Tenho assistido a muitos casos destes, porque as pessoas estão habituadas a levantar-se cedo, a manter uma rotina, e depois ficam perdidas. Se não arranjam uma atividade que faça com que saiam de casa, andem e convivam acabam por ter complicações profundas”, alerta.
Sublinha também o valor que os idosos têm para a sociedade e que não pode ser descurado. “Temos que aproveitar o acumular de experiências tão grande dos nossos idosos. Nós somos o acumular das nossas experiências, somos os atos que fomos praticando e acumulando na memória”, frisa.
Importa, por isso, acautelar não só a saúde física mas também a mental já que, como é sabido, há doenças que se agravam com o avançar da idade. José Ribeiro Ferreira considera fundamental assegurar que “a mente esteja ativa, seja trabalhada e não seja maltratada”.
Nesta altura em que se aproximam as comemorações do Dia Internacional do Idoso, enaltece “as suas grandes capacidades”, o seu papel na família e na sociedade, pessoas que, independentemente da idade, “têm muito para oferecer e não podem ser atiradas para a berma da sociedade”.
“Um país ou uma sociedade não pode delapidar este manancial de informação e conhecimento. Os nossos idosos estiveram em formação a vida toda, aprendendo sempre. Este banco de dados que é a memória das pessoas não pode ser desvalorizado”, sublinha.