13 de Junho de 2025 | Coimbra
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Sansão Coelho

CONVENTO DOS ANJOS EM MONTEMOR – O NOVO MUSEU E OS ANTIGOS MORCEGOS

16 de Maio 2025

Estamos perante uma aplaudida iniciativa: a recente criação do MUSEU MUNICIPAL de MONTEMOR-O-VELHO. Está instalado no CONVENTO DOS ANJOS que é um monumento nacional e nem sempre recebeu a devida atenção. Agora, finalmente, temos este edifício do século XV, várias vezes restaurado, como polo de memória. Um exercício memorioso atravessa este monumento à volta do montemorense FERNÃO MENDES PINTO que nasceu em 1509 e terá deixado o seu torrão natal, devido à pobreza, por volta dos 10 anos, rumando à capital, daí para Setúbal e depois zarpou em direção ao Oriente. Obviamente que tem lugar de destaque a sua obra escrita, PEREGRINAÇÃO, bem como os DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES. No exterior do Convento dos Anjos, do lado oposto à estrada nacional 111, está um belíssimo grupo escultórico que também evoca FERNÃO MENDES PINTO e a sua odisseia. Montemor-o-Velho presta, assim, justa homenagem a um dos seus mais destacados filhos e será tempo de reequacionarmos essa maldita frase feita FERNÃO, MENTES? MINTO. Na realidade, sendo impossível ter vivido tanto quanto narrou, bem como a maioria dos factos que enuncia, Fernão Mendes Pinto escreve NO SEU TEMPO e COM A MODA DO SEU TEMPO. Relata alguns factos que lhe contaram como se os tivesse vivido e outros talvez os tenha sobredimensionado, pois o exótico, o não-visto e o não-experenciado seriam moda.  É por isso que no entender de vários teóricos da literatura, Fernão Mendes Pinto é, também, o primeiro grande jornalista de viagens. Remeto os leitores para a série da Netflix dedicada à anterior rainha de Inglaterra, Elizabeth II. Há aí uma dramatização biográfica dando conta da vida da rainha em vários aspetos. E, se alguns são reflexo da realidade, há outros que trazendo atratividade são, contudo, mera ficção, entroncando, aliás, numa corrente, ou melhor, num conceito lançado nos anos 70 pelo escritor e teórico francês SERGE DOUBROVSKY denominado AUTOFICÇÃO, ou seja, uma mistura de autobiografia e ficção. Explora-se uma linha entre a realidade e o imaginário. Mais de cinco séculos depois FERNÃO MENDES PINTO está cada vez mais atual e o género autoficção está a transformar-se em tendência na literatura e também no cinema tal como dei, como exemplo, a série The Crown da Netflix.

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Um protagonista inesquecível da vida de Montemor-o-Velho, atravessando o século passado até 1970, foi HENRIQUE MILHEIRO então com 96 anos. Andava de bicicleta, dizem ter sido o funcionário com mais anos de Estado pois teve uma autorização que lhe permitiu trabalhar quase até à morte e esteve sempre ligado à Filarmónica 25 de setembro. Tocava clarinete e violino. Devido a um acidente de mota perdeu um dedo e dizia inconsolável PERDI o MEU MI e deixou o clarinete. Atuou algumas vezes no Convento dos Anjos a tocar violino. O Convento, agora belo museu, era naquela época um centro de morcegos; e era ver o Senhor Henrique Milheiro, o TI HENRIQUE como a população carinhosamente o tratava, a deixar as cordas do violino e a fazer do arco do instrumento uma arma para ceifar os morcegos. Em vez do espetáculo da música havia, encaixado, o espetáculo da luta contra os morcegos. Outros tempos. Histórias nunca faltam.

 


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