23 de Abril de 2025 | Coimbra
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Orlando Fernandes

COMENTÁRIO: INGENUIDADE DE PEDRO NUNO SANTOS

29 de Julho 2022

Pedro Nuno Santos não um neófito da política. Tem, aliás um sólido currículo político. Foi líder da JS entre 2004 e 2008. Foi líder da Federação Distrital de Aveiro do PS, entre 2010 e 2018. Foi deputado entre 2005 e 2015. Foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no primeiro Governo de António Costa, no final do qual passou a ministro das infra – Estruturas e da Habitação. E na qualidade de secretário de Estado teve a responsabilidade de coordenar as relações e as negociações com o BE, o PCP e o PEV, durante o acordo bilateral de incidência parlamentar que deu suporte ao primeiro Governo de António Costa.

Dito istro, não se percebe por que razão, avançou com a divulgação de um despacho do seu ministério em que tornava oficial a decisão do Governo de avançar com a construção de um aeroporto com uma pista na Base Aérea do Montijo, até 2026, para servir de apoio ao aeroporto de Lisboa, e com a construção de raiz de um novo aeroporto no Campo de

Tiro de Alcochete, até 2035. E deu à RTP uma entrevista sobre o assunto assumindo a liderança do processo e desautorizando o primeiro-ministro ao afastar a necessidade de ser encontrado consenso com o novo líder do PSD, Luís Montenegro, assim como o dever de informar o Presidente da República sobre a decisão.

Tudo a ser estrondosamente desautorizando pelo primeiro-ministro, António Costa através de um duríssimo comunicado de imprensa que começa por afirmar: “O primeiro-ministro determinou ao ministro das Infra – Estruturas e da habitação a revogação do despacho publicado sobre o Plano de Ampliação da Capacidade Aeroportuária da Região de Lisboa,” Para pôr Pedro Nuno Santos no seu lugar de ministro, ao lembrar que “compete ao primeiro-ministro garantir a unidade, credibilidade e colegialidade da acção governativa”.

A desautorização prossegue com a garantia de que António Costa “reafirma que a solução” sobre a política aeroportuária “tem de ser negociada e consensualizada com a oposição, em particular com o principal partido da oposição”, acrescentando que a decisão não pode ser divulgada, “em circunstâncias alguma, sem a devida informação prévia” ao Presidente da República. E mantém a posição de se reunir com novo líder do PSD, “para definir o procedimento adequado a uma decisão nacional, política, técnica, ambiental e economicamente sustentada” sobe a estratégia aeroportuária.

Repito, Pedro Nuno Santos é um político experimentado, com um sólido pensamento político-ideológico bem como estratégico. Têm feito, desde 2018, o seu caminho para um dia se candidatar a secretário-geral e tem construído a imagem de líder da ala esquerda do PS e defensor de acordos de Governo à esquerda. Nesse ano, antes do Congresso, em entrevista à Antena 1, perante a pergunta sobre se o futuro queria ser secretário-geral, respondeu: “No PS, só me falta isso”.

Também antes desse congresso, polemizou com Augusto Santos Silva sobre a linha política do partido, em artigos de opinião. E apresentou uma moção sectorial sobre o modelo económico para o país que, na prática, era uma moção de estratégia global. O protagonismo que então ganhou, até pelo tom de liderança que imprimiu à sua intervenção nesse congresso, levou o secretário-geral, e primeiro-ministro, António Costa, a declarar, no discurso de encerramento: “Eu ainda não meti os papéis para a reforma.”

Desde então, Pedro Nuno Santos nunca deixou de afirmar o seu protagonismo dentro do PS. Por exemplo, nas presidenciais de 2021, apoiou Ana Gomes, quando António Costa á tinha apoiado Marcelo Rebelo de Sousa. No Governo, foi defendendo as suas ideias, mas sempre soube gerir as divergências com o primeiro-ministro mesmo sendo desautorizando por António Costa, como aconteceu em relação à TAP, quando em Dezembro de 2020, Pedro Nuno Santos quis levar o plano de reestruturação da TAP a discussão no Parlamento, deixou que a intenção fosse comentada por Luís Marques Mendes, na SIC, sem que tivesse dado prévio conhecimento a António Costa. E foi então travado pelo primeiro-ministro. Só que esse confronto não assumiu as proporções de desautorização política que significa a atual revogação do despacho.

Não pode ser por ingenuidade que Pedro Nuno Santo avançou com este anúncio de forma unilateral. Sabia o que estava a fazer. Daí que fosse possível questionar se queria romper com António Costa e sair do Governo, de modo a poder traçar o seu caminho de oposição interna e posicionar-se para o futuro, sem estar colado à imagem da governação do ctual primeiro-ministro.

A sua permanência na pasta e a forma humilhante como engoliu a gravata, na declaração em que anuncio que saía do Governo, dizem que não queria. Mas Pedro Nuno Santo está agora politicamente, fragilizadíssimo. Só que não é só ele. Este caso fragilizou também a autoridade do primeiro-ministro.

 


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