O Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) deverá entrar em funcionamento em junho de 2024 no antigo ramal da Lousã, entre Serpins (Lousã) e Largo da Portagem (Coimbra), disse o presidente da Metro Mondego (MM), João Marrana.
Numa iniciativa em Miranda do Corvo, uma das vilas atravessada pelo MetroBus, que incluiu uma visita às obras na passada sexta-feira (17), João Marrana adiantou que o sistema será estendido a Coimbra B e aos Hospitais da Universidade de Coimbra no final do próximo ano.
O arranque da operação suburbana, através de autocarros elétricos em via dedicada, estava marcado para o primeiro trimestre de 2024, mas agora foi revisto para junho desse mesmo ano.
Em janeiro, João Marrana ainda mantinha o arranque do troço suburbano para março de 2024, apesar de admitir, já na altura, a existência de empreitadas críticas que poderiam levar a uma derrapagem de prazos. “Estes prazos são fiáveis e a nossa expectativa é conseguir cumprir, mas há imponderáveis que não conseguimos prever. Ninguém contava que houvesse uma pandemia em 2020 e aconteceu e ninguém contava que houvesse uma guerra em 2022 e aconteceu”, sublinhou o responsável.
Segundo João Marrana, está previsto que o primeiro veículo do MetroBus, já homologado, chegue em novembro deste ano para testes no canal de circulação.
Após uma paragem de cerca de 10 anos sem obras no antigo ramal da Lousã, o presidente da MM reconhece que existe “um passivo muito grande em termos de credibilidade, que é preciso reconhecer com toda a franqueza, e as pessoas são céticas relativamente a este projeto”.
No final da visita a dois pontos de obra em Miranda do Corvo, após uma apresentação de todo o projeto, João Marrana salientou que apenas falta lançar a empreitada complementar para os equipamentos do Parque de Manutenção e Oficinas que está a ser construído em Ceira.
O responsável afirmou que a empreitada entre Serpins e Alto de São João, “apesar de muito atrasada face àquilo que era previsto” (falhou o prazo inicial e a prorrogação inicialmente concedida), “deverá estar concluída até ao final do presente ano”.
O presidente da MM referiu ainda que a empreitada do troço entre o Alto de São João e a Portagem não o preocupa de momento, apesar de “algum atraso motivado sobretudo por algumas alterações ao projeto e por algumas das infraestruturas não estarem bem cadastradas”.
De acordo com o presidente da Metro Mondego, a reformulação da intervenção em Coimbra-B levou a uma redução da sua intervenção no âmbito da empreitada do SMM. “Houve uma reformulação do projeto para o tornar compatível com projeto de alta velocidade”, esclareceu.
João Marrana voltou a frisar que qualquer alteração substancial de trajeto do projeto, como é defendido por movimentos ambientalistas, “levaria a uma perda de cinco anos ou mais na execução do projeto”.
Sobre as empreitadas paralelas de infraestruturas que decorrem junto ao traçado do SMM, o responsável esclareceu que as redes de saneamento e de água têm de ser desviadas para fora do canal. “Se houvesse uma rutura numa adutora, teria de se fechar o canal durante essa intervenção. Em todos os sistemas ferroviários ou de metro, é necessário desviar as infraestruturas para fora do traçado”, explicou.
Custo de três a quatro milhões de euros por ano
A Metro Mondego encontra-se a calcular o custo da operação e a verba anual que terá de ser transferida pela administração central, estimando-se um valor entre “três a quatro milhões de euros por ano”, disse João Marrana.
O contrato de serviço público a ser assinado “ainda não está estabilizado”, com a Metro Mondego a fazer, de momento, uma “atualização dos estudos anteriores e a afetação dos recursos e turnos que serão necessários” para a operação.
Esse contrato irá estabelecer o pagamento anual por parte da administração central para suportar a operação do SMM, que vai contar com um troço suburbano, entre Serpins (Lousã) e Coimbra, e outro urbano, servido por autocarros elétricos em via dedicada (na grande maioria do traçado).
“O pagamento daquilo que é a prestação de serviços que a empresa faz e não é rentável é uma decisão que tem de ser estabelecida entre o Estado e a Metro Mondego. É também preciso perceber até onde devemos ir e até que horas o sistema deverá estar a funcionar e isso leva a obrigações de serviço público diferentes”, aclarou.
João Marrana explicou que, caso haja uma maior disponibilidade por parte do Estado, o SMM pode ter “uma oferta melhor” e, se houver menos, existirá “uma oferta mais contida”.
Relativamente à entidade gestora do sistema intermodal de transportes da região de Coimbra – AGIT, o responsável da Metro Mondego afirmou que o despacho para a criação da estrutura “aguarda publicação” e que os documentos associados “estão a ser estabilizados”.
“Esta entidade tem de estar em funcionamento antes do início da operação do SMM, visto que vai determinar a repartição das tarifas entre os vários operadores de transportes na região de Coimbra, com a Metro Mondego a ter como expectativa não ter tarifa própria, mas antes uma tarifa intermodal”, referiu.
Esses estudos, adiantou, “estão a ser atualizados para podermos definir em rigor a tarifa que irá ser comercializada pelos diversos operadores”. Por último, assume ser necessário “que exista uma tal entidade que faça essencialmente pelo menos uma coisa, que é a repartição de receitas que não pode ser feita por nenhuma das partes”.
Apesar de já ter recusado por várias vezes participar na discussão sobre a expansão do SMM, João Marrana vê com bons olhos a criação de uma linha que sirva a margem esquerda do Mondego e Condeixa-a-Nova. “Dos resultados apresentados, julgo que Condeixa parecia ser o mais promissor, quer em termos de procura, quer em termos de volume de investimento. Acho que faz todo o sentido pensar em expandir o sistema, mas agora estamos focados, sobretudo em pôr o sistema a funcionar”, vincou.
João Marrana realçou que “não faz sentido quem ainda não conseguiu pôr a funcionar o seu sistema” participar na discussão, já que isso poderia ser visto “como pouco credível”.
Questionado sobre a credibilidade do SMM, João Marrana reconheceu a descredibilização do projeto face às duas décadas de “promessas incumpridas”. “Estou convencido de que vai demorar algum tempo [até o sistema atingir a velocidade de cruzeiro], mas, a partir do momento em que estiver em operação, as pessoas vão aderir, porque vão reconhecer que é um sistema de alta performance bastante diferente do que estão habituados”, referiu.
Para João Marrana, a adesão será também maior quanto mais alinhadas estiverem as políticas de mobilidade da cidade com a prioridade centrada no transporte coletivo e modos de mobilidade suave.