Por vezes, basta falar e ter alguém que saiba ou seja capaz de ouvir. Esta foi a principal mensagem deixada na sexta feira, durante a assinatura do acordo estabelecido entre a Câmara Municipal de Coimbra e a Associação de Psicologia e Desenvolvimento Comunitário (APDC), assinado pelos respetivos presidentes, Manuel Machado e Fábio Mateus, no âmbito da campanha “Vamos Falar” e do Dia da Saúde Mental.
A sessão abriu com a exibição de um pequeno vídeo protagonizado por Quimbé, onde o ator contou a sua experiência pessoal, alertando para a “dor” que tantas vezes se esconde por trás do sorriso. De uma forma emocionada, recordou um dos momentos difíceis da sua vida e sublinhou a importância do falar, agradecendo à amiga que, sem o saber, o salvou.
Este é apenas um de 15 testemunhos que, de acordo com Fábio Mateus, integra a campanha “Vamos Falar” e que “tem gerado uma onda de reconhecimento da importância do falar”, tendo a associação recebido “dezenas de contactos de pessoas que se identificam com estes testemunhos e que nos pedem ajuda”.
A Câmara de Coimbra foi a primeira autarquia portuguesa a aderir a esta campanha. “Estamos a viver um tempo que é muito especial”, disse Manuel Machado, afirmando que, mais do que nunca, é preciso dar uma demonstração de “resistência e resiliência para não se deixar cair no buraco”.
O autarca recordou as várias medidas de apoio que a Câmara tem vindo a lançar desde 11 de março, com vista a responder à pandemia da Covid-19 nas mais variadas vertentes. “Temos consciência de que não conseguimos fazer tudo o que a nossa vontade impele mas temos que fazer. Temos todos que cerrar fileiras para a ação concreta. Não exibir, mas realizar”, disse.
Manuel Machado sublinhou ainda que “devemos ter todos os sentidos despertos para ajudar, falar, colaborar e para partilhar a vida com muitas pessoas que estão em situação difícil, frequentemente sem terem noção da situação em que se encontram”.
Apoiada pela Direção Geral de Saúde (DGS), “Vamos Falar” é uma campanha nacional de promoção e prevenção da saúde mental, que prevê ações de sensibilização dirigidas à comunidade da cidade e também aos trabalhadores municipais. Visa, como explicou Fábio Mateus, sensibilizar para a importância do falar e do ouvir, considerando que é fundamental que todos saibam que podem ajudar a combater o estigma que ainda existe quando se fala em saúde mental.
A questão do estigma foi também abordada pelo presidente do Conselho Regional de Saúde Mental da Administração Regional de Saúde do Centro, João Redondo. Numa breve intervenção sobre o tema, disse que “o estigma condiciona a vida de quem sofre de doença mental” e sublinhou que é fundamental “criar condições facilitadoras para ouvir quem sofre”.
“Um dos nossos deveres enquanto humanos é ouvir aqueles que mais sofrem. Para eles, contar a sua história ajuda. É preciso encontrar espaço para ouvir”, apelou.