19 de Abril de 2025 | Coimbra
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João Pinho

CMTV – Nos confins da liderança

23 de Setembro 2022

Há muito tempo que a CMTV, disponível em todas as plataformas do cabo, exceto na TDT, reforçou a sua posição como líder de audiências na informação nacional. Os shares não deixam qualquer margem para dúvidas, superando largamente os canais concorrentes, como CNN-Portugal, SIC-Notícias ou RTP3. Uma preferência dos portugueses no acompanhamento dos temais mais relevantes da atualidade, incluindo o horário nobre, com audiências médias na casa dos 1,5-2 milhões de espectadores, só no prime time, e 140 mil telespectadores a cada minuto – projetando a estação para patamares de investimento publicitário sem rival à altura.

O seu êxito resulta, contudo, de uma agressiva política de comunicação de informação (por vezes, diga-se, de desinformação) que explora mais as misérias do que as grandezas, que se vão sucedendo na sociedade, com óbvio enfoque no território nacional. As cenas de faca e alguidar, do Portugal profundo ao Portugal cosmopolita, mobilizam agilmente os meios disponíveis, numa intensa propaganda dramática, pois é aí que se começa a ganhar as sucessivas batalhas da guerra das audiências: um homicídio aqui, uma violência doméstica acolá, um despiste na estrada nacional ou o acompanhamento de incêndio rural, garantem a atenção e simpatia do povo simples, que se revê naquele tipo de informação, descuidada e quem sabe desrespeitadora dos mais elementares direitos de personalidade – sem que se saiba, no meio do caos informativo, por onde anda a Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Não sou por isso, um “habitué” deste canal, que transforma informação em entretenimento, embora, esporadicamente, confesso, o sintonize na busca de noticiários ou acompanhamento de alguns jogos de futebol. E é exatamente neste último campo – vida futebolística nacional – que mais me surpreende a linha editorial da estação. Agindo muitas vezes como juiz, não se coíbe de noticiar, antes devassa, em programas específicos, a vida pessoal e privada de treinadores, dirigentes, atletas. A inexistência de equidade no tratamento entre as três equipas grandes, quiçá ditada por razões de sobrevivência e liderança já assinaladas, leva a que, por exemplo, tenhamos um atleta a ser ridicularizado todas as semanas – o Tarenálti, segundo a CMTV, mas que na realidade se apelida de Taremi, nome de um futebolista iraniano que tem sido vítima de uma certa intoxicação que raia os limites da xenofobia.

Na verdade, há muito que a estação referida se comporta como se fosse uma sucursal dos poderes desportivos instalados em Lisboa, esquecendo-se, creio que intencionalmente, do país desportivo não subserviente que subsiste para além do Terreiro do Paço. É pena que assim seja, pois todos somos portugueses, e temos direito às nossas simpatias e, sobretudo, a uma igualdade de tratamento.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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