O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) vai abrir mais cerca de 70 camas para doentes covid-19 não críticos, se possível ainda esta semana, uma vez que foi já atingido o limite da sua capacidade de resposta. Esta medida só é possível, contudo, à custa da suspensão de alguns Serviços, como atividade cirúrgica não prioritária, e da diminuição das respostas noutras áreas.
O Plano de Contingência inicial previa 90 camas para doentes covid estáveis, mas neste momento o número ronda já as 161 e por isso, à custa do esforço de profissionais e do condicionamento de outras atividades, as vagas serão alargadas até às 230 camas.
No Hospital dos Covões vão ser abertas mais 19 camas, em duas unidades. O presidente do CHUC, Carlos Santos, admitiu, esta terça feira, que a carência de recursos humanos é “evidente, no CHUC e no Serviço Nacional de Saúde”. “Os profissionais estão todos em esforço e haver camas é importante, mas não pode haver camas sem recursos humanos”, frisou, notando que terá de se cancelar alguma “atividade presencial não prioritária para libertar recursos médicos, de enfermagem”, entre outros.
“Neste momento há apenas uma vaga para doentes covid estáveis”, alertou, adiantando que estão já a ser criadas condições para alargar a capacidade de resposta já esta semana, mas que é “preciso reorientar doentes internados nas enfermarias e organizar circuitos, fazer desinfeções”.
Segundo Carlos Santos, “ao contrário da primeira vaga da covid-19, desta vez não houve suspensão de atividade, nem redução significativa nas urgências que, à data, contabiliza em média 80 e 300 episódios diários, no Hospital dos Covões e no polo dos HUC, respetivamente.
“O serviço de urgências do Hospital Geral [Covões] permite que os doentes possam permanecer durante algum tempo no serviço e temos duas unidades de retaguarda – duas IPSS [instituições particulares de solidariedade social] – para transferência e drenagem de doentes”, acrescentou.
Nos cuidados intensivos, estavam disponíveis 53 camas para doentes críticos com covid-19, estando 43 ocupadas, ou seja, uma taxa de ocupação que é já superior a 90 por cento.
Carlos Santos sublinhou, ainda, que há um “esforço enorme” para “dotar as equipas dos meios necessários, mas nem sempre é possível”. “Não se podem desfalcar equipas de emergência porque também estas são necessárias”, disse, em resposta à carta que um grupo de médicos internistas fez chegar ao Conselho de Administração.
Segundo a intensivista e membro da Direção clínica do hospital, Paula Casanova, “o problema não é o espaço, nem os meios”, realçando a necessidade de ter “menos doentes e mais técnicos para tratar”, sendo a falta de enfermeiros a mais sentida, no que toca à carência de recursos humanos.
O Diretor de Medicina Interna do CHUC, Armando Carvalho, reconheceu que a “sobrecarga de trabalho para a medicina interna é brutal” e que os seus colegas estão “cansados”. Admitiu, contudo, que desde o início de 2020, o serviço perdeu cinco elementos especialistas, tendo agora “o dobro do trabalho”. Na Medicina Interna estão, atualmente, 56 especialistas mas, segundo o médico, “só para assegurar as tarefas habituais seriam necessários, pelo menos 78 ou 80”, para que não haja necessidade de horas extra ou de prescindir de férias.
“O problema não são muitas pessoas a adoecer, é sim muitas pessoas a adoecer ao mesmo tempo com uma doença que necessita de mais tempo de internamento e mais cuidados”, ressalvou o médico, apelando às pessoas para seguirem as recomendações das autoridades de saúde no que toca à prevenção e combate à covid-19.