19 de Abril de 2025 | Coimbra
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JOSÉ RIBEIRO FERREIRA

Cavalo de Troia

4 de Fevereiro 2022

Ulisses, na Ilíada e ao longo da Guerra de Troia, foi um herói que, além de corajoso e de adquirir grande destaque, com missões delicadas e de grande perigo, se distinguiu pela sua inteligência e astúcia, com estratagemas e disfarces vários: integrou, com Ájax e Fénix, a embaixada a Aquiles; fez a incursão ao acampamento troiano, na companhia de Diomedes, durante a qual captura e elimina o espia Dólon e depois, de posse das informações que dele colhe, mata o rei dos Trácios Resos e rouba os seus cavalos; capturou o adivinho Heleno, filho de Príamo e Hécuba e irmão gémeo de Cassandra, que revelou aos Aqueus oráculos fundamentais para a conquista de Troia. O mais influente desses estratagemas, e talvez o mais conhecido também, foi a artimanha do cavalo de madeira que esteve na base da queda da cidade e pôs fim à longa guerra. Trata-se, é evidente, do célebre episódio do cavalo de Troia, que é narrado na Odisseia e desenvolvido pelos poetas posteriores.

Duravam os confrontos há dez anos, sem perspetivas de termo próximo para a dolorosa e devastadora guerra que já tantas mortes e sofrimentos causara, até que um dia o industrioso Ulisses se lembrou de propor – por iniciativa própria ou por indicação do adivinho troiano Heleno – a construção de um cavalo gigante, de madeira, em cujo bojo seria introduzida a fina-flor dos guerreiros gregos. Simulariam os Aqueus a retirada e fariam transmitir a Troia – por Sinão, primo de Ulisses, que de maneira fraudulenta, é evidente, procurou deixar-se capturar pelos Troianos – a notícia de que a gigantesca estátua era uma oferta à deusa Atena, com o fim de obter a vitória; mas, se por azar os Dárdanos a introduzissem na sua cidade, tal seria o fim da Grécia e a sua desgraça. Não desconfiaram da fraude os crédulos Troianos e tudo fizeram os seus chefes para levar o cavalo até à cidadela. Só duas pessoas discordaram e procuraram impedir essa louca empresa: Cassandra e o sacerdote Laocoonte. Previu a jovem princesa, filha de Príamo e de Hécuba, que esse cavalo seria a ruína da cidade, mas as suas palavras, como veremos, não tinham crédito e ninguém as levava a sério. Quanto a Laocoonte, a sua voz ficou sufocada no abraço mortal de gigantescas serpentes, enviadas por Apolo, quando, na tentativa desesperada de evitar a entrada do funesto cavalo no interior das muralhas, contra o bojo do monstro arremessa dardos.

E assim foi introduzido na cidade o cavalo, de cujos flancos Sinão fez sair, pela calada da noite, os guerreiros aí escondidos. Logo abriram as portas ao exército grego que se precipitou no interior. E Ílion foi tomada, foi incendiada, foi destruída.

Em conclusão, o pomo de ouro, deixado por Éris-Discórdia, esteve na origem do Julgamento de Páris, causou a morte de muitos – guerreiros, e também homens, mulheres e crianças inocentes — e levou à consequente queda de Troia.

E deste modo o famoso episódio nos legou a expressão cavalo de Troia, para designar um elemento de traição, colocado no campo adversário e que provoca ou vai cavando a sua ruína. E não é raro ouvir-nos ‘fulano ou sicrano é o cavalo de Troia na empresa X ou na família Y’.


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