Chegou de forma repentina e inesperada. Apanhou desprevenido o mundo, não poupando género ou idade. O novo coronavírus continua a fazer vítimas e a principal recomendação continua a ser “fiquem em casa”. Mas, será assim tão fácil acatar este apelo?
Em Brasfemes a população tem respondido bem. Paulatinamente as pessoas foram-se habituando a estar em casa, cada agregado familiar na sua, obrigando à separação de avós de netos e mesmo de filhos adultos e pais. Não será, certamente, fácil de aceitar ou compreender este afastamento e este evitar da partilha de afetos quando, neste cenário de tristeza e ansiedade, tanto poderia significar um simples abraço.
O presidente da Freguesia, João Paulo Marques, assume que a maioria da população está a corresponder ao desafio. “Aos poucos, as pessoas foram mudando os seus comportamentos. São poucas as que andam pelas ruas, acautelando com alguma inteligência e solidariedade este apelo. Noto que estão praticamente quase todas em casa – as que estavam a trabalhar e as que não estavam”, explica.
Mas, sendo a maioria da população idosa, tendo por isso vivido já períodos de grandes dificuldades e privações, assume que não é fácil. Dá como exemplo a história de um dos seus tios que, ainda jovem, foi enviado para a Guerra da Ultramar. “Ele diz-me que foi, assim como grande parte da sua geração, privado da liberdade em toda a sua juventude. Mais tarde já na tropa de Mafra levaram-nos para Lisboa, onde nunca tinham estado, meteram-nos num barco e, de repente, estavam noutra capital do outro lado do mundo, onde tiveram inclusivamente que fazer jangadas porque o navio não atracava no porto. Puseram-lhes espingardas nas mãos e mandaram-nos matar”, conta. Como se tal não bastasse, continua, “tiveram que lutar contra doenças que nem conheciam, como a malária”, tendo mais tarde que ultrapassar outras lutas bastante difíceis, como a Revolução de Abril e, mais recentemente, a grande crise económica que abalou o país.
“Como é que convencemos estas pessoas, que já passaram por tanto e sobreviveram, que estão a viver agora uma guerra diferente, onde o ‘inimigo’ é invisível e onde a solução passa por mantermo-nos em casa?” – questiona.
João Paulo Marques compreende, perante esta partilha de memórias, a forma de pensar de muitos dos portugueses desta faixa etária. Sublinha, contudo, que também eles têm a mesma ânsia de viver e de ultrapassar esta fase. Para isso, é preciso que a mensagem de esperança e o significado desta “luta” lhes seja passada de uma “forma clara, didática e sentida e não bombardeando-os com números”. Sabe, até pela experiência da sua freguesia, que “basta fazer-lhes sentir que estão a fazer este sacrifício de ficar em casa não só pelo seu bem mas também pelo dos outros, mostrar-lhes que não vê hoje o neto para o poder abraçar amanhã”.
Deixa, por isso, uma mensagem de esperança a todos, certo de que “em breve nos iremos poder abraçar novamente e perceber que estes foram apenas uns meses de pausa nas nossas vidas, que trouxeram grandes mudanças mas que não nos tiraram a esperança no futuro”.
Feira Gastronómica cancelada
A Covid-19 não está apenas a fazer com que as pessoas fiquem em casa. Está a obrigar a uma mudança social geral, com as escolas, equipamentos sociais, juntas e outros serviços a manterem-se fechados e a alterarem a sua forma de atuação.
A Junta continua encerrada para atendimentos presenciais. O próprio presidente disponibilizou o seu telemóvel para assuntos urgentes (917 830 880) e quem necessitar pode também contactar os serviços através do e-mail jf.brasfemes@gmail.com.
O cemitério está também sujeito a restrições, podendo entrar apenas 10 pessoas no interior e um máximo de 20 no caso de funerais, havendo a obrigatoriedade de cumprir todas as regras de distanciamento.
A nível de eventos, foram cancelados todos os que estavam programados até final de junho, sendo de destacar a bem conhecida Feira da Gastronomia, que envolve habitualmente toda a freguesia.