Coimbra vive, há muitos anos, no dilema de querer afirmar-se como capital de uma região, de dispor, aparentemente, dos meios mais profícuos para o conseguir fazer – história, memória, identidade, conhecimento – mas de falhar, consecutivamente, quando chega o momento das grandes decisões
Os últimos capítulos foram, uma vez mais, desastrosos: a descida história da AAC-OAF e o desfecho do processo de candidatura a capital europeia da cultura. Embora de áreas diferentes – desportiva e cultural – tais situações não podem ser dissociadas e têm na origem um mesmo denominador: por um lado, a inexistência de união expressiva em torno de bandeiras ou ícones do seu universo; por outro, a incapacidade de gerar uma visão abrangente e integradora do território
É muito fácil dizer que se gosta de Coimbra, que se sente Coimbra, que se nutre por Coimbra uma sensibilidade especial. Isso é visível no todo nacional, com expressão além fronteiras, muito por força do prestígio universitário, reconhecido, aliás, na classificação de património da humanidade pela UNESCO em 2013.
Mas de que nos serve a simpatia e empatia, quando não conseguimos reocupar o lugar que por direito é nosso? Porque não conseguimos unir todas as peças do puzzle em prol de ideais comuns? Envolver os cidadãos e o território em torno da marca Coimbra? Estas e outras perguntas, que seguem na mesma linha, continuam sem respostas.
Um dos fatores que muito tem contribuído para este estado de coisas reside, a meu ver, nas múltiplas guerrinhas escondidas sobre a aparente serenidade alcandorada sobre a mítica colina: uma cidade que ainda funciona na base de quintas e quintinhas gerando instabilidades recorrentes, um bairrismo que se foi perdendo com o esvaziamento do centro histórico, um tecido-económico não tão frágil como querem fazer crer, mas que não consegue remar para o mesmo lado, e uma ausência de lideres e lideranças, capaz de bater o pé a Lisboa, à semelhança do que o Porto sempre fez, com maior ou menor sucesso, entalando Coimbra entre a bipolarização.
Numa altura em que a comunidade estudantil bate o pé ao reitor, a meu ver com toda a razão, talvez seja tempo de parar para pensar. De lançar uma discussão aberta sobre o que foi Coimbra, o que é Coimbra e o que se deseja que Coimbra seja no futuro. De criar um grupo permanente de pressão junto dos centros de decisão, de forma a não perdermos o comboio das grandes realizações.
Do ponto de vista político, por onde quase tudo passa, Coimbra tem vindo a perder expressão, sendo as exceções mais visíveis, as trazidas por Marta Temido, Ministra da Saúde e a presidência da Anafre, por Jorge Veloso.
A continuarmos por este caminho em breve deixaremos de ter vozes ou rostos credíveis, o que seria um crime lesa-pátria numa cidade que deu tantos talentos ao mundo, mas dos quais, pouco recebeu. Vale a pena pensar nisto…em especial pelas novas gerações de autarcas, de quem muito esperamos.