A jornada, no último domingo, em homenagem ao Dr. FERNANDO ROLIM, veio solidificar a vitalidade que marca o Fado e a Canção de Coimbra. Médico, conimbricense nascido na Couraça dos Apóstolos e CANTOR DE COIMBRA, Fernando Rolim, aos 93 anos, escutou um tributo justíssimo. Receberá no Dia da Cidade a medalha de ouro. É um dos nomes grandes do Fado de Coimbra e é o decano. Destaco a plêiade de guitarristas, de violas e de cantores qua atuaram nesta sessão: Grupo CANTARES e GUITARRAS DE COIMBRA, Grupo RAÍZES e Grupo CANÇÃO DE COIMBRA. Para além de termos escutado um tema novo do Manuel Portugal, os executantes das formações indicadas atravessaram, principalmente, a obra de Rolim interpretando algumas das composições que marcam a sua carreira. A genialidade do nosso fado, chamem-lhe fado de Coimbra, canção de Coimbra, música de matriz coimbrã ou Serenata Coimbrã como teorizou o saudoso maestro Francisco Faria, atinge, no presente, um momento de elevada consagração embora ainda pouco presente nos média. Contudo, deixem-me opinar que talvez não seja oportuno que entre, por exemplo, avulsa e avultadamente, em competições televisivas. Há um BERÇO que o acolhe com uma intelectualidade que não é de abdicar. Para além da MALTA do fado e da canção de Coimbra saúdo três formações que igualmente empolgaram a assistência: TUNA ACADÉMICA, sob a direção do maestro António Granjo, ANTIGOS TUNOS sob a batuta de Tiago Martins e dos ANTIGOS ORFEONISTAS reconhecidos internacionalmente sob a direção do maestro Rui Paulo Simões. Que bela jornada!
MUSEU DA PESCA DE JOÃO D´ALVARINA, NA LEIROSA
Quem quisesse ir à pesca do bacalhau, antes do 25 de abril, ficava dispensado de fazer o serviço militar e de ir para a guerra colonial. Aconteceu com JOÃO D´ALVARINA da LEIROSA de 72 anos. Começou a trabalhar aos dez, num armazém, a remendar redes de sardinha, veio mais tarde a ser pescador, em concreto na pesca de arrasto, em Lisboa; e regressou à sua LEIROSA onde tem o MUSEU DA PESCA, obra sua, no armazém que lhe pertence e no qual entrou a trabalhar ainda criança. Ali pontificam vários artefactos marítimos ligados à pesca e, a envolver todo o espaço, um conjunto impressionante de mapas (CARTAS TOPOGRÁFICAS E CARTAS HIDROGRÁFICAS) que representam toda a orla costeira da Galiza até ao Algarve com a zona marítima envolvente (a verde) e a suprema inscrição de centenas e centenas de embarcações engolidas pelo mar devidamente posicionadas cuja localização protege a faina da pesca. Dados introduzidos manualmente. Fiquei boquiaberto com as explicações do nosso mestre que tem, por exemplo, réplicas em miniatura das redes da sardinha e das redes da arte xávega. Aos 14 anos tirou a cédula marítima e foi para Lisboa durante 50 anos, com um interregno de dez, em que esteve na pesca do bacalhau na zona da Noruega. Muitos pescadores têm ido a este museu para tirar dúvidas em relação ao que está debaixo de água. “Tudo o que está aqui é feito por mim e não há dedo de mais ninguém” – diz-nos relatando que tem visitas regulares de pessoas que pretendem aprender a fazer redes. “Já veio cá muita gente de Coimbra e até médicos”. Destaque para uma rede de há 70 anos para arte xávega toda feita em sisal porque antigamente não havia nylon. “Nunca tive nem tenho apoios de ninguém. Quando vinha de trabalhar em vez de ir para a taberna beber uns copos ou jogar às cartas passava aqui o tempo”. Este MUSEU particular não tem horário. Temos de chegar à Leirosa e perguntar pelo senhor João D´Alvarina, o do MUSEU DA PESCA. Pescador há mais de meio século.