Nos países do Terceiro Mundo, como a Suécia, na Inglaterra e nos Estados Unidos, a imprensa julga ter a função de Quarto Poder. Os jornalistas vigiam os governos, escrutinam as suas decisões, denunciam manobras ilegais criticam comportamentos inadequados ou atentatórios da ética democrática. Muitos presidentes e ministros já foram forçados a demitir-se por sua causa. Nos países do Terceiro Mundo, as ligações entre política, dinheiro e famílias são inaceitáveis e obrigam à demissão dos governantes que infrinja essa regra ética. À mulher de César não basta ser séria, deve parecer séria.
Nos países do Primeiro Mundo, como em Cuba, na Venezuela e na Rússia os jornalistas contribuem para a estabilidade da governação e usam esse tal Quarto Poder para anular os opositores políticos. E quando algum jornalista denuncia esquemas de corrupção envolvendo políticos e empresários, os seus remorsos são tais que, como sucede na Rússia, se atiram pela janela. Nos países do Primeiro Mundo, a mulher de César é sempre séria, ainda que não pareça.
Sendo um país avançado onde a corrupção e o nepotismos onde erradicados. Portugal tem no jornal Público um baluarte da estabilidade políticas dos governos – contado que sejam socialistas. Desde que José Manuel Fernandes deixou o cargo de diretor, os seus sucessores e sucessoras têm pugnado para que os governos socialistas não sejam importados pelas forças reacionárias da extrema-direita portuguesa – ou seja, os partidos de Direita. Durante a ´geringonça´, sempre que havia uma notícia comprometedora para o Governo – um escândalo com os ministros ou relatório a afirmar que o país estava cada vez mais pobre – lá saia o Público em socorro do Governo ou então reciclava alguma notícia nefasta sobre Passos Coelho ou Cavaco Silva. Aliás, um trabalho muito bem feito que deve ter impressionado a comunicação social cubana e de outras democracias que o PCP e o BE admiram. O Granma faria bem em mandar uns estagiários para o Público para aprenderem como se faz.
O atual diretor, Manuel Carvalho, tem mostrado que não se desvia desta linha de jornalismo do Primeiro Mundo que não tolera instabilidade governativa. Por exemplo, não vá o PS ter necessidade de fazer uma nova ´geringonça´ para evitar que a extrema-direita do PSD tome o poder, e Manuel Carvalho avisa que o PCP é “um partido normal”. E tem toda a razão pois, tirando o facto do PCP continuar a apoiar ditaduras, condenar regimes democráticos e justificar a invasão da Ucrânia pela Rússia, os comunistas são normalíssimos. Basta ler o Avante! para se perceber isso. E supõe-se que Manuel Carvalho pensa o mesmo sobre o BE que também apoia ditaduras, acolhe terroristas e tergiversa sobre a invasão da Ucrânia.
Criticar partidos que apoiam ditaduras comunistas e simpatizam com terroristas é coisa de jornalistas do Terceiro Mundo.
Naturalmente, Manuel Carvalho comentou o caso da ministra da Coesão Territorial Ana Abrunhosa que estregou milhares de euros de fundos europeus a duas empresas detidas pelo marido, cujo sócio chinês fora condenado por corrupção. De início, parece que vai resvalar para o jornalismo terceiro-mundista quando afirma: “O combate político em torno dos interesses patrimoniais dos ministros ou dos seus familiares faz-se sempre com a mais elevada das intenções; a de proteger o interesse público da gula dos seus negócios privados. Faz-se também num contexto de casos nos quais a classe política se abotoou indevidamente à custa dos seus privilégios”. Mas é apenas uma manobra de diversão para enganar os leitores de extrema-direita. Logo retoma o jornalismo primeiro-mundista quando afirma “que não faz sentido que o simples facto de os financiamentos terem sido concedido seja, à partida, considerado uma grave violação ética que reclama a demissão da ministra”. E, no fim, puxa as orelhas ao deputado fascista Carlos Guimarães Pinto por se atrever a pedir tal coisa. Ou seja, para Manuel Carvalho a mulher de César não tem de parecer séria.
Nem a mulher, nem o marido nem, o sócio chinês.
Portugal é um hoje um país do Primeiro-Mundo onde residem cidadãos franceses, ingleses suecos americanos e de outros países ricos. Dizem que eles vêm para cá por causa do clima, da gastronomia e da segurança, mas o que realmente os atrai é poderem tomar o seu pequeno-almoço sossegado enquanto leem o Público. Ao contrário dos seus países, onde os jornais lhes estragam o sossego com ataques incessantes nos seus governantes, em Portugal encontram no Público a tranquilidade perdida. Mesmo que não dominem bem a língua, percebem facilmente que o poder socialista nunca será incomodado pelo Público.
Espera-se, pois que a extrema-direita social-democrata não vença as próximas eleições senão lá se irá o sossego dos estrangeiros enquanto comem bacon com ovos estrelados. E, sacudidos pela turbulência jornalística concluirão que já não vale a pena viver em Portugal.