19 de Abril de 2025 | Coimbra
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Sansão Coelho

A República, Penacova e António José de Almeida

7 de Outubro 2022

Há muito tempo fiz uma reportagem para a ANTENA 1 na terra natal do Dr. António José de Almeida (Vale da Vinha – Penacova) um notável republicano que foi o sexto presidente da República Portuguesa cuja implantação foi comemorada na passada quarta-feira. Essa reportagem visou procurar saber como os seus conterrâneos reagiam ao percurso deste médico que posteriormente se dedicou por inteiro à política e objetivou ainda sensibilizarmos para a defesa e recuperação do imóvel onde nasceu António José de Almeida que se vinha degradando. Espero que essa reportagem ainda conste do arquivo histórico da RTP porque é interessante o conjunto de depoimentos de pessoas que não tendo convivido com o insigne republicano nos reproduziram as convivências de seus pais e avós com o ilustre republicano e familiares. Verificou-se que ainda havia laivos de um conservadorismo inquietante perante uma personalidade progressista, mas essa é outra história que os especialistas podem explicar. Trago este tema à edição de hoje porque não sei em que estado está agora o referido edifício, mas li, há alguns anos, que o município se empenhava na sua recuperação e utilização com fins expositivos e pedagógicos. Um homem da comunicação está agora a liderar o município de Penacova. É o meu dinâmico companheiro Álvaro Coimbra por quem tenho enorme admiração e sei que é uma pessoa que fala pouco, mas trabalha muito e bem. Espero que Álvaro Coimbra faça com que a casa de António José de Almeida seja recuperada, bem utilizada e cada vez mais um símbolo da República portuguesa e dos ventos novos que esta fez soprar embora muito complicados nos primeiros anos. Mais: António José de Almeida esteve como Presidente da República no Brasil a assinalar o primeiro centenário da Independência do grande país Irmão tendo, aliás, chegado com atraso devido a problemas no vapor que o transportou. Contudo houve festa rija no firmar dos laços luso-brasileiros. Numa época em que estamos a assinalar o segundo centenário do Brasil talvez seja oportuno recolocar Penacova e António José de Almeida nas celebrações. E como sugestão que deixo em meu nome – e admito que em nome também deste jornal republicano “O Despertar” -, não se esqueçam de revivificar a casa onde nasceu este fundador do jornal República, um dos mais dinâmicos republicanos portugueses. O primeiro presidente a fazer um mandato completo.

Cem anos de Agustina, Amarante e Açores pela mão de Luís Ferreira

Outro importantíssimo centenário que vai ter ampla projeção nacional: é no próximo dia 15 que se assinalam os cem anos do nascimento de Agustina Bessa-Luís, natural de Vila Meã, Amarante. A esta prodigiosa escritora faltou o Nobel da Literatura – dizem os seus estudiosos. É muito giro saber que Agustina viveu em Coimbra uns anos. Pôs um anúncio no jornal O Primeiro de Janeiro para arranjar companheiro (agora seria pela Internet) e respondeu-lhe o futuro marido, um estudante de Direito da nossa universidade – e por cá viveram algum tempo. Penso que Agustina aproveitou esse tempo para escrever – escreveu sempre enquanto a saúde o permitiu e escreveu de tudo. Em Coimbra não sei se assinou como Maria Ordoñes, apenas como Bessa-Luís ou já em definitivo como Agustina Bessa-Luís.

(“Pergunto-me às vezes que espécie de criatura sou. E nesses momentos de certa impiedade encontro forças para falar de mim, como se fala das coisas efémeras, com mais fatalismo do que renúncia. O que nos faz romancistas é a profunda certeza do efémero…” – in Parágrafo final de uma das páginas soltas, não datada, do espólio de Agustina).

Comecei por me interessar por Agustina porque travei amizade em Coimbra, nos anos 60, com uma estudante de engenharia de Vila Meã que era afilhada de Agustina. Também acompanhei o trabalho realizado pelo saudoso conimbricense Dr. Luís Abel Ferreira que, provavelmente, foi quem melhor conheceu a obra e o acervo de Agustina com a solidariedade do marido e da filha da escritora. Acompanhado pelo Dr. Manuel Vieira da Cruz ambos estudaram, fizeram revisão e publicaram obras de Agustina Bessa-Luís. O Dr. Luís Abel é filho do amarantino Luís Ferreira que viveu muitos anos em Coimbra e agora vive nos Açores na Ilha de Santa Maria onde é vice-presidente do Lions Clube local. Dotado de vasto material e informação deixada por seu filho, Luís Ferreira sugeriu com flagrante oportunidade que se aplaude a realização de um Programa lionístico em Santa Maria (Vila do Porto) para assinalar o Centenário da famosa escritora amarantina e que é um dos grandes vultos culturais do nosso país. Em breve, talvez perto do fim deste mês, será dado a conhecer o Programa de Homenagem a Agustina Bessa-Luís na ilha de Santa Maria tendo como âncora esta ligação de Coimbra-Amarante-Ilha de Santa Maria sob as narrativas inesquecíveis e muitas delas premiadas de Agustina Bessa-Luís e com o empenho e a dedicação a Amarante e à obra da inesquecível escritora por parte da Família Ferreira.


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