Ó passarinho, passarinho…
Na Primavera, escolhes o sítio p´ra fazer ninho,
Nas fendas, entre pedras, dos muros, p´ra ficar escondidinho.
No Verão voas livre e vais refrescar p´ró ribeirinho,
Corres as searas à cata do «jantarzinho»,
E dormes no galho de um amieiro fresquinho.
No Inverno, escolhes ao escurecer, um lugar abrigadinho,
Nos buracos, esculpidos pelo tempo, das paredes da minha casa, – pobrezinho.
Ali só a sua quentura o acalenta, já que lá só cabe sozinho.
Está frio, a chuva e a neve quase lhe caem em cima, apesar de bem escondidinho.
Numa noite quase glaciar, entrou p`lo buraquinho,
Vi – o sair da minha janela, à procura de outro mais quentinho.
Chamei-o: – “ vem ter comigo à lareira, ao quentinho”…
E veio: estava quase inerte de geladinho.
A noite está gélida, cai neve, p`la janela vê-se um novelinho,
Mais outros e muitos outros mais, a neve bordou uma toalha de linho.
– “Que bonita é, não é, ó passarinho?”
P´la janela pressentiu-se a madrugada e ficou inquieto o pirralhinho.
Então perguntei: – “ como te chamas pequenino”?
A gorjear, respondeu: – “ sou a cotovia das pedras, meu amiguinho”.
Abri a janela, e lá se vai a cotovia, debicar centeio, p´ró seu buraquinho.