9 de Novembro de 2025 | Coimbra
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António Inácio Nogueira

TESTEMUNHOS MEMÓRIAS BEIRÃS – Um Conto Meu Em Prosa  

24 de Outubro 2025

Ó passarinho, passarinho…

Na Primavera, escolhes o sítio p´ra fazer ninho,

Nas fendas, entre pedras, dos muros, p´ra ficar escondidinho.

No Verão voas livre e vais refrescar p´ró ribeirinho,

Corres as searas à cata do «jantarzinho»,

E dormes no galho de um amieiro fresquinho.

No Inverno, escolhes ao escurecer, um lugar abrigadinho,

Nos buracos, esculpidos pelo tempo, das paredes da minha casa, – pobrezinho.

Ali só a sua quentura o acalenta, já que lá só cabe sozinho.

Está frio, a chuva e a neve quase lhe caem em cima, apesar de bem escondidinho.

Numa noite quase glaciar, entrou p`lo buraquinho,

Vi – o sair da minha janela, à procura de outro mais quentinho.

Chamei-o: – “ vem ter comigo à lareira, ao quentinho”

E veio: estava quase inerte de geladinho.

A noite está gélida, cai neve, p`la janela vê-se um novelinho,

Mais outros e muitos outros mais, a neve bordou uma toalha de linho.

“Que bonita é, não é, ó passarinho?”

P´la janela pressentiu-se a madrugada e ficou inquieto o pirralhinho.

Então perguntei: – “ como te chamas pequenino”?

A gorjear, respondeu: – “ sou a cotovia das pedras, meu amiguinho”.

Abri a janela, e lá se vai a cotovia, debicar centeio, p´ró seu buraquinho.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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