ARTE | É um dos mais reconhecidos mágicos de Coimbra e uma referência nacional no ilusionismo contemporâneo. Telmo Melo assinalou, no passado dia 8 de dezembro, 24 anos de um percurso sólido e marcado pela curiosidade profunda pelo mistério.
“A magia é um encontro – entre aquilo que mostramos e aquilo em que o público escolhe acreditar”. É desta forma que Telmo Melo descreve a sua arte. Natural de Coimbra, iniciou o seu percurso profissional ainda adolescente, motivado pela curiosidade e pela vontade de se desafiar numa área que, desde logo, lhe despertou o interesse. “Acho que somos aquilo em que acreditamos e, portanto, a nossa capacidade de acreditar numa coisa desafia-nos”, sublinha, em declarações ao jornal “O Despertar”.
Foi exatamente isso que aconteceu há 24 anos. Ainda jovem, Telmo Melo deixou-se envolver no mistério da magia quando assistia a um espetáculo do ilusionista Luís de Matos, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra. A partir desse momento, tornou-se amante do que acabara de ver. Nos tempos que se seguiram, pesquisou, estudou, e, mais tarde, ingressou na Associação Cultural Recreativa de Coimbra, onde, até à data, não existia nenhum outro mágico.
“No dia em que lá entrei, pensei que ia apenas assistir a um espetáculo, no entanto, acabei por ser chamado ao palco para fazer um ou dois truques (…) Confesso que nunca tinha estado em palco e achei aquilo tão motivante que comecei a querer mais, a pesquisar mais, a comprar mais materiais de magia, até que percebi que era aquilo que queria mesmo fazer”, recorda. Nunca mais parou. Os palcos passaram a ser muitos pelo país fora, e não só, e, com eles, a certeza de que o ilusionista estava a viver a grande paixão da sua vida.
“Aqueles primeiros aplausos, o espetáculo em si (…) E até mesmo a surpresa de ver como ficava o público: acho que foi isso que me desafiou a querer melhorar cada vez mais”, reforça. 24 anos depois, o mágico continua a sentir-se “um sortudo” pelo feedback que recebe por parte de quem assiste às suas performances.
“Sou sempre acarinhado nos sítios onde vou. Deixam-me envelopes com mensagens escritas a agradecer por contribuir para alguns sorrisos de adultos e crianças que, muitas vezes, não têm a oportunidade de assistir a espetáculos”, orgulha-se.
Mágico abre portas aos sonhos
Além de se pôr, constantemente, à prova, Telmo Melo também pretende desafiar o seu público. No fundo, “desafiar a sua capacidade de sonhar e fazer com que vivam aqueles minutos de espetáculo como uma viagem mágica”, afirma. Nesse sentido, para além das atuações ao vivo, é ainda presença regular em ações de formação, workshops e atividades culturais.
Desta forma, o conimbricense acaba por cultivar o gosto pela magia nos mais novos, tal como, um dia, Luís de Matos fez consigo. “Acho que pode ser o começo de tantos jovens que, tal como eu, sonham, um dia, em ser mágicos. Portanto, pode ser uma porta ou uma motivação”, admite. Uma porta que se abre com persistência e resiliência. Isto porque, de acordo com Telmo Melo, “não basta perceber como é que se faz, mas tentar fazer e fazê-lo bem”.
Um trajeto que exige vontade e dedicação para que o resultado final não desiluda. O objetivo é que as pessoas olhem para a magia sem a preocupação de perceber como é que ela é feita. “Hoje em dia, a internet veio tirar um pouco isso, porque é muito fácil percebermos como se fazem os truques de magia: há sempre mágicos a ensinar no digital”, lamenta. Contudo, o ilusionista acredita que o mais fascinante desta arte é “o espetáculo em si, a encenação, o texto, a história que se conta”, realça.
O orgulho na cidade que o viu nascer
Foi em Coimbra que nasceu; onde começou a dar os primeiros passos na sua profissão; e onde vive atualmente. Telmo Melo não considera, por isso, que um percurso bem sucedido tenha de ser traçado a partir de grandes centros urbanos. “Acho que podemos ser qualquer coisa em qualquer parte do mundo” garante. Confessa, todavia, que “não nos devemos deixar só ficar pela nossa cidade”.
A verdade é que o mágico assume ter um “grande orgulho” na localidade onde nasceu, no entanto, guarda uma certa “mágoa por Coimbra não reconhecer e valorizar aquilo que tem”, sendo que a maior parte dos espetáculos que realiza são fora da cidade. Uma realidade que não o impede de afirmar que, por mais locais que tenha visitado, esta continua a ser a sua morada passado tantos anos.
Quase um quarto de século. Em 2026, Telmo Melo vai atingir o marco de 25 anos de carreira e, por isso, antecipa uma celebração especial, sem adiantar ainda muitos pormenores. “Pretendo comemorar com um espetáculo. Ainda não vou dizer, mas há um local onde, há já alguns anos, pretendo fazer uma atuação”, avança.
Enquanto esse momento não chega, o mágico vai continuar a levar truques, que prometem surpreender, a vários palcos do país ainda este ano. “Estamos, agora, numa fase com agenda cheia”, conta, destacando o espetáculo de dia 30 deste mês, em Unhais da Serra. Em janeiro de 2026, é também esperada uma atuação em Coimbra e, pelo meio, vários eventos privados.
Cátia Barbosa
»» [Reportagem da edição impressa no “O Despertar” de 23/12/2025]