3 de Novembro de 2025 | Coimbra
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Utentes da Cavalo Azul transformam-se em “mestres chocolateiros”

28 de Março 2025

Oito utentes da Associação de Famílias Solidárias com a Deficiência – Cavalo Azul (AFSD) têm vivido uma vida mais doce. O projeto “Choc Choc Chocolate”, iniciado em 2022, abriu portas a que estes se transformassem em autênticos “mestres chocolateiros”. Depois de quase três anos de trabalho árduo, a aprendizagem deu frutos, já que a instituição inaugurou, no início deste mês, um espaço próprio para a confeção de bombons. Quanto aos ingredientes, não há segredos: uma pitada de sonhos e vontade de fazer mais e melhor a cada dia que passa.

“Nós fazemos várias sessões de terapia culinária com os nossos utentes, onde são trabalhados aspetos como a parte cognitiva e a motricidade”, explica Vânia Rosa, diretora técnica da AFSD, em declarações ao “O Despertar”. É dessa ação, aliada ao gosto pelo chocolate, que nasce um projeto inovador e, ao mesmo tempo, profissionalizante: o Choc Choc Chocolate.

“O objetivo sempre foi abrir portas a uma área mais profissional e permitir que estes utentes possam auferir de alguns rendimentos pelo seu trabalho, visto que a empregabilidade está muito difícil, sobretudo, para pessoas com deficiência e incapacidade”, explica a responsável. Assim, através do financiamento do BPI Fundação La Caixa, a Cavalo Azul capacitou e formou oito pessoas na arte de trabalhar com o chocolate. Para isso, contou com o apoio de entidades como a Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra.

Mais recentemente, os conhecimentos adquiridos motivaram a criação de um espaço de fabrico próprio, onde não faltam cores, sabores e imaginação. “Eles [utentes] participam em todo o processo. (…) Têm um papel ativo, desde a confeção do bombom até ao seu embalamento e comercialização”, conta Vânia Rosa.

 

Iniciativa promove inclusão

De momento, o “Choc Choc Chocolate” está instalado num contentor, onde não faltam os equipamentos necessários para a produção dos doces. “Inicialmente, tínhamos pensado num local próximo do centro de Coimbra, contudo, por conta da especulação imobiliária, decidimos comprar este contentor equipado”, confessa a diretora técnica.

No que diz respeito à comercialização, a iniciativa conta com diversas parcerias que lhe permitem ter diversos pontos de venda na localidade, sobretudo, na zona da baixa. Além disso, as pessoas podem ainda realizar encomendas online, através da página da Cavalo Azul. Vânia Rosa adianta que a procura tem superado as expectativas.

“Vamos recebendo encomendas durante todo o ano, porque os bombons são, efetivamente, bons. Notamos que as pessoas também nos procuram quando querem oferecer uma prenda a alguém: acabam por dar um presente solidário”, refere. Sem mãos a medir, os utentes dão o seu melhor para que o produto final seja doce, saboroso e leve felicidade a quem o compra.

A entrega é feita em mãos por estes “mestres chocolateiros” e a responsável não tem dúvidas de que o contacto com os clientes é fundamental para que estes jovens adultos se sintam mais próximos da comunidade. “Todos eles melhoraram a qualidade de vida com a integração no projeto, sobretudo, a questão relacional e de comunicação”, sublinha.

Não obstante, os utentes sentem que ganharam autonomia na sua vida diária. “Muitos deles verbalizam que já perderam a vergonha de falar com outras pessoas; que estão mais à vontade e que conseguem mais facilmente estar em sítios públicos”, reitera.

 

“As pessoas com deficiência têm capacidades”

Todo o processo de confeção de chocolates é acompanhado e supervisionado pela monitora Elsa Pires. Todavia, os oito utentes são os atores principais, desmistificando a ideia que ainda possa existir de que quem tem uma deficiência não é capaz de desempenhar determinadas funções. “Este projeto valoriza e vem provar que as pessoas com deficiência têm capacidades. (…) Elas são capazes. Dentro daquelas que são as suas limitações, elas fazem inúmeras coisas. Podem demorar um bocadinho mais de tempo, mas conseguem alcançar os objetivos”, salienta Vânia Rosa.

A prova disso é o feedback que a Cavalo Azul tem recebido. Sediada em Marco dos Pereiros, na União das Freguesias de Santa Clara e Castelo Viegas, a instituição tem colhido a aprovação da população. “Por ser mais pequena, a comunidade acaba por ser muito sensível e apoiar muito estes jovens. Eles já são reconhecidos na rua por serem quem faz os chocolates, o que acaba por ser muito positivo. Eles ficam muito agradados”, garante a responsável.

Nesse sentido, e de olhos postos no futuro, a associação tem o objetivo de fazer crescer a iniciativa, não só em número de pessoas, mas também em termos de condições. “Já estamos numa fase de capacitar outros utentes que também mostraram interesse em participar. Estamos a começar a dar formação e queremos muito que este projeto ganhe asas, cresça e seja maior”, conclui.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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