A criação de uma mercearia e de uma lavandaria social são dois dos projetos que a União de Freguesias de Coimbra pretende concretizar este ano. Consciente das dificuldades existentes neste território, o executivo vai reforçar as respostas na área social, de forma a ajudar todos aqueles que vivem com maiores dificuldades.
Apesar de não terem ainda datas definitivas, a ideia está criada e os projetos estão a ser delineados, sendo intenção do executivo colocá-los ao serviço da população assim que possível. O presidente da União de Freguesias (UF) de Coimbra, João Francisco Campos, adianta que a mercearia social faz parte do plano de atividades para 2020, sendo “um dos projetos que a UF quer começar a trabalhar já neste início do ano”.
Para tal, é necessário tratar do regulamento e determinar as normas de funcionamento, de forma a garantir, como salvaguarda o presidente, que “a ajuda vai chegar mesmo a quem precisa, evitando apoios em duplicado e possíveis abusos”. De acordo com João Francisco Campos, este projeto vai inspirar-se noutros já existentes, exemplos que funcionam bem e que serão adaptados à realidade desta UF, que resulta da congregação das extintas freguesias de Almedina, Santa Cruz, Sé Nova e São Bartolomeu.
A ideia é instalar esta mercearia social na sede de S. Bartolomeu, na Avenida Fernão de Magalhães, na Baixa da cidade, onde funciona já a loja social, outra resposta que este executivo criou há mais de um ano e que tem apoiado a comunidade necessitada.
“Não damos apenas cabazes de Natal. Procuramos assegurar uma resposta integrada ao longo de todo o ano”, realça. Na área da alimentação, a UF tem sempre em stock bens alimentares diversos para “as necessidades que surgem”, para “ajudas rápidas” que, como explica o presidente, são feitas, sempre que possível, “na calada da noite”, preservando assim quem precisa.
A “pobreza envergonhada” continua a ser uma realidade também nesta área urbana da cidade, havendo situações que exigem cuidados e delicadeza especiais. Há, contudo, o outro lado da “moeda”, os casos em que é preciso “evitar abusos” e avaliar bem as necessidades de quem pede ajuda. “Há pessoas que têm capacidade financeira e vêm pedir cabazes de Natal. Há duas pessoas a viver na mesma casa e vêm pedir dois…”, lamenta o autarca. Para evitar estas situações, a UF tem trabalhado em articulação com a Cáritas Diocesana de Coimbra e com a Legião da Boa Vontade, instituições que operam nesse território, evitando assim “que haja repetições na ajuda”. Mesmo com este “controlo”, na época natalícia foram entregues cerca de 400 cabazes de Natal, um número bem representativo da realidade social que aí se vive.
A análise e seleção dos beneficiários é feita pela assistente social da UF, que sinaliza os agregados familiares que vivem com maiores carências. É também assim que sucederá com a mercearia social. Apesar de ainda não estar no papel, o projeto está já idealizado e, segundo João Francisco Campos, aos beneficiários selecionados, que comprovadamente necessitem desta ajuda, será entregue um valor mensal para poderem adquirir os bens que necessitam nesta mercearia. O “pagamento” será feito com uma “moeda da UF’, que irá ser criada para esse efeito e que garantirá o acesso aos bens de forma gratuita.
Loja social precisa de agasalhos e calçado
Este projeto está idealizado para a sede da Freguesia de S. Bartolomeu, um espaço que a UF pretende transformar no seu “ponto social”. A loja social é aí que funciona e tem ajudado muitas pessoas e famílias. Nestes meses frios de inverno, João Francisco Campos apela à doação de bens, sobretudo agasalhos (casacos, camisolas…) e calçado quente. “A loja está a funcionar em pleno, tem tido muita procura e, neste momento, estamos a precisar de reforçar o nosso stock, de forma a assegurar tamanhos que nos permitam responder a todas as faixas etárias e também aos diferentes tamanhos”, explica.
Já a lavandaria social está planeada para o Mercado do Calhabé, que continua à espera das obras de renovação. O projeto está em andamento mas ainda não há qualquer certeza sobre as datas da sua concretização, aguardando o presidente por “mais novidades” da Câmara Municipal de Coimbra.
A lavandaria terá um custo social, sendo também os beneficiários sinalizados para poderem usufruir do desconto. Para além das suas funções normais (lavagem de roupa), pretende ter ainda, como realça João Francisco Campos, uma vertente de integração, podendo potenciar a criação de emprego “para pessoas que precisem ou beneficiários de apoios sociais”.
“Há muitas pessoas que sobrevivem”
Apesar dos indicadores apontarem para a retoma da economia, continua a haver muita pobreza, alguma dela “envergonhada”. Na UF de Coimbra há muitas situações de carência, surgindo os pedidos de múltiplas formas. “Há pessoas que vêm diretamente pedir-nos ajuda, muitas vezes são até pedidos de ajuda encapotados, mas há também situações que nos chegam encaminhadas por outras instituições e até por vizinhos”, explica.
Esta realidade exige uma atenção muito especial, daí que continue a ser uma das prioridades deste executivo para este ano de 2020. “Há muitas pessoas que sobrevivem, o que faz com que qualquer ajuda seja importante. No fundo, vivem no limiar da pobreza, têm a sua casita, o dinheiro certo para sobreviver, mas não passa daí. Estamos atentos às dificuldades, a área social vai continuar a ser uma das nossas fortes apostas e continuaremos a ter o cuidado de nos centrarmos nas pessoas que realmente precisam”, explica o autarca.
João Francisco Campos assume que quando chegou ao executivo “sabia que havia muitos problemas, mas não tinha perfeita noção daquilo que vinha encontrar”, como pessoas sem documentação pessoal e problemas de saúde graves, como toxicodependência e questões de saúde mental. “A nossa sociedade continua a não dar resposta a estas situações, até pode acompanhar uns dias mas depois as pessoas vêm cá para fora sem qualquer suporte para estes problemas que são crónicos”, lamenta, sublinhando que, nesta área, as juntas de freguesia têm um papel muito importante, servindo de interlocutor com os vários serviços e instituições que atuam nesta área e que, conhecendo bem a realidade que aí se vive, desenvolvem um trabalho muito importante no dia a dia.