Quem teve oportunidade de assistir ao desafio de futebol de 7 entre o União 1919 e o Oliveira do Hospital, realizado no Campo da Arregaça, no passado sábado, pelas 10h30, testemunhou um momento no mínimo surreal. Ao cair o pano da primeira parte, e quando o União vencia por 2-0, um jogador da casa isola-se, pica a bola por cima do guarda-redes, a qual com certa velocidade e intensidade ultrapassa a linha de golo, batendo com estrondo no poste interior direito da baliza, ressaltando em segundos, para o terreno de jogo.
Era o 3-0, os miúdos festejam, a claque unionista também, um jogador de campo do Oliveira do Hospital pega na bola com a mão dentro da área para recomeçar a partida. Porém, e para espanto de todos o árbitro, um jovem de nome fictício Frei Tomás, veio pregar o que mais ninguém conseguiu vislumbrar naquele momento: talvez por efeito de ilusão de óptica, ou de outro mistério qualquer, diz que não é golo, manda continuar a partida. Gera-se alguma turbulência, os dois bancos manifestam-se e concordam que foi golo, o guarda-redes batido confirma que a bola entrou, mas o juiz da partida manteve-se inflexível: “foi ao poste, não vi que entrasse”.
Todos sabemos que errar é humano e acredito que por esse expresso motivo perdoaríamos ao árbitro a sua decisão, que se fosse a outro nível, profissional por exemplo, e acaso existisse VAR, seria automaticamente revertida. Mas estando perante futebol de formação esperava-se outra atitude de quem apitava o jogo, de humildade, de diálogo, de recolha de informação, de protecção aos jovens, até de formação do próprio árbitro que comete um duplo erro técnico: não sanciona um golo limpo, que poderia ser decisivo, nem assinala penálti, dado que – se a bola tivesse batido no poste como afirmava perentoriamente – o jogador visitante havia agarrado no esférico com as mãos dentro da área, instintivamente, para recomeçar a partida.
Este acontecimento constituiu uma clara traição ao futebol de formação que teve continuidade no jogo, uma vez que na segunda parte, a equipa do União 1919 não mais se reencontrou, e o resultado acabou numa remontada por 3-2 a favor do Oliveira do Hospital. Poder-se-á dizer que o adversário foi mais forte, no campo e mentalmente, perante a situação, mas o que na realidade aconteceu, sem demérito pela vitória alcançada, foi a perda de confiança no árbitro, por parte de uns, em detrimento dos outros, de abandono versus protecção.
Não sei se algum observador ou delegado esteve presente ao jogo. Mas se não esteve deveria ter estado, pois também na arbitragem é de pequenino que se torce o penino e quem age desta forma, prepotente e até arrogante, em idade tão tenra, como será daqui a uns anos? Tenho pelos árbitros um profundo respeito e já vi muita coisa no futebol. Mas confesso que desta dimensão, para mais com inquietantes implicações directas no aspecto formativo nunca tinha presenciado – e talvez me doa ainda mais por sentir a dor do meu filho. Cabe agora ao treinador e staff do União explicarem aos seus atletas, durante os próximos dias, que errar é humano, e que o árbitro ajuizou mal, focando a sua acção no aspecto formativo e não competitivo.
Porém, nada vai apagar o sentimento de injustiça e revolta, que pode ter marcado profundamente o espírito daquelas crianças que viram, tal como Luís Vaz de Camões “claramente visto, o lume vivo” de um golo tão nítido quanto meritório.