13 de Janeiro de 2025 | Coimbra
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VASCO FRANCISCO

Uma Noite de Luz

20 de Dezembro 2019

O frio empalidecera os corpos que com o cair da noite acorriam às suas casas, como qualquer Bicho se resguarda no seu ninho confortante. As ruas iam aos poucos ficando desertas, entregues a uma noite gélida de luar, onde o próprio silêncio era mais que a mudez rural. A flora persistia florescer na escuridão, a fauna parecia andar desperta como quem espera por uma hora especial. O simples chocalhar do gado, arrecadado nos currais, logo tornava o ambiente mágico aos mais novos. Em conversa entre pais e filhos, qualquer adulto tentara intensificar o espírito da quadra: “Olha, são as renas do Pai Natal, ouves? Vêm aí…” “Não são nada! A avó disse que são os cordeirinhos que os pastores trazem para o Menino Jesus.” E em respostas tão convictas contradiziam-se até os sons, perante o verdadeiro significado daquela noite, portadora de um fascínio que só uma criança consegue sentir no seu estado mais vivo.

Acalorando a alegria evidente em alguns lares, a lareira é o íman daquele serão. A um canto da casa um pequeno presépio, tão carregado de simbolismo, devendo a sua existência a São Francisco, nascendo a partir da sua época os mais variados feitios para representar um nascimento em Belém.

O presépio tradicional português é dos mais notórios conjuntos de arte popular. Estende-se além do seu significado Maior, o da natividade, a um retrato tradicional e etnográfico que se perfaz mais completo ou mais criativo consoante o seu criador. É único, pelo figurado tradicional, maioritariamente originário das mãos sábias dos artesãos de Barcelos, de onde não nascem só galos. Imagens moldadas e pintadas ternamente que se vendem no comércio pitoresco. Além de serem protagonistas pelo Natal, absorvem também olhares pelos santos populares, nas cascatas. Todas aquelas figuras se perfilam em cima do musgo, roubado à natureza debaixo desses pinhais frescos e sadios. Completa a obra o espírito de o fazer. Olhar para o dito presépio carregado de antigos ofícios, oferendas, casas e casebres é recuar no tempo de um modo afetivo e nostálgico, imaginando todo aquele cenário pelos lugarejos por aí encostados aos braços das serranias.

“Avó, para que queria o menino tantos presentes?” Interrompeu a criança, de olhos postos no presépio. Na verdade, bem sabemos que apenas se trata do preito mais tradicional de representar o Nascimento de Cristo através da arte popular portuguesa, mais não seja para nos alegrar e fazer sonhar, viajando na memória de um Portugal extinto e encantado.

“Pai, já podemos beijar o menino?” ansiava há muito tal tradição, respondendo-lhe o senhor com um sorriso.

É nesse sorriso cinzelado de alegria e de esperança que desejo a todos os colaboradores e leitores um SANTO E FELIZ NATAL e que o novo ano seja O Despertar de novos sonhos e novos dias.


  • Diretora: Lina Maria Vinhal

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