Por Lino Vinhal
Desde o início deste ano que o “Campeão das Províncias” e “O Despertar” têm vindo a publicar textos alusivos à Casa dos Pobres de Coimbra. Foram dezenas de artigos, de autores diferentes, gente quase toda de Coimbra, a quem havíamos pedido que nos ajudassem na sensibilização coletiva de uma causa cuja defesa integra o património editorial destes Jornais, ambos comprometidos com a defesa de Coimbra e região, suas gentes e seus interesses, em pleno respeito pelos órgãos eleitos e/ou legitimamente constituídos. Foram dezenas e dezenas de textos que refletiram o carinho que a comunidade tem por aquela prestigiada instituição, última casa de muitos para quem as circunstâncias de vida possam ter sido menos gratificantes. A sociedade, sobretudo nos últimos 100 anos, foi-se organizando de forma egoísta, prescindindo da parte afetiva da vida, em troca dos bens materiais que, sendo importantes, não vão além da sua função. Esgadanhamo-nos todos, dia a após dia, para termos um bom carro, uma boa casa se possível, férias na Punta não sei quantos e, quando damos conta, a juventude vai indo, o vigor esmorece, a família desdobra-se, e a casa pequena de há 30 anos atrás é agora um espaço imenso, um chão enorme para os poucos em que nos vamos tornando. Quando nos apercebemos, estas instituições de apoio à velhice transformam-se num destino possível, parecem que nos sorriem como que a acenar-nos e, de pensamento em pensamento, aquilo que toda a vida nunca se passara pela nossa cabeça transforma-se em inevitabilidade. Antigamente isto acontecia com os sem família. Hoje já não é assim. A sociedade transformou-se, nem sempre para melhor. A certa altura a família engrossou nos ramos mas o caule vai cedendo ao peso dos anos e das circunstâncias. Por isso, e cada vez mais, estas instituições têm-se vindo a transformar no último poiso, até nos habituarmos à ideia que o nosso fim anda por ali, não muito longe dali.
A Casa dos Pobres de Coimbra é isso tudo e mais alguma coisa. Não é apenas, e talvez nem sobretudo, um Lar. É mesmo uma Casa especialmente pensada para os Pobres, ou os mais pobres. Os que não têm outra alternativa, por falta de espaços ou condições. Por isso lhe dispensamos, à Casa dos Pobres de Coimbra, tanto carinho, com muita pena de mais não podermos fazer. Gostava, gostávamos, que olhássemos para aquela estrutura e a víssemos como um hino à solidariedade, como um dos exemplos maiores como escola de uma dignidade infinita que leva os utentes a aceitar a finitude da vida e motiva uma mão cheia de responsáveis que, em troca de coisa nenhuma, ali cumpriram e vão cumprindo o sentido maior da vida que é o amparo e o carinho a quem mais mundo não tem.
Obrigado, obrigado grande, a todos os amigos a quem pedimos que connosco colaborassem nesta campanha de sensibilização que agora termina. Foram dezenas de textos, foram nove meses seguidos. Onde não chegam os abraços de amizade, vai um peito a transbordar de gratidão. Obrigado. Por mim, por nós, e por eles.