Por Nuno Filipe
Atualmente a Casa dos Pobres é uma Instituição de Solidariedade Social – IPSS com os mesmos direitos e deveres de qualquer outra. Presta relevantes serviços à cidade e ao concelho de Coimbra, especialmente aos mais fragilizados e tantas vezes afastados de quem tinha obrigação de estar mais próximo e solidário.
Se não estou em erro, a Casa dos Pobres fez em maio deste ano de 2018, 84 anos. Nasceu, curiosamente, num local de má memória, ou seja, no edifício do Pátio da Inquisição.
Criada, portanto, em pleno Estado Novo, em que os direitos de cidadania não figuravam na Constituição de então e a solidariedade dependia dos sentimentos de caridade e fraternidade de alguns, mas em que o Estado não garantia a dignidade humana.
Neste contexto ela nasce desses sentimentos de caridade. Mas mesmo depois do 25 de Abril as dificuldades foram muitas e a sua existência atribulada não dignificava nem a cidade nem os seus utentes e andou em bolandas durante muitos anos, mudando de local três ou quatro vezes.
Corria o ano de 1996, quando o autor deste apontamento tomou posse como Presidente do então Conselho Diretivo do Centro Regional de Segurança Social do Centro.
Em reunião, cuja data não me ocorre, com dois responsáveis da Casa dos Pobres, Sr. Aníbal Duarte e Eng.º Augusto Correia, ficou assente que a Segurança Social se iria empenhar para conseguir instalações condignas para a Instituição. Nessa reunião tornou-se óbvio que estavam em falta o terreno e o dinheiro para a construção do edifício.
Fizeram-se as diligências que se impunham e, vencidos os crónicos obstáculos de burocracia, conseguiram-se duas coisas importantes: Terreno cedido pela Segurança Social na Quinta dos Cedros, junto ao Hospital dos Covões e de imediato um subsídio de, salvo erro, 60 mil contos. Foi uma decisão importante para a Direção da Casa dos Pobres, no sentido de começar um processo, que se veio a revelar demasiado longo, tanto na construção como na regularização do seu funcionamento.
Já não era responsável da Segurança Social há anos aquando da sua inauguração que veio a ocorrer ou em 2007 ou 2008 e para a qual fui convidado. Presumo que o financiamento da Segurança Social se terá cifrados próximo dos 700 mil euros.
Cabe aqui salientar a dedicação e grande sentido de solidariedade de Aníbal Duarte de Almeida e Engenheiro Augusto Correia, dois amigos com quem convivi e que infelizmente já não se encontram entre nós. Obviamente que muitos outros nomes deveriam aqui ser lembrados mas estes dois tiveram um papel muito importante na concretização da obra.
Sabemos através de pessoa que muito consideramos, o amigo Lino Vinhal, que em termos financeiros e de outras carências a Casa dos Pobres atravessa tempos difíceis.
Como é sabido, e bem, o funcionamento destas Instituições é tutelado pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social, a quem cabe através dos seus Serviços financiar e apoiar as IPSS de acordo com regras conhecidas.
Acontece, porém, que muitas vezes o financiamento do Estado a somar ao das famílias de acordo com os seus recursos, não é suficiente e, por vezes, as IPSS vivem situações que refletem a falta de recursos para desempenharem cabalmente as suas importantes funções.
Frequentemente, as suas carências são colmatadas com a generosidade da comunidade e de muitos que podem e sentem obrigação de ajudar.
E a Casa dos Pobres, em Coimbra, merece todo o apoio, daí este apontamento, que serve também de apelo a todos aqueles que possam contribuir.
Um abraço fraterno para quem trabalha e ajuda ou possa vir a ajudar a Casa dos Pobres em Coimbra.