Por Jaime Ramos
Aprendi a admirar a Casa dos Pobres de Coimbra, no Pátio da Inquisição, quando era dirigida pelos Senhores eng. Augusto Correia e Aníbal Duarte de Almeida, pessoas que recordo com saudade.
Continuei a ter apreço pelo trabalho da Casa dos Pobres quando fui convidado para participar nos almoços dos “Românticos” na Praça do Comércio.
Recordo ter assistido ao desenvolver do sonho de construir instalações próprias em S. Martinho do Bispo.
Num mundo polarizado entre aqueles que acham que tudo tem de ser do Estado – da educação à saúde – ou aqueles que consideram que tudo tem de ser negócio privado e fonte de lucro, surgem as organizações particulares, sem fins lucrativos, como são as instituições de solidariedade social, IPSS. São estas, como muitas outras organizações do terceiro setor, que mantêm a utopia de uma sociedade mais justa, menos desigual, assente na capacidade das pessoas criarem soluções para os problemas das suas comunidades.
São homens e mulheres, pessoas voluntariosas, que perante as dificuldades sociais, nomeadamente criadas pela pobreza, pela doença ou pela idade, decidem dar as mãos e criar em conjunto soluções dignas para quem precisa de apoio.
O capitalismo puro e duro não distribuirá comida pelas pessoas sem abrigo, não cuidará dos mais vulneráveis ou tratará da doença dos mais necessitados se essas atividades não forem transformadas em negócios lucrativos.
O Estado, prisioneiro das suas burocracias e ineficiências, do seu centralismo lisboeta, tem dificuldade em responder atempadamente, de forma eficaz, às necessidades das pessoas. A proximidade das IPSS aos problemas sociais garante que podem ter uma mais exata perceção da realidade do que estruturas do Estado, centralizadas a nível distrital, regional ou em Lisboa.
As IPSS, como a Casa dos Pobres, nascem de iniciativas locais para resolver problemas concretos, sendo manifestações da liberdade da sociedade civil.
Por esta razão os regimes centralistas e autocráticos, que não gostam de iniciativas livres de cidadãos, dificultam ou proíbem o nascimento de entidades da economia social e solidária.
Mesmo em Portugal assistimos a atuação de serviços do Estado, nomeadamente na saúde e na segurança social, que, em vez de cooperarem ativamente com as IPSS, atuam de forma desconfiada e persecutória dificultando a ação das instituições. Em certos setores há uma visão estatizante dos serviços públicos que não entende as virtualidades do terceiro setor, seja no desporto, na cultura ou educação, na saúde ou na assistência social.
Espero que este clima não prejudique os projetos da Casa dos Pobres que pretende alargar e melhorar a sua capacidade de resposta. As IPSS merecem ser apoiadas pelos poderes, sejam locais ou nacionais.
Coimbra, e os seus idosos, merecem uma Casa dos Pobres dinâmica, com capacidade de intervenção.