Por Jorge Conde
A vida em democracia tem um conjunto de princípios e valores que nos devem fazer refletir e atuar diariamente no respeito por todos eles. Quando falamos de democracia, associamo-la facilmente à palavra liberdade. Mas democracia é também solidariedade e fraternidade, porque sem elas não somos verdadeiramente livres. Como podemos ser gente de pensamento livre, se não nos preocuparmos com uma sociedade justa?
Sabemos todos que a sociedade não é igualmente justa para todos, não concedendo a todos o mesmo ponto de partida, nem as mesmas oportunidades. Alguns, nascem em ambientes social e economicamente desfavorecidos, não conseguindo atingir patamares de estabilidade que lhes garantam uma vida independente economicamente, onde possam usufruir de trabalho digno e de vida pessoal e familiar consistente. Outros, pelas opções que tomam, ou pelos percalços da vida, perdem num determinado momento essa estabilidade e são empurrados para lá dos limiares da pobreza, não conseguindo manter condições de vida digna. Todos estes, acabam normalmente em patamares de insustentabilidade pessoal, de pobreza económica, ou de carência social e psicológica. Quando alguém chega a estes patamares, importa pouco a forma como lá chegou e importa mais, o facto de sozinho não conseguir de lá sair.
É nestas alturas que a nossa solidariedade deve dizer presente, seja em ações individuais ou através das muitas organizações que, no terreno, canalizam todos os dias o seu trabalho para ajudar os que mais precisam. Hoje, felizmente, são muitas as organizações que no terreno, de forma mais ou menos organizada, prestam apoio e solidariedade aos que mais precisam. Apoio nas necessidades básicas, como a alimentação, como proporcionar condições de higiene, ou como oferecer um lugar para dormir. Numa versão menos grave, ou para os menos necessitados economicamente, proporcionam o apoio que muitas vezes a família não pode (ou não quer) dar, garantindo uma vida digna, um envelhecimento ativo e um dia-a-dia, onde socialmente as pessoas possam sentir que são parte de uma sociedade justa. É a solidariedade, o bem maior das mulheres e dos homens bons que, previne e evita a caridade e proporciona aos que dela precisam, um acesso a condições dignas e a uma vida melhor.
A Casa dos Pobres de Coimbra é uma IPSS, que há quase 100 anos, se dedica a ajudar os mais necessitados. Vivendo da solidariedade, do voluntarismo e da receita dos que dela necessitando, podem contribuir, a verdade é que não chega, para fazer face a tão nobre e grande missão. A Casa dos Pobres de Coimbra tem conseguido, com a ajuda e vontade de alguns dos que a ela se têm dedicado, realizar um trabalho meritório no apoio aos mais necessitados e aos que dela precisam, trabalhando para tornar a sociedade mais justa. A matriz social desta instituição leva-a a apoiar todos e não apenas aqueles que podem contribuir, dando “abrigo” aos que não tendo outra alternativa, a ela recorrem.
Como muitas das IPSS, que se dedicam a apoiar os mais desfavorecidos, a Casa dos Pobre de Coimbra vê-se muitas vezes na situação de insuficiência: seja ela de espaço, económica ou outra.
A sociedade e nomeadamente aqueles que foram mais bafejados pela sorte de terem nascido em berço “suficiente”, ou conseguiram agarrar as oportunidades que a vida proporciona, devem obrigar-se a esse movimento solidário de ajudar as organizações que fazem solidariedade, que fazem acontecer dignidade humana, todos os dias.
Vale pois a pena pensar nisto, vale pois a pena pensar em sermos solidários com a Casa dos Pobres de Coimbra que se revela já demasiado pequena para a missão que gostaria de abraçar.