Mais respostas a nível de equipamentos sociais e uma melhor rede de transportes são as principais carências sentidas na União de Freguesias de Antuzede e Vil de Matos. O presidente, Diamantino Jorge, enaltece as vantagens de ter uma freguesia “às portas da cidade” mas assume que “há ainda muito a faltar” nas várias localidades, apelando, por isso, à Câmara de Coimbra para que “olhe mais para as freguesias rurais”.
“Lamentavelmente há ainda muita coisa que nos faz falta nas várias localidades que compõem a nossa União de Freguesias (UF)”. As palavras são de Diamantino Jorge que preside a esta freguesia e se orgulha de, “para o bem e para o mal”, conhecer bem a sua realidade e necessidades.
“A grande vantagem de um presidente de Junta de uma freguesia rural é que conhece todos os seus moradores pelo nome e conhece bem cada agregado familiar. A nossa prioridade passa sempre por estarmos atentos e procurar garantir-lhes, dentro das nossas próprias limitações, qualidade de vida”, assegura.
Com uma população bastante envelhecida, as respostas na área social acabam por ser consideradas as “mais urgentes”. A Junta dinamiza um Centro Cívico, na Póvoa do Pinheiro, onde assegura um centro de dia para os idosos e também o serviço de Atividades de Tempos Livres (ATL) para a infância.
“A Junta está a tentar colmatar as carências existentes mas a verdade é que faz-nos falta uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que assumisse esta função de assegurar o necessário funcionamento do centro de dia e o acompanhamento aos nossos idosos”, explica.
Neste momento, a responsabilidade pelo Centro Cívico é inteiramente da UF, bem como as despesas associadas à sua manutenção. De acordo com Diamantino Jorge, “está a ser feito um trabalho muito bom em prol da comunidade”, com este equipamento a responder atualmente (num contexto normal e sem as necessárias medidas de contenção impostas em termos de saúde pública pela pandemia da Covid-19) a 12 idosos em regime permanente e a 33 crianças no ATL, aguardando em lista de espera mais 15, uma vez que, como explica o presidente, “o espaço não tem capacidade para mais”.
Este Centro Cívico está a funcionar, desde 2005, na antiga escola primária da Póvoa do Pinheiro, um edifício que foi requalificado e adaptado para poder receber estas valências. Começa, contudo, como frisa, “a ser pequeno para as necessidades”, daí o apelo para que alguma instituição possa assumir esta responsabilidade e responder condignamente às necessidades sentidas pela população.
“Foi um projeto que abraçámos com muito carinho, para fazer face às carências da freguesia. Estou muito grato por tê-lo começado mas a verdade é que dentro de algum tempo alguém tem que pegar nele de uma forma mais profissional e tirar rentabilidade dele”, realça, reforçando que este equipamento é “inteiramente da responsabilidade” da UF, não contando, por isso, com qualquer apoio por parte da Câmara de Coimbra ou da Segurança Social.
“Encaramo-lo como um projeto social mas a verdade é que só nos dá despesa, não temos qualquer tipo de receita que nos permita alavancar outro tipo de investimentos para o local”, frisa. Para garantir o seu funcionamento, a Junta estabeleceu parcerias com duas IPSS’s vizinhas, que asseguram o fornecimento de refeições e os transportes, mas que são pagas por esses serviços. Há uma comparticipação financeira por parte dos idosos e por cada criança mas, segundo Diamantino Jorge, o “valor é tão reduzido que nem dá sequer para o pagamento das refeições”.
“Essa é uma das grandes carências da nossa freguesia porque temos de cuidar dos nossos idosos e das nossas crianças. Temos uma faixa etária muito envelhecida e, no âmbito da nossa política de proximidade, temos que dar uma atenção muito especial aos nossos velhinhos, que merecem o nosso carinho e atenção porque estão longe do centro da cidade, têm alguns problemas de saúde e merecem ter todos os recursos que as outras pessoas têm, nomeadamente a nível dos cuidados de saúde, dos cuidados paliativos e da ocupação do seu tempo de forma segura e saudável”, sublinha.
Crescimento depende de mais transportes
Tal como sucede noutras freguesias do concelho de Coimbra, também na UF de Antuzede e Vil de Matos o crescimento depende de mais e melhores transportes públicos. Diamantino Jorge considera que o alargamento da rede, com mais horários e maior cobertura, são determinantes para garantir que “os cinco minutos” que separam a freguesia do centro de Coimbra não se transformem “em horas ou dias”. Isto porque, como explica, há alturas, nomeadamente aos fins de semana, em que “não há qualquer carreira” que permita que um habitante possa ir visitar um familiar ao hospital ou mesmo para fins sociais ou culturais, como um encontro de amigos ou uma ida ao cinema.
O presidente alerta, contudo, que a freguesia conta com realidades distintas nestas matérias, uma vez que parte está coberta pela rede dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), como sucede por exemplo na zona de Vil de Matos, Rios Frios, Santana e Mourelos; enquanto outra parte, nomeadamente a “antiga freguesia de Antuzede, está coberta pela Transdev”.
“Não há aqui um equilíbrio porque os passes sociais da Transdev são mais caros do que os SMTUC, não dão direito a tanta mobilidade dentro da cidade e ao fim de semana é terrível porque, apesar de estarmos a cinco quilómetros da cidade, não temos transportes. Isso bloqueia muito o desenvolvimento de qualquer freguesia”, explica.
Diamantino Jorge adianta que tem reunido várias vezes com os serviços camarários, a quem já apresentou “um projeto para ligar a freguesia em termos de transportes públicos”. Sublinha que não é “obcecado por ter os SMUTC na freguesia” mas não desiste de lutar por “uma rede de transportes públicos que se coadune com as necessidades da população”.
Sobre a introdução de mais carreiras dos SMTUC na UF, assume que há dificuldades que se prendem com os contratos de conceção e que têm que ser resolvidos. Espera também que, “com a entrada do Metro Mondego em Coimbra, os SMTUC possam fazer outra abrangência para fora da cidade, aproveitando esses recursos mais nas freguesias”.
Diamantino Jorge destaca, a título de exemplo, o caso da Póvoa do Pinheiro, que dista cerca de quilómetro e meio da Estrada Nacional 111. “As pessoas têm que vir de suas casas a pé para apanhar o transporte público, incluindo as crianças que vão para as escolas, à chuva, ao frio e, muitas vezes, de noite. É urgente que se combatam essas situações, que criam desequilibro e desinvestimento por parte de quem quer vir para cá”, alerta.
Freguesia tem crescido
Mesmo com as lacunas que importa resolver, a freguesia tem vindo a crescer. Segundo os últimos censos contava com cerca de 2.800 eleitores mas, de acordo com Diamantino Jorge, esses números não correspondem efetivamente aos moradores, lamentando que “muitos dos residentes não estejam recenseados na freguesia, o que a penaliza muito porque apenas recebe com base nesses dados”.
Apesar de ter muita população idosa, tendo assistido em tempos à saída de muitos jovens que foram procurar emprego noutras zonas do país e mesmo no estrangeiro, a UF tem registado um crescimento a nível população e da própria construção. Poderia ser ainda melhor, assegura, “se os processos fossem aligeirados na Câmara de Coimbra”, o que permitiria “mais habitação e, consequentemente, mais oferta”.
“Há por onde construir e acho que há necessidade de construção nova. Recebo muitas vezes pessoas que me procuram porque queriam alugar uma casa e não têm. Portanto, se há essa procura e não há resposta é porque há ali um défice de habitação”, explica. Lembra, no entanto, que neste setor não se deve falar apenas em novas edificações mas também em reconstruções das habitações existentes e que se encontram degradadas.
Para quem quer apostar em novas habitações, assegura que existem “muitos terrenos urbanos disponíveis” e congratula-se por ver a freguesia a crescer nesta área, com “novas construções a nasceram em novos locais”.
Qualidade de vida às “portas” da cidade
Esse crescimento deve-se muito à qualidade de vida que a UF oferece, bem como à sua localização estratégica, situando-se mesmo às “portas” da cidade. “Pessoas que há uns anos procuravam os concelhos vizinhos, como Mirando do Corvo e Lousã, estão a fixar-se mais por cá. A verdade é que estamos muito perto de Coimbra, são apenas cinco quilómetros, estamos bem situados e temos boas caraterísticas em termos de freguesia e de população. Faltam-nos esses pequenos pormenores – transportes, equipamentos sociais e mais habitação – mas é neles que estamos a trabalhar”, frisa.
Diamantino Jorge lamenta, contudo, que, apesar desta proximidade, por vezes a distância pareça imensa. “Costumo dizer que, quando o sol está a nascer, a torre da Universidade bate-nos ali no campo do Bolão. Mas, noutros casos, parece-nos a uma distância enorme e isso irá continuar até que tenhamos uma mobilidade superior, com mais transportes públicos, que nos permitam, de facto, assegurar essa proximidade em qualquer altura”, acrescenta.
De qualquer forma, não há dúvida que a proximidade com Coimbra faz desta “uma freguesia privilegiada” porque, para além de estar próxima de um importante conjunto de valências, está também muito perto de “uma cidade muito agradável, onde nada falta”. A juntar a isso, a própria freguesia orgulha-se da sua “paisagem muito boa, da sua ruralidade e do ambiente familiar” que ali se vive.
Freguesia muito solidária
Essa ruralidade e o facto de muitos dos seus habitantes continuarem a cultivar o campo ou a sua horta é também um fator positivo. Para Diamantino Jorge, esta é uma UF “muito solidária, onde as pessoas se entreajudam e estão atentos às necessidades dos seus vizinhos”. É, no fundo, uma freguesia onde facilmente “se troca uma couve por umas cebolas” e onde a “economia familiar” resulta de “um espírito solidário forte e saudável”.
Obviamente que há situações de pobreza também nesta freguesia mas, segundo o presidente, “nada de casos de pobreza extrema”, fruto também dessa união e entreajuda das pessoas e da relação de proximidade que há com o executivo, o que lhe permite conhecer bem as necessidades dos vários agregados familiares. “Estamos muito atentos. Muitas vezes as pessoas não vêm ter connosco, somos nós que vamos ao seu encontro. Há ainda muita pobreza envergonhada, compreendemos que as pessoas têm dificuldade em vir falar connosco para resolver os seus assuntos mas nós procuramos ajudar”, explica.
Esta ajuda é mais em termos de pagamento de rendas de casa, medicamentos, faturas de água e luz e mesmo de próteses ou tratamentos de saúde urgentes, como os oncológicos. No fundo, situações pontuais que exigem uma resposta rápida.
A nível alimentar não há grandes problemas já que, como realça, “há essa partilha” e as pessoas têm a sua horta e os seus animais domésticos. “Todos cultivamos um bocadinho a terra e se sabemos que alguém precisa a primeira coisa que fazemos é dar. À fome ninguém morre e ao frio também não”, explica, realçando também o importante trabalho que é feito pela Comissão Social de Freguesia e os apoios que vão sendo dados ao longo de todo o ano, sublinhando que “as pessoas não precisam só de apoio no Natal”.
“Há pobreza mas não há uma pobreza extrema. Não se compara com casos que se vivem noutros locais. Isto acontece também porque nos conhecemos todos e se alguém não abre a porta um ou dois dias as pessoas estranham e preocupam-se. Cuidados uns dos outros. Há um vínculo entre as pessoas nestas freguesias mais pequenas”, sublinha.
Qualidade de vida começa ao pé da porta
Apesar das carências sentidas, esta é uma UF com “muita qualidade de vida, a começar desde logo pela alimentação, com a maioria dos legumes a serem produzidos cá, e também pelo bom ambiente”. Diamantino Jorge destaca o facto de não existir na freguesia “indústria poluente” e enaltece os serviços que tem disponíveis, nomeadamente a nível do ensino e da saúde.
Dá também conta de que há muitas obras por realizar, que visam precisamente contribuir para a melhoria da qualidade de vida, como a construção de passeios e a requalificação de várias ruas. Lamenta que as juntas tenham “muitas dificuldades em executar qualquer obra, aguardando muito tempo pelos projetos da Câmara”.
“Temos obras ainda de 2019 por realizar. Isto era impensável há uns anos atrás, porque tinham que ser concretizadas no ano em curso”, conta, esclarecendo que ainda estão por fazer porque “não há projetos”. Desse rol de obras previstas consta, segundo o autarca, “a construção de passeios em várias localidades, pavimentação de algumas ruas, remodelação com vista à ampliação do Centro Cívico, apoio às coletividades, construção de espaços verdes e de lazer, nomeadamente a construção de dois parques infantis”.
Diamantino Jorge explica que a UF tem 13 localidades e que “é difícil corresponder e fazer obras em todas elas, todos os anos”, daí a importância de “ir diversificando a ação”. Apesar de já existirem alguns na freguesia, considera que “é fundamental criar novos parques de lazer”, estando dois em projeto, e também criar “mais espaços verdes”, já que a qualidade de vida não depende somente de “alcatrão e cimento”.
Para já, o executivo vai remodelar o parque verde junto à churrasqueira da Cidreira, uma das obras que “estava atrasada”, também porque dependia da autorização da Infraestruturas de Portugal”. O autarca explica que a intenção é “melhorar essa zona porque temos ali um polo de interesse económico muito bom mas, para poder dinamizá-lo, é preciso dotar aquela zona com mais equipamentos para atrair mais pessoas e para impulsionar a economia local que é fundamental para crescermos”.
“São tudo obras que apostam na qualidade de vida, na mobilidade e na segurança das pessoas. São elas a nossa grande prioridade e é a pensar nelas que continuaremos sempre a trabalhar”, assegura.
Câmara deve olhar mais para as freguesias rurais
O presidente da União de Freguesias de Antuzede e Vil de Matos faz um apelo à Câmara Municipal de Coimbra para que “olhe mais para as freguesias rurais”, especialmente para a sua. “Tem-se feito muita coisa mas tem-se feito muito mais no cento da cidade. Coimbra não é só ‘Coimbra cidade’, é o concelho na sua totalidade, com todas as suas freguesias e não há como esconder que os desequilíbrios são grandes”, explica.
Diamantino Jorge lamenta que exista “um fosso cada vez maior entre as freguesias rurais e as freguesias mais urbanas”. Lembra que os problemas são diferentes, sobretudo no que “toca às questões da limpeza de erva e mato, que estão sempre a crescer nas valetas, o que obriga a um trabalho intensivo diário”. Em caso de intempéries, as situações são também diferentes, com “as freguesias rurais a terem muitos quilómetros de via e a não terem passeios e valetas”.
O presidente alerta, ainda, para a ausência de equipamentos importantes, como “instalações desportivas condignas, piscinas e outras infraestruturas que existem no centro da cidade”. Assume que, face à dimensão da “sua” freguesia, também não precisava de ter tudo mas há obras das quais não abdica, como “melhores arruamentos, construção de passeios e maior apoio às coletividades.
“A Câmara de Coimbra tem que olhar mais para as nossas freguesias rurais. Tem-se feito alguma coisa mas ainda peca por deficitária”, alerta.