Este bem poderia ser o slogan da empresa e assentaria na perfeição àquela que é uma das mais antigas e históricas casas de comércio da Baixa. A ‘Tricots Brancal’ de Coimbra completou, no último mês de abril, 42 anos. A convição de quem a vive, diariamente, é que muitos mais celebrará, desde que o frio continue a dar um ar da sua graça, pelo menos na época que lhe é devida.
Em 1958 nascia, na Covilhã, a fábrica da empresa Manuel Brancal & Companhia, Lda, vulgarmente conhecida como Tricots Brancal. E como por detrás de uma grande empresa há sempre uma mente brilhante, esta não foge à regra. Manuel Brancal, hoje com 90 anos, é o homem que fez do mundo das lãs a sua própria vida e a dos muitos funcionários que hoje emprega. Pensando bem, há sítios que parecem existir para ser o berço de projetos como este. Senão, analisemos. Quando se fala na Covilhã sabemos que se trata de uma sub-região das Beiras e Serra da Estrela. E quando se fala nesta cadeia montanhosa onde se encontram as maiores altitudes de Portugal, além de neve, qual a outra porta de entrada? A lã, claro!
O negócio vai
“de vento em popa”
Depois das cidades de Lisboa e Porto foi a vez de, em 1977, Coimbra acolher no coração do centro histórico da cidade, mais uma loja Brancal. Por lá ficou e se fixou na Rua Visconde da Luz e é lá que permanece até aos dias de hoje. Mesmo para quem não conhece o seu interior, é fácil a perceção de aconchego das lãs e da história que encerram, o que transparece através da frente envidraçada da loja. A qualidade do produto, o atendimento sempre pronto e atencioso e a simpatia são as linhas condutoras que permitiram atingir mais de quatro décadas de existência. É, aliás, a única loja “só de lãs” que existe em Coimbra. Esta foi a terceira a ser criada mas, atualmente, já existem 26 no país.
Maria da Natividade Oliveira começou a trabalhar na loja de Coimbra tinha 17 anos. Terminou os estudos e, num dos seus passeios na Baixa, deparou-se com uma fila de pessoas para se candidatarem a uma vaga de emprego. Decidiu entrar, foi a escolhida e abriu, assim, a loja juntamente com um casal da Covilhã. “Adoro o que faço, sempre adorei. No início foi um pouco difícil porque, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é só tirar lã do buraco, meter num saco e vendê-la. Temos de explicar que quantidade e tipo de malha leva, se é para criança leva uma quantidade, se é para adulto temos de saber quanta lã é precisa. Além disso, cada lã tem o seu tipo de agulha. Às vezes vêm cá e trazem um fiozinho de lã na mão e dizem “Oh Natividade foi isto que sobrou da lã que me vendeste! e eu fico mesmo orgulhosa. Porque dei a quantidade certa. São muitos anos disto!”
Estiveram 26 anos a trabalhar juntos até que, com a saída do casal, Maria da Natividade assumiu o cargo de gerente. Foi nessa altura que contrataram outra funcionária: “ali a Paula, que já cá está há doze anos é o meu braço direito e esquerdo”. Admite que este acaba por ser um mercado sazonal, com alguns altos e baixos e sublinha que foi das poucas lojas a sobreviver à crise. “Noto diferença na afluência das pessoas mas isso não é das lãs, é do comércio em geral. As pessoas não têm estacionamento, andam à chuva…muitas perguntam porquê que a loja não está num dos centros comerciais da cidade. Mas, mesmo assim, felizmente, o negócio vai «de vento em popa», diz Maria da Natividade. Até porque as lãs voltaram a estar na moda. O segredo? As temperaturas próprias do país e, particularmente, da cidade. “O tricô vai estando sempre na moda e este ano está ainda mais. Passamos nas lojas e as montras estão repletas de peças de lã e é isso que nós queremos. O frio tem é de vir a sério porque é nessa altura que começamos, realmente, a trabalhar. Ainda na semana passada houve um dia que esteve mais frio e nós, que normalmente de tarde abrimos às 15H, tivemos de abrir antes porque já tínhamos várias pessoas para atender. E foi assim até ao final do dia”. Mas nem só de vendas vive a Tricots Brancal de Coimbra. Todos os anos promovem workshops, realizados aos sábados de manhã, com uma formadora já habitual que, nos meses de inverno, ensina a arte do tricô e do crochet. “A única coisa que peço é que as lãs que trazem para aprender sejam daqui. E são porque eu conheço-as como à palma da mão! Há até uma senhora que veio em Setembro ao primeiro workshop deste ano e continua a vir porque vai ser avó e anda a fazer as roupas para o netinho. Costumo chamar-lhe a resistente”, brinca.
“Os bebés são os melhores clientes”
“Há sempre uma mãe, uma tia, uma avó ou uma madrinha que quer oferecer aquele miminho feito por elas próprias em pura lã. Pode até nem ficar perfeito mas o sentimento está lá. Além disso há maternidades que, na lista que dão às mães, pedem mesmo que as peças sejam em lã pura, anti-alérgica. As nossas lãs são assim, de boa qualidade. Todos os dias vendemos enxovais para bebés. Por isso eu costumo dizer que os bebés são os nossos melhores clientes”, conclui a gerente da loja.
A verdade é que, nas bancadas da loja, como se de adereços de enfeite se tratassem, veem-se gorros, casacos e botinhas… tudo em tamanho miniatura. Depois das roupas de bebé, vendem-se muito os cachecóis e os ponchos. As lãs existem ao novelo ou à meada mas, hoje em dia, as pessoas preferem comprar ao novelo. As peças de vestuário expostas estão na loja a pedido de quem as faz. São expostas as melhores “porque é mais fácil os clientes verem como fica e o que querem com a lã já trabalhada”. Além disso, a Tricots Brancal ainda preserva, religiosamente, uma profissão quase em extinção. O trabalho de duas senhoras que ainda sabem a arte de trabalhar a lã à máquina. Uma delas tem 82 anos. Fez as roupas em lã para os filhos de Maria da Natividade e agora está a fazer para os netos. E as perspetivas de futuro são boas. “Há sempre bebés a nascer e, cada vez mais, os grandes estilistas utilizam este material. Desejo apenas que os clientes continuem a vir que nós cá estaremos para os receber de braços abertos”.
Curiosidades
A marca Tricots Brancal, chega a todo país através das lojas que tem em Lisboa, Almada, Oeiras, Setúbal, Barreiro, Cascais, Aveiro, Braga, Barcelos, Guimarães, Vila Nova de Famalicão, Coimbra, Leiria, Porto, Matosinhos, Santo Tirso, Vila Real, Viseu, Gaia
A família Manuel Brancal, da Covilhã, que tem uma fábrica têxtil de lanifícios e uma rede de lojas de fios para tricotar (Tricots Brancal), decidiu apostar no imobiliário e no turismo nos anos 90. Começou por investir num country club, o Clube de Campo da Covilhã, seguindo-se o Covilhã Parque Hotel, na altura uma residencial, o Hotel de Turismo da Covilhã, o Hotel Vanguarda e Hotel Lusitânia na Guarda, e o H2otel, hotel de montanha construído de raiz, com área termal integrada, tendo a concessão das Termas de Unhais da Serra. O Hotel Turismo da Covilhã passou a designar-se, em 2017, Puralã-Wool Valley Hotel & Spa, também ele fazendo dessa forma menção ao produto de eleição dos negócios do seu proprietário, Manuel Brancal: a lã.
Na Tricots Brancal encontra fios de lã e de tricotar anti-alérgicos e anti-traça de alta qualidade. Fios de tricot, crochet, arraiolos, fios para bordar e coser além de todo tipo de agulhas para tricot, malhas e lãs.
Legendas
Loja ‘Tricots Brancal’ na Rua Visconde da Luz , em Coimbra
Interior da loja ‘Tricots Brancal’ de Coimbra