29 de Novembro de 2023 | Coimbra
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ANTÓNIO INÁCIO NOGUEIRA

Testemunhos: Um Prólogo à Guerra

11 de Fevereiro 2022

Estava contra a Guerra Colonial, mas ela venceu-me e, por isso, marcou-me compulsivamente.

Obrigou-me a partir e a compartilhar com ela, durante anos, os seus desassossegos.

Cheguei e fiz com ela um concubinato sórdido. Queria tocá-la primeiro, derrotá-la depois.

Fui contra, mas estive por dentro.

Depois jurei, que “à chegada vínhamos todos”, mas não viemos.

Faltaram alguns. Ficaram perdidos debaixo da metralha, com o sangue a escorrer das entranhas.

E é por eles, que ainda ouço o costurar das metralhadoras e os estrondos dos morteiros. É um silvo penetrante que vem ao meu encontro e depois explode. Isso vem de muito longe, de há mais de quarenta anos, é o som da memória do tempo e da consciência da história.

A espécie de clausura a céu aberto em que vivi, milhares de dias, transformou-me noutro homem: escuto muito, falo pouco, rio-me poucas vezes.

Não sei porquê!…

Brinca-se com a guerra, em todo o mundo, como se ela fosse feita com soldadinhos de chumbo.

Ó homem, pobre homem!

Vejam-no passeando pela Ucrânia, ufano por dentro dos seus camuflados. Por enquanto mostram os brinquedos com que se faz a guerra. E depois, o que vem aí, o que mostram mais? …

Os discursos dos «papagaios» que enxameiam as nossas televisões, e nada dizem, porque pouco sabem,

Homem maldito.


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