António Mega Ferreira, no seu livro Inventário Pessoal da Língua da Vida e da Memória, faz-me relembrar palavras que caem em desuso mesmo quando as realidades que nomeiam se mantém presentes.
Lembro-me de trampolineiro, a condizer com trampa, ardil, embuste, engano, larápio. Era palavra muito ouvida na terra onde viviam os meus avós. Ouvi muitas vezes o meu avô, que exercia as profissões de ferreiro e agricultor, afirmar: «Não, Não, com esse não faço negócio, é um trampolineiro».
Mas, afinal, o que é um trampolineiro. De acordo com o que se lê no citado livro de Mega Ferreira, é aquele que faz trampolinices, que comete dolo, fraudes, velhaco, trapaceiro. Também era aplicado a um misto de fala-barato e de farsante, capaz de enganar toda a gente, embora sem intuitos venais.
Optando por uma ou por outra versão, não seria desajustado recuperar a palavra para os dias de hoje, e repeti~la continuamente.
Em nosso redor enxameiam, na actualidade, alguns grupos de trampolineiros, que se espraiam desde o cidadão comum, a autarcas, membros do governo, altos funcionários do sector público ou privado, comentadores, jornalistas e órgãos de comunicação social.
Alguns são trampolineiros nas duas versões apresentadas Outros só numa delas. Mas são sempre trampolineiros.
Hoje usam-se outras palavras, caras, disfarçadoras da trampolinice. É só estar atento aos tribunais e às suas sentenças. Não facilitaria a burocracia dos processos, para além de ser mais sonante, dizer-se: «por trampolinices ficou em prisão preventiva o trampolineiro…»
É então preciso recuperar a palavra. Muito urgente. A actualidade assim o exige.
Vamos lá dizer, erguer a voz, bem alto, NÃO AOS TRAMPOLINEIROS, NÃO AOS TRAMPOLINEIROS, NÃO AOS TRAMPOLINEIROS.