Fui às Caldas da Rainha, cidade que aprecio, fundamentalmente, pela beleza e criatividade do seu património artístico, muito centrado na designada cerâmica caldense.
Para além do passeio, desloquei-me com o intuito de visitar o Museu da Cerâmica das Caldas da Rainha.
Após ultrapassar várias dificuldades, não esperadas, para o encontrar, – pela desajustada orientação minha, acrescida pelo desconhecimento de habitantes da própria cidade a quem pedia auxílio (!), – achei-o bem escuso nos belos jardins que o rodeiam, dizem, de valor patrimonial e paisagístico elevado. No interior de um palacete lá se quedava a exposição permanente que me interessava sobremaneira visitar.
De acordo com o conteúdo de apresentação, o acervo do museu integra diversas coleções representativas da produção das Caldas da Rainha dos séculos XVII e XVIII e núcleos da produção do século XIX e primeira metade do século XX.
Mereceu-me um olhar especial o fundo de obras da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, um agrupado de alto gabarito artístico daquele que foi o grande mestre da cerâmica caldense.
Este museu é representativo da intensa laboração da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, entre 1884 e 1905. Presenteia, também, a nossa curiosidade, um grupo de faianças da Real Fábrica do Rato, de olaria tradicional e de produção local de escultura e miniatura dos séculos XIX e XX. Destaco ainda, para meu gosto, uma coleção de 40 peças contemporâneas, ilustrativas de design e produção de cerâmica e vidro do século XX. Apreciei, – apesar de concluir da penúria do enquadramento expositivo das magníficas peças que mereciam pousar em lugares mais dignos.
Como não podia deixar de ser, não deixaria a terra sem visitar o Parque D. Carlos I, onde se situa o Museu de José Malhoa, abrigando as obras do pintor Naturalista.
Trata-se de um jardim para sonhadores que desposa o antigo hospital termal, erigido durante o reinado de D. João V. Não admira, pois, que outrora tivesse sido um local de passeio e restabelecimento de pacientes. Hoje, fruto de reconversões várias, apresenta-se com uma enorme beleza paisagística, onde sobressaem harmoniosas alamedas e um lago central artificial, onde nadam belos cisnes que nos olham altivos. Encontram-se, também, aí postadas sublimes estátuas de Leopoldo de Almeida e Soares dos Reis.
Toda esta beleza se transforma em pesadelo, quando das suas portas de entrada se lobriga, um edifício majestoso em ruínas. Nem mais nem menos que os míticos, dizem-me, pavilhões do primeiro Hospital Termal do Mundo, – fundado em 1484 por ordem da Rainha D. Leonor.
Sempre que tal acontece, o meu coração baqueia por expirar raiva. Por que motivo, pergunta-se, perece, por incúria, muito do património edificado do País carregado de história e memórias? Que País este e que políticos tais! Dizem-nos, – será que quero acreditar (!), – da abertura, em 2020, de um hotel de 5 estrelas, investimento de 2,5 milhões de euros, a fazer pelo município. Será?
Quando voltar, aqui, gostava que assim fosse. Se não for o caso, vou gritar para que soe por todo o jardim, por todo o lado. Vou bradar ao povo mole, à classe política incompetente e desleixada. Direi: o meu voto nunca será vosso, Queres fiado, Toma!