Ó Mar
I
Ó mar imenso como eu gosto de te olhar,
Assim proceloso, espumado, furibundo.
Ó mar, nunca deixei de te amar,
Ó mar sem fundo,
Ó mar azul, sem quietude, imenso,
Que dormes na areia quase suspenso.
Olho-te, extenso, e penso:
Como posso amar-te gigantesco,
Silencioso por vezes e outras barulhento,
Lento, sempre que beijas os brancos areais?
Suspiras, colhes a solidão, banhas as dunas e os canaviais,
Mas ainda forte, sempre audaz, em altivez suspenso.
II
Amo-te sempre que regressas, há sempre um vaivém,
Sempre para e mais além,
Rodopias, serpenteias, ondulas, uma a uma,
Em vagalhões rugindo, Ó grande mar!
Depois a tua fúria, saliva espuma
Sobre a praia onde se vem quebrar,
Beijando a areia com indiferença suma,
Para logo, sempre, insensivelmente, retirar.
Ó MAR do meu contentamento,
És belo, azul celeste, inconstante, demoníaco,
Dás-me com esse teu temperamento,
Porventura, um só momento, em que a paz é tudo,
O silencio é mudo,
Paradisíaco,
Quase mito.
A minha vida sereno ritual,
TAL QUAL!?
Ó MAR.
António Inácio Nogueira